Espectáculos
Um dos melhores programas
de sempre


Especial atenção vai ser dada a toda a música portuguesa — foi o que sublinhou Ruben de Carvalho ao revelar o que vai ser o vasto e diversificado programa de espectáculos da Festa deste ano, tendo em conta que se comemoram os 25 anos de Abril e «reflectindo simultaneamente o facto de esta música atravessar um período de particular criatividade, não apenas com o surgimento de novos trabalhos de nomes consagrados, como com a revelação e confirmação de novas formações».

O programa de 1999 – como de resto tem sido traço identificador das Festas do «Avante!» – inclui uma larga diversidade de participações que abrange praticamente todas as expressões musicais, de concertos de música erudita a música de vanguarda, de música tradicional portuguesa ao rock. E o facto de, desta vez, serem quase exclusivamente portugueses os artistas que vão actuar na Atalaia, não deixa de fora a participação de estrangeiros. Dois nomes de peso foram anunciados – o do grupo Hevia, que vem de Espanha com as suas gaitas de foles casadas com a mais avançada electrónica; o do americano Jon Fromer, um nome que se impôs nos EUA «apesar» de ser homem de esquerda...
Mas as revelações que Rúben de Carvalho fez aos jornalistas começaram pelos lugares físicos onde os espectáculos vão realizar-se. Para dizer que os diversificados palcos que correspondem ao carácter de cada função estão já praticamente fixados no terreno da Festa, após as laboriosas experiências e estudos de soluções. Assim, o Palco 25 de Abril continua a estruturar a urbanística do terreno. Este ano, a maior estrutura cénica ao ar livre do nosso País recebeu beneficiações no sentido de melhorar a sua capacidade de iluminação e de equipamentos. O Auditório 1.º de Maio mantém-se na zona ribeirinha que provou ser o melhor local, e conta com novo palco. O Palco Arraial vai de novo receber a actuação de numerosos conjuntos folclóricos e etnográficos. O Palco Novos Valores, criado há dois anos é, para muitos jovens, um primeiro passo a sério numa carreira de música. E ainda se referiram o Palco da Organização Regional de Setúbal e o Café Concerto do Sector Intelectual de Lisboa, lugares já de tradição na Festa. Os espectáculos, porém, vão decorrer em toda a parte, com a animação de rua a trazer à Atalaia uma série de grupos que aí se apresentam com êxito.

Há quatro anos, foi a surpresa, com a música sinfónica a entrar pela porta grande nos espectáculos da Festa. Depois é já uma exigência. Este ano vai haver concerto com a Orquestra Filarmónica das Beiras, que vem de Aveiro apresentar um programa para instrumentos de sopro e percussão.

Pese a relatividade destas «classificações», recorremos a elas por facilidade de organização e apresentação. Nesta área, o programa apresenta os Santos e Pecadores, grupo surgido em 1987 que tem no vocalista Olavo Bilac a sua figura mais destacada. Ao fim de dez anos de carreira receberam o Duplo Galardão do Disco de Ouro para os dois registos que efectuaram e o álbum «Voar», lançado em Maio deste ano, encontra-se actualmente em n.º 1 do top nacional. A Ala dos Namorados, grupo criado em 93 pelo ex-Trovante João Gil e por Manuel Paulo Felgueiras, vem também à Festa. João Afonso também lá estará, a afirmar a sua identidade com raízes. Os Navegante apresentam-se com Isabel Silvestre e prepararam um programa especial para apresentarem na Atalaia. AQuadrilha, presença já regular no circuito folk europeu e, ainda Francisco Ceia, um artista cuja carreira remonta aos anos 70 e segue com a edição de mais um disco, «Fado Singelo», completam o «elenco» de música popular portuguesa na Festa.

Comecemos pelos Xutos &Pontapés, que se apresentam com Os Corvos na Festa deste ano. Continuemos com o grupo Rock &Revolução, um projecto que nasceu para as Festas de Lisboa num espectáculo ligado à passagem dos 25 anos de Abril e que vem agora ao grande palco da Atalaia, com um repertório que vai de Cesária Évora a Zeca Afonso. Sigamos com os Ramp, criados em 1988 e já confirmados no país e no estrangeiro. Juntemos-lhes os Blasted Mechanism que já se impuseram na cena rock portuguesa. Adicionemos os Blind Zero, com destacado lugar na cena nacional, e reconhecimento no estrangeiro. Prossigamos com os Hands on Approach, uma banda setubalense que está a caminho da platina em grande velocidade. E terminemos, a fechar o rock, com os Alcolémia, uma banda confirmada. Teremos um sonoríssimo programa.

Nesta área, a oferta é também de grande qualidade. A começar pela Orquestra Sons da Lusofonia, dinamizada pelo saxofonista Carlos Martins, que preparou um programa especial ligado às comemorações dos 25 anos de Abril. Assinalemos a participação do cantor cabo-verdiano Dany Silva, cuja carreira é bem conhecida do público português. E destaquemos a apresentação, pelos Ciganos de Ouro de um espectáculo enriquecido com a presença de bailarinos de flamenco.

O jazz tem tradições na Festa. Desta vez contamos com a participação do Quinteto de Carlos Martins; da Orquestra de Jazz de Matosinhos, nascida da iniciativa de Pedro Guedes e Carlos Azevedo, do grupo Telectu, de Jorge Lima Barreto e Vítor Rua, que convidaram o consagrado baterista Sunny Murray; do grupo de Coimbra Belle Chase Hotel que, fundado em 95, foi logo em 98 considerado pela crítica como a revelação do ano.

Guardemos para o fim o fado. Com um nome já famoso – Camané. Um artista que em 1979 ganhou a Grande Noite do Fado e não mais parou de alargar o seu público.
E vai ainda haver Noites do Ribatejo. Com fado e fandango. Raul Caldeira apresentará sete cantores, dois instrumentistas e dois fandanguistas do consagrado grupo de Riachos.


«Avante!» Nº 1339 - 29.Julho.1999