Carlos Carvalhas encabeça lista por Lisboa
A
apresentação dos candidatos da CDU pelo círculo eleitoral de
Lisboa aconteceu na terça-feira passada, no Hotel Sofitel.
É Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP que encabeça a
lista, seguido de Luís Sá, membro da Comissão Política.
Carlos Carvalhas,
economista de 56 anos, foi, após o 25 de Abril, Secretário de
Estado do Trabalho em cinco governos provisórios e
Vice-Presidente do Conselho Nacional do Plano.
Foi deputado do Parlamento Europeu e deputado no Conselho da
Europa, onde presidiu ao Grupo Comunista, e, ainda, candidato do
PCP à Presidência da República em 1990.
Para além de secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas é
actualmente deputado à Assembleia da República e membro do
Conselho de Estado.
Luís Sá, o segundo da lista por Lisboa, tem 47 anos, é
licenciado em Direito e doutorado em Ciências Sociais na
especialidade de Ciência Política.
Foi adjunto do Gabinete do ministro dos Transportes e
Comunicações no IV e V Governos Provisórios e do ministro das
Obras Públicas do VI Governo Provisório.
Entre 1977 e 1987 foi membro da Comissão Nacional de Eleições,
tendo sido eleito para o Parlamento Europeu em 1994.
Deputado à Assembleia da República e professor universitário,
é ainda director da Revista Poder Local desde 1979.
A lista da CDU por Lisboa integra, porém, outros nomes já
conhecidos de anteriores legislaturas, como o de Bernardino
Soares, Isabel Castro, António Filipe, Alexandrino Saldanha e
Jerónimo de Sousa ou, ainda, Demétrio Alves, ex-presidente da
Câmara Municipal de Loures.
Trata-se de uma lista de 55 nomes provenientes de diversa áreas
sócio-profissionais, onde as mulheres têm uma representação
de 36%.
Na apresentação pública da lista da CDU, para além da intervenção de Carlos Carvalhas (de que a seguir se transcrevem extractos) e de Paulo Sucena, mandatário da candidatura, presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e Secretário Geral da FENPROF, usou da palavra Isabel Castro.
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Carlos
Carvalhas em Lisboa
Votar
CDU é votar na esquerda que conta
"(...)
É necessário travar uma grande batalha de convencimento,
mostrando pela exemplificação da nossa prática nomeadamente,
na Assembleia da República, que os partidos não são todos
iguais, que a CDU honra o que promete e que se tivesse tido uma
maior representação parlamentar muito mais poderia ter
conseguido de positivo em domínios decisivos para a vida dos
pessoas.
Que está nas mãos dos eleitores distinguirem e premiarem
aqueles que mais se bateram pelo progresso e justiça; pela
verdade e transparência dos actos administrativos e públicos;
pela humanização da vida e da política.
Que não é pelo desinteresse e pela abstenção que se condena e
se muda a relação de forças mas pelo voto, pela intervenção
cívica, por se reforçar aqueles que podem de facto imprimir uma
viragem na política seguida, uma viragem à esquerda.
Que há uma maneira de os eleitores desiludidos e os eleitores de
esquerda não virem de novo a passar pela situação de os seus
votos serem usados para justificar e legitimar a continuação de
uma política, que gostariam de ver abandonada e derrotada.
Que os reformados têm uma maneira de não verem os seus votos a
serem usados para se manter mais de 1 milhão de reformados com
reformas inferiores a 33 contos, que os trabalhadores têm uma
maneira de se verem livres do pacote laboral e de uma
distribuição do Rendimento Nacional que os penaliza, que as
micro e as pequenas e médias empresas têm uma maneira de ver
corrigida uma política que as marginaliza, que as mulheres têm
uma maneira de dizer não a uma política hipócrita, seja em
relação à interrupção voluntária da gravidez, seja em
relação à idade das reformas, seja de uma forma mais geral à
sua participação em igualdade.
Essa maneira, mesmo para os que não estejam sempre de acordo
connosco, chama-se votar na CDU, votar na esquerda que não imita
a direita, chama-se votar na esquerda que não aparece só nas
eleições com as velhas rábulas mesmo que travestida de novo,
chama-se em resumo, votar na esquerda que conta, na esquerda que
faz a diferença e na diferença que faz a esquerda, chama-se
votar na CDU."
Prática desmente palavras
"Nós não
somos dos que temos uma visão catastrófica do estado do país,
nem dos que negam o crescimento económico e algumas mudanças em
relação à política cavaquista.
O que afirmamos e é inegável é que se acentuaram as
desigualdades, que se podia ter feito muito mais e melhor e que
nas questões mais essenciais e estruturantes foi prosseguida a
mesma política, uma política monetarista e neoliberal que
beneficiou no fundamental o capital financeiro e as actividades
especulativas e parasitárias em detrimento das actividades
produtivas e da dignificação do trabalho.
E não é pelo governo ser do Partido Socialista e ter etiqueta
socialista que lhe confere, só por si, um conteúdo político,
como aliás se viu nesta legislatura, ou alguma imunidade face a
uma política de concentração de riqueza disfarçada aqui e ali
pela retórica social.
O Rendimento Mínimo, iniciativa originária do PCP e que passou
na Assembleia da República com os votos do PCP e o pré-escolar,
cujo conteúdo mais justo e progressista foi aprovado contra a
vontade do PS, não chegam para o PS caracterizar a sua
política.
