Leituras
Corm o Verão a desenrolar-se preguiçoso numa sucessão de dias magníficos e as férias a dominarem já o quotidiano de muitos portugueses, confrontam-nos os médias com as mais variadas sugestões de leitura.
Associamo-nos hoje ao ambiente com a sugestão de leitura de um livro interessante, editado há poucos meses em França, e do qual ainda não apareceu entre nós recensão: estamos a falar da mais recente obra do secretário nacional do Partido Comunista Francês, Robert Hue, intitulado "Comunismo - um novo projecto" (Éditions Stock, 1999).
Absolutamente livres que somos para avaliar com independência, à luz da nossa própria reflexão e experiência, as análises e as elaborações inovadoras que os comunistas franceses têm vindo a produzir e os caminhos percorridos nos últimos anos, aqui se sustenta a necessidade do seu conhecimento directo e objectivo, libertos de interpretações tendenciosas, corno condição prévia e óbvia para qualquer juízo político digno desse nome.
Fala-nos o autor da escolha verdadeiramente
existencial que se coloca ao PCF, nas condições de uma
sociedade moderna e em que se verificaram profundas alterações,
de "mudar para ser melhor ele próprio e de continuar
comunista sendo-o de outro modo".
Sustenta que a "visão comunista quer abrir uma ambição à
política, de urna acção que nem se inscreva na submissão ao
capitalismo nem na resignação ao seu arranjo, mas na procura da
sua ultrapassagem", abrindo o horizonte da "promoção
de uma lógica que assuma o desenvolvimento humano" e
avançando com a perspectiva de "um movimento histórico de
revolucionamento no decurso do qual os indivíduos definam eles
próprios as finalidades que apontam à sua vida em sociedade,
exercendo direitos e apoderando-se de poderes de que estão hoje
desapossados".
Sobre "a força comunista" - as centenas de milhar de
homens, mulheres e jovens que são comunistas, e as centenas de
milhar de outros que o foram ou quereriam ser, ou não o querem
mas se sabe serem comunistas pelo coração e pela razão -
Robert Hue sustenta a "necessidade de um comunismo
dinâmico, aberto, portador do prazer de discutir e de agir em
conjunto, e de uma alternativa transformadora pela qual se possa
enfim ter vontade em se compromete?'.
Apenas dez anos decorridos sobre a tragédia do Leste, não é bom sinal que os comunistas franceses - sem dúvida correndo riscos estejam a procurar urna saída para as dificuldades e desafios e a debater o seu projecto para o século XXI? Edgar Correia