Ensino
português na Alemanha
Pais,
alunos e professores protestam
A abertura de novos concursos, mais professores com uma maior qualificação e mais horas de escola foram as reivindicações manifestadas, terça-feira da passada semana, numa concentração frente à Assembleia da República promovida pelas comissões de pais dos luso-descendentes residentes na Alemanha.
Os pais e
encarregados de educação residentes em Werl, Wickede, Soest e
Nordhorn, pertencentes às áreas consulares de Dusseldorf e
Osnabruck, contaram com o apoio de professores de língua e
cultura portuguesas, membros do Sindicato de Professores no
Estrangeiro (SPE) e da Federação Nacional dos Professores
(FENPROF)., que estiveram representados respectivamente pelo
secretário-geral, Alexandre Milheiro e Augusto Pascoal.
Durante a iniciativa, uma delegação foi recebida pelo deputado
do PCP Rodeia Machado, que ouviu as razões do descontentamento e
as reivindicações dos manifestantes.
«Só professores competentes fazem alunos contentes. Não
queremos professores de segunda»; «Português no estrangeiro
não é sinónimo de carneiro. O fascismo expulsou-nos a
democracia despreza-nos» e «Senhor Presidente da República
onde estão as respostas às nossas cartas? Obrigado.» foram
alguns dos cartazes apresentados pelos manifestantes.
Os pais presentes na manifestação exigem o reconhecimento de
todos os lugares de língua e cultura portuguesas pelo governo
português, independentemente da área consular onde residem,
referiu Cília Drissber, presidente da comissão de pais de Werl,
em declarações à Agência Lusa.
Adiantou que outras das suas reivindicações são a colocação
dos professores da lista do último concurso e a abertura de
concurso público que considere todos os lugares existentes em
todas as áreas consulares.
De acordo com a mesma responsável, a actual política de
colocações de professores, resultante do último concurso levou
à contratação de docentes de origem estrangeira para ensinarem
português como língua materna.
Actuação ambígua
Além de exigirem
mais professores e com uma maior qualificação, estes emigrantes
na Alemanha pretendem a substituição da actual Conselheira para
os Assuntos do Ensino em Bona, uma vez que tem tido uma
«actuação ambígua, contraditória e incompetente».
Esta reivindicação é de resto apoiada pelo SPE/FENPROF que
considera que «a perturbação que hoje se vive no Ensino
Português na Alemanha se deve à conduta» da Conselheira e «ao
relacionamento que tem junto da comunidade portuguesa e dos
professores em particular».
Se a manifestação não der resultado os pais e a comissão de
pais dos luso-descendentes a residir na Alemanha vão continuar
com novas formas lutas tanto no país de acolhimento como em
Portugal, admitindo uma nova manifestação para as férias da
Páscoa.
Jorge Oliveira, conselheiro das Comunidades Portuguesas na
Alemanha e membro do Conselho Permanente, afirmou à Agência
Lusa que os docentes devem ser portugueses, conhecer Portugal,
escrever e falar correctamente a língua de Camões, sendo ainda
essencial que haja um empenhamento do Estado português. «Se
não existir esse empenhamento, a tendência natural é para que
a cultura e as tradições portuguesas sejam esquecidas e os
filhos dos emigrantes comecem a assimilar as culturas dos países
de acolhimento», sustentou.
Melhorar a qualidade
O Ensino Português
na Alemanha surgiu há cerca de três décadas, quando o numero
de filhos dos emigrantes naquele país passou a justificar a sua
criação. As autoridades alemãs dos estados federados onde
residiam mais portugueses (Baixa Saxónica, Baviera, Renânia do
Norte e Vestefália e Renânia do Palatinado) lançaram redes de
ensino da língua, sobretudo para os primeiros quatro anos de
escolaridade. Igual processo foi mais tarde desencadeado pelo
Estado português relativamente aos restantes estados federais,
tendo em consideração a rede de cursos já então criada pelas
autoridades alemãs.
Contudo, segundo uma nota do SPE/FENPROF, o aumento de
luso-descendentes não foi devidamente interpretado pelas
autoridades de ambos os países. Portugal nunca tomou medidas
sérias para garantir o alargamento dos cursos a mais áreas
geográficas, por nível de ensino, e as autoridades alemãs não
integraram o Português como língua de opção no currículo
alemão.
O SPE/FENPROF considera que «ao longo destes anos as diferentes
equipas que ocuparam o Ministério da Educação pouco fizeram
pela qualidade deste ensino, recusando-se a investir na
divulgação que a língua e cultura portuguesas merecem e que a
comunidade portuguesa na Alemanha e os professores que lá
trabalham reclamam.
Neste sentido O SPE/FENPROF exige que o governo português
desenvolva o trabalho diplomático necessário à inclusão da
língua portuguesa como língua estrangeira de opção no
currículo alemão; defende o alargamento dos cursos do
pré-escolar ao secundário, em função das necessidades para
que nenhum luso-descendente deixe de os frequentar; quer maior
responsabilidade do Estado português na garantia da qualidade
deste ensino, tanto na rede portuguesa como na rede alemã;
propõe a elaboração de materiais pedagógicos-didácticos, de
acordo com os pré-requisitos e os conteúdos programáticos,
adequados a cada nível de ensino; e apoia a criação de
estruturas nacionais locais que garantam um ensino de maior
qualidade e que assuma verdadeiramente a avaliação do
desempenho dos docentes.
O Sindicato defende ainda que a colocação dos coordenadores de
ensino se faça por concurso, de acordo com um perfil que, entre
outros requisitos, exija que os candidatos sejam professores
profissionalizados, com competência pedagógica comprovada,
experiência profissional e adequada às funções que irão
exercer.