Imperialismo
permanente subversão


Há meses, após a prisão de Pinochet pelas autoridades britânicas, o "Le Monde" (29/30 Novº 98) através do seu correspondente em Washington, Patrice de Beer, deu um precioso contributo para a confirmação do que a esclarecida opinião pública internacional tinha como certo - o envolvimento da CIA no derrube do regime democrático chileno. A crónica de P. de Beer, baseada na publicação de documentos dos Arquivos sobre segurança nacional da Universidade George-Washington , testemunha o que se sabe como "função" da "famosa" Agência - destabilizar e liquidar regimes e processos que não garantam os interesses das multinacionais e do imperialismo.

Os factos descritos no referido artigo são altamente comprometedores para os EUA. Nixon, aconselhado por Kissinger, deu "ordem de organizar um golpe de Estado" logo no dia posterior à eleição de Allende. Disponibilizou verbas e pediu celeridade. Esta decisão de Nixon foi recentemente confirmada em Londres ("Público", 8.12.98) por Edward Korry, que era então embaixador dos EUA em Santiago. Mas, seguindo o relato de P. de Beer, vemos que as orientações que o vice-director da CIA, Thomas Karamessines, fez chegar aos seus homens colocados em Santiago eram bem precisas :"política firme e persistente para destituir Allende" , através de "acções clandestinas para que a mão do governo dos EUA seja bem dissimulada" e sugeria como método "a propaganda e a desinformação". Sobre este aspecto, os documentos dos Arquivos da universidade não podiam ser mais claros - 23 jornalistas de 15 países foram deslocados para Santiago ! Eram "agentes nossos" (da CIA) ou doutros "serviços". A "informação" foi assim essencial para a "estratégia de destabilização" que visava impedir a construção dum sistema económico independente e o desenvolvimento social do Chile.

Na última semana milhares de documentos sobre a ditadura de Pinochet foram abertos ao público, nos EUA. Como é costume, houve selecção e partes cortadas. Provavelmente, o objectivo de tal medida é contrariar a imagem que, desde sempre, a administração dos EUA fez passar àcerca de Pinochet. Cumpridas que foram tarefas decisivas para o imperialismo - nomeadamente a liquidação do regime democrático e progressista, orientado para o socialismo, da Unidade Popular e a da "experiência pioneira" das orientações neoliberais no Chile, - Pinochet é hoje uma "peça" a deixar cair. Ou melhor, uma peça útil para fazer avançar "novos conceitos" sobre direito internacional, - "ingerência humanitária", extraterritorialidade de legislação norte-americana, etc. - essenciais ao prosseguimento dos objectivos de hegemonia mundial dos EUA.

Tudo isto tem também relação com o que se passou com a agressão à Jugoslávia. O recurso ao Tribunal Penal Internacional - recente criação do imperialismo, como mais um seu instrumento para a "nova ordem" - , que praticamente nada tem feito desde que criado e agora se revelou tão expedito ao "incriminar" Milosevic e outros dirigentes jugoslavos, além de pretender "legitimar" a posteriori a agressão da NATO é mais uma actuação, entre muitas outras, que visam instaurar um governo fantoche na Sérvia. Que, esse sim, assegurará os interesses dos EUA nos Balcãs. A "propaganda e desinformação", aqui e hoje, como no passado no Chile, são armas da permanente subversão do imperialismo contra aqueles que se lhe não querem submeter. — Manuela Bernardino


«Avante!» Nº 1336 - 8.Julho.1999