100 CARTAZES DA REVOLUÇÃO
Quando a poesia andava na rua
Num ano em que se comemoram os 25 anos do 25 de Abril, a Festa do «Avante!» promove uma exposição de 100 cartazes que cobriram as paredes por esse país fora entre 1974 e 1976, muitos dos quais concebidos por artistas de renome como é o caso de Vieira da Silva ou de João Abel Manta.
O projecto intercala
os cartazes com extractos do poema de Ary dos Santos, «As Portas
que Abril Abriu» e utiliza vários monitores de vídeo, onde
será possível visualizar um filme com imagens da época,
acompanhadas das canções da Revolução que se ouvirão no
recinto como música de fundo.
Esta mostra, longe de ser exaustiva, testemunha a grande
importância que o cartaz teve, juntamente com outras formas de
comunicação, como o graffiti e o mural, na divulgação
das mensagens políticas e dos apelos à participação na vida
democrática que então dava os primeiros passos.
Contudo, a riqueza deste património ultrapassa em muito o valor
intrínseco de documento histórico. Os cartazes de que falamos
são «o resultado de anos de trabalho, esforço e criatividade
de centenas de artistas plásticos e gráficos portugueses, para
não corrermos o risco de dizermos todos os artistas
plásticos e gráficos portugueses», como refere José
Araújo, gráfico do nosso jornal, num texto escrito para a
exposição a «Cor da Revolução», por si organizada para a
«Lisboa Capital Europeia da Cultura 94».
Nesse escrito, intitulado «A Arte de Rua», José Araújo, ele
próprio um dos muitos artistas que anonimamente participaram na
produção de dezenas de cartazes políticos, salienta «o
inestimável valor patrimonial representado por esta forma
plástica de as ideias e a política se exprimirem», ao mesmo
tempo que reconhece que a exposição destes materiais
proporciona «uma leitura diversa» da que foi feita pelos
«destinatários destas mensagens: os portugueses de há vinte [e
cinco] anos, então receptores ávidos desta explosão visual que
foi um dos traços mais marcantes da revolução».
Um quarto de século depois, mais do que qualquer revivalismo ou
mera curiosidade histórica, a exposição destas obras é uma
forma de comemorar a Revolução de Abril, reafirmar o ideal e o
projecto de uma sociedade mais justa que encheu de esperança os
corações dos portugueses, numa época que ficou ainda marcada
por uma grande participação popular nas profundas mudanças
efectuadas. Ou, parafraseando os cartazes de Vieira da Silva,
numa época em que a poesia andava na rua.