De Bus ou Jaguar
Decididamente, a direita fez-se à estrada. Ao encontro do Portugal profundo. Na mais aberta competição. Ambos, PSD e PP, jurando estar para ganhar. Cada um assumindo representar por si a direita legítima. Os dois jurando ver nos votos dados ao rival um desperdício.
De armas e bagagens, ei-los postos ao caminho. O PSD
para dar a conhecer o líder. E para anunciar a sua nova e
decisiva aliança política. Com a abstenção, eleita como novo
parceiro de coligação. Percebe-se a opção. Depois da
traumática experiência com o PP, o novo «parceiro»
apresenta-se mais fiável e menos imprevisível. E, sobretudo,
não frequenta a Moderna nem se desloca em Jaguar.
O PP embalado pelo desvanecedor enlevo da comunicação social,
lá vai repetindo, vezes sem fim, invariavelmente o mesmo.
Definitivamente convertido ao sistema decimal. Primeiro a cassete
dos 10 por cento para o Parlamento Europeu, depois os 10
deputados apontados como limiar de um bom resultado, agora aquela
notável descoberta política dos 10 por cento como condição
para o PP mandar e o PS não dispor de maioria absoluta.
Posto isto, em jeito de entrada, agora se adiantam
três modestas observações que naturalmente apenas por razão
de pura distracção ou outros afazeres a maioria dos
comentadores e analistas não cuidou ainda de referir.
A primeira para registar que não se percebe bem como é que o
PP, disputando essencialmente com o PSD eleitorado de direita,
pode, ainda que com benevolência se lhe concedesse a
possibilidade de chegar à expressão eleitoral onde diz
pretender chegar, impedir ou dificultar a votação do PS.
A segunda para fazer notar aos que, em estado de anestesia ou de
delícia, ouvem repetir com ar de quem nisso acredita que só por
pura inocência ou por mera cumplicidade é que alguém
minimamente avisado pode condescender com a ideia de que o PP,
expressão organizada da direita mais reaccionária e
representante por excelência de sectores do grande capital,
estaria em condições de vir representar causas, valores ou
interesses que merecessem um voto que fosse daqueles que querem
uma política mais justa, solidária e democrática.
E, por último, para observar que se há alguma relação entre o reforço da votação num Partido e a contribuição daí decorrente para impedir a maioria absoluta do PS com real significado para daí resultar uma viragem de política, essa relação encontra-se no reforço da votação da CDU. Porque é sobretudo de uma nova arrumação dos votos no campo democrático em favor da CDU, capaz de fazer corresponder o sentido de esquerda expresso no momento do voto por muitos eleitores naquela força política que dá garantias de não os utilizar ao serviço de uma política de direita, que reside a condição de não só evitar a maioria absoluta do PS como trazer associada a perspectiva de uma viragem à esquerda. Jorge Cordeiro