Programa
Eleitoral do PCP
Forum
debate grandes linhas de orientação
Um Forum/debate com a presença de mais e uma centena de convidados, procedeu na sexta-feira passada, em Lisboa, a uma reflexão de natureza analítica e propositiva sobre as grandes linhas de orientação que devem caracterizar o Programa Eleitoral do PCP para as próximas eleições legislativas. Na sessão de encerramento, aberta à comunicação social, Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP, deu «eco público» das preocupações e sugestões surgidas ao longo dos trabalhos.
Dirigentes nacionais
e deputados do PCP, destacadas figuras da intelectualidade,
militantes do PCP provenientes de diversos sectores
socioprofissionais prosseguiram assim um debate que Edgar
Correia, membro da Comissão Política, lembrou culminar a ampla
discussão realizada em torno da iniciativa «Portugal 2000
Por uma Política de Esquerda», que o PCP promoveu com a
participação de inúmeras personalidades de vários quadrantes
democráticos sobre as grandes questões que marcam a situação
política actual.
A primeira intervenção a generalizar o debate veio da parte de
um dirigente histórico do PCP que, considerando a necessidade de
se estar atento às novas forças emergentes, alertou para o
papel da juventude nas condições de vida actual e lembrou os
jovens que recentemente na Indonésia e no Irão «deram o peito
às balas» pela democracia.
Aliás, a juventude e as futuras gerações acabaram por
atravessar grande parte das intervenções.
Na denúncia sobre a política laboral do PS, «que tem tentado
fragilizar e minar» os grandes pilares do trabalho - direito ao
emprego, salários, horários, segurança social, direito aos
direitos individuais e colectivos -, quem aparece como as
principais vítimas do pensamento neoliberal são as novas
gerações que irão integrar o mercado de trabalho, através do
trabalho a tempo parcial com o qual se pretende «partilhar
emprego, salários e direitos». Pode-se, aliás, dizer que a
«juventude que hoje entra no mercado de trabalho já não sabe o
que é um contrato de trabalho sem prazo». Quando, afinal, é o
trabalho que produz a riqueza.
Toda esta política de contenção salarial do Governo PS não
foi, porém, mais longe porque encontrou grande resistência por
parte dos trabalhadores, da CGTP e do PCP que, graças à luta
institucional que travou tornou possível, por exemplo, congelar
as alterações à lei das férias e do conceito de
retribuição.
Mas se o PS tivesse uma maioria absoluta, como seria? Esta uma
pergunta que igualmente atravessou as várias áreas em debate no
Forum.
A questão do poder foi outra matéria sobre a qual vários dos
participantes se manifestaram. Se para uns é importante que o
PCP se afirme pronto a assumir responsabilidades de governação
- «a direita não pode contar connosco para combater políticas
de esquerda mas também ninguém pode contar connosco para
validar políticas de direita» -, para outros não estão tanto
em causa questões de poder mas sim a eleição de mais deputados
da CDU. Deputados com uma postura diferente no exercício do
poder, que levem à Assembleia da República as grandes
preocupações do eleitorado. Eleitorado esse que, na opinião de
alguns, também deve ser responsabilizado por, afinal, no momento
do voto, não ter dado voz a quem deu voz às suas
reivindicações.
Cabe, entretanto, ao PCP, designadamente no seu Programa
Eleitoral, valorizar a qualidade e a quantidade do trabalho dos
seus deputados, reconhecidamente os que mais intervêm nas
várias instituições. Mas, para isso, há que encontrar uma
linha estratégica de divulgação faseada de algumas das grandes
propostas sectoriais do PCP, o que Luís Sá, no final do debate,
confirmou estar nas intenções da Comissão Eleitoral: desdobrar
o Programa por sectores e propostas, de forma a chegar ao maior
número de pessoas possível.
O tratamento de questões como a alteração do sistema fiscal e
uma maior penalização do capital financeiro; a mistificação
em torno da reforma do Estado e de uma pretensa
descentralização - que, afinal não passa de uma «operação
de desconcentração para centralizar melhor as decisões» -; a
alteração da imagem da CDU no eleitorado que, apesar de
considerar os eleitos CDU como os melhores nas autarquias,
retrai-se quando em causa está o Governo... -; a ligação entre
os temas nacionais e os temas locais; a degradação da imagem
dos políticos, foram algumas das sugestões que os participantes
consideram que o Programa Eleitoral deve explicitar.
Em resumo, à crítica indispensável da política do Governo e
ao alerta para os perigos resultantes de uma eventual maioria
absoluta do PS, há que contrapor as propostas e os objectivos de
esquerda do PCP na economia, no papel do Estado, na valorização
do mundo do trabalho, na participação cívica.
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Vencer silêncios
O silenciamento do
PCP nos órgãos de comunicação social revelou-se uma das
grandes preocupações dos participantes do debate preparatório
do Programa Eleitoral do PCP, na medida em que se trata de uma
questão intimamente ligada à necessidade de fazer chegar às
massas populares a mensagem do PCP.
Trata-se, porém, de um fenómeno que, na opinião de Fernando
Correia, vem de trás e tende a acentuar-se com as novas
tecnologias e a concentração da propriedade no panorama
mediático nacional.
A concentração nas mãos de apenas quatro grupos de quatro dos
seis diários, de três semanários, da quase totalidade da
imprensa económica, da maioria da imprensa feminina e de dois
dos principais canais de televisão, tem naturalmente efeitos
directos - a concentração da opinião mas também
efeitos indirectos, como sejam a contaminação de todo o sector
mediático, clima de concorrência, critérios jornalísticos...
Por outro lado, esta situação consolida e solidifica a
hierarquia de poderes, com o poder político e o poder mediático
subordinados ao poder económico.
Aliás, se se estiver atento, verifica-se que os próprios media
acabam por reflectir essa situação: vasculha-se a vida dos
políticos, poupam-se os capitalistas, ignoram-se os
trabalhadores. Trabalhadores que, sendo os grandes produtores da
riqueza, nem sequer existem nas páginas de economia.
Ao mesmo tempo, a concorrência obriga a critérios
jornalísticos de acordo com o que é simples, curto e fácil,
desvalorizando, implicitamente os partidos que, como o PCP,
valoriza o aprofundamento das questões.
Os comunistas têm, porém, muitas mensagens importantes a passar
e a questão está em como fazê-lo, uma vez que «a mensagem
mais circulante não é determinada por nós», afirma Vítor
Dias. O que - sublinha - às vezes esquecemos.
Uma coisa é certa: é preciso que os eleitores entendam que
está nas suas mãos impor uma viragem na política do país.
Isto porque os eleitores, podendo tudo, cada vez estão mais
convencidos que os resultados já estão feitos e eles apenas se
limitam a acompanhá-los. E essa é uma situação que é preciso
modificar.