No entanto é certo e sabido que o PS vai utilizar estas
"peninhas de pavão", bem como alguns programas
comunitários de luta contra a pobreza para exemplificar as suas
"preocupações sociais" e disfarçar o essencial da
sua política e as suas consequências e que se pode traduzir em
dois ou três factos:
O de Portugal
ser hoje o campeão das desigualdades na União Europeia.
O de ter cerca de 50% da população activa com um
vínculo precário.
O de o Orçamento do Estado ter concedido em benefícios
fiscais no essencial ao capital financeiro e especulativo mais de
200 milhões de contos.
Os eleitores não devem, na verdade, julgar os comportamentos
pelas designações pelas etiquetas, mas pelos conteúdos e pela
prática. O que está em causa não é o clubismo, mas a vida de
cada cidadão, a utilização do dinheiro dos impostos, o futuro
do país.
As escolhas não devem ser ditadas pela política espectáculo,
pela retórica e o jogo das palavras, pelo facto de sempre se ter
votado em tal ou tal força política, mas pelo que está em
causa que não são factos políticos ou jogadas eleitorais, mas
as condições de vida dos trabalhadores e das populações.
As mistificações vão ser muitas e não é preciso consultar
a bola de cristal para se antever algumas encenações.
A encenação de que estas eleições são para eleger
directamente o Primeiro-Ministro e não para eleger 230 deputados
à Assembleia da República.
E lá veremos toda esta mistificação, com o apagamento dos
diversos candidatos nomeadamente, da parte daqueles partidos que
agora se esquecem dos argumentos da aproximação dos deputados
aos eleitores, apresentados quando querem mudar as leis
eleitorais em seu benefício.
A encenação das grandes diferenças e divergências entre o
PS e o PSD, empolando o acessório e o caricato para melhor
disfarçarem as semelhanças e convergências sobre o
fundamental.
A encenação da "bipolarização" e do perigo do PSD
procurando dar a ideia que tudo se resume e tudo se decide entre
estes dois partidos, alimentando-se a fantasia de que o PSD pode
voltar, nestas eleições, a ser governo para falsamente carrear
um voto de "mal menor" para o PS.
E lá teremos as sondagens e mais sondagens para tentarem dar
suporte à mistificação.
Mas é evidente que nestas eleições o PSD não tem qualquer
hipótese, também por isso, os cidadãos que entendem que se
deve virar à esquerda e impedir podem votar com toda a
tranquilidade na CDU, como um voto que conta triplamente:
a) para virar à
esquerda e derrotar a política de direita;
b) para impedir o poder absoluto do PS;
c) para derrotar o PSD e o PP."
Uma lista com projecto
"A lista de
candidatos da CDU à Assembleia da República pelo distrito de
Lisboa, que hoje apresentamos à opinião pública pela sua
composição, procurou dar protagonismo e correspondência a um
projecto, às propostas e a tantas lutas que travámos no passado
recente, à identificação com valores e grandes causas sociais,
tantas vezes fustigadas nesta época em que vivemos.
É preciso que se diga quanto valorizamos a participação, o
empenhamento e o apoio de homens e mulheres de cultura, de
ciência, de educação, de personalidades que persistem na sua
identificação e na defesa desses valores e dessas causas quando
se assiste a tantos desencantos e a tantos factores que empurram
para o cruzar de braços, ou para a rendição às mordomias de
um poder que usa e abusa do Orçamento de Estado para fins
exclusivamente partidários.
Esta lista de candidatos está em condições e em vantagens
para se dirigir ao eleitorado do Distrito porque na acção e na
intenção política, na palavra de confiança, na proposta, na
participação e direcção de tantas lutas, no acto solidário,
demonstrou que vale a pena não só estar com a CDU mas também
votar na CDU.
Sabem-no as classes populares e as classes laboriosas. Sabem-no
os trabalhadores quando na sua luta contra o pacote laboral
encontraram nas instituições uma única voz solidária e
combativa: a voz do PCP e da CDU.
Sabem-no os trabalhadores que travaram pequenas e grandes
lutas, as trabalhadoras e trabalhadores do Chiado, da Cabos
dÁvila, dos caminhos de ferro, dos hotéis de Lisboa ou do
Casino do Estoril, da Petrogal, dos CTT e da PT, da EDP, dos
transportes de combustíveis, dos estabelecimentos fabris das
forças armadas, da Administração Pública, os pescadores, os
elementos da PSP e das forças armadas, as mulheres e jovens
trabalhadores.
Se algum dia fosse feito o balanço dessas lutas, de quem as
protagonizou e nelas participou, quem mais se bateu por anseios e
reivindicações do direito ao trabalho e do trabalho com
direitos; se o trabalhador que lutou e luta aliasse as razões de
luta à opção do seu voto, o PCP e a CDU alcançariam um
resultado notável. Nós sabemos que não há transposição
mecânica da participação na luta e da evolução da
consciência social para a opção eleitoral. Mas nestas batalhas
que se aproximam saibamos cada um de nós valorizar e
potenciar esse precioso capital social como factor que anima a
levarmos por diante o que de nós se exige. (...)
Procuraremos fazer uma campanha assente nas nossas propostas,
nas alternativas, mostrando com verdade e pedagogicamente que é
possível seguir serena e tranquilamente outro caminho, que há
outra política, uma política mais justa e mais humana, uma
política ao serviço não do capital financeiro, mas sim ao
serviço dos portugueses e das portuguesas e de Portugal.