Rússia
Nova
troca de cadeiras
Na semana em que centenas de radicais islâmicos invadiram a república do Daguestão, Boris Ieltsin demitiu o Governo russo e nomeou Vladimir Poutine primeiro-ministro interino. Mas os movimentos de Ieltsin não se ficam por aqui: ainda apresentou Poutine como o candidato às eleições presidenciais preferido do Kremlin.
A seis meses das
eleições legislativas e a sete das presidenciais, a Rússia
voltou a assistir a mais uma demissão do seu Governo, a quarta
nos últimos dezoito meses. Serguei Stepachin, nomeado
primeiro-ministro em meados de Março, foi afastado do poder e
substituído pelo chefe dos Serviço Federal de Segurança e
secretário do Conselho de Segurança, Vladimir Poutine, na
segunda-feira.
«Hoje de manhã visitei o presidente e ele assinou um decreto
sobre a minha demissão. Agradeceu-me e demitiu-me», afirmou
Stepachin. «Manifestei abertamente a Boris Ieltsin o que pensava
da minha demissão. Mas é um direito que tem, porque é ele o
presidente, o chefe», disse.
Ieltsin explicou a sua decisão num discurso televisivo: «Decidi
nomear o homem que em minha opinião é capaz de consolidar a
sociedade e de garantir a continuidade das reformas na Rússia.
É Vladimir Vladimirovitch Putine».
A oposição, em especial o Partido Comunista, condena a
demissão e acusa o presidente de pretender impor o estado de
excepção e adiar indefinidamente as eleições. Putine
desmente: «Não há base para conjecturas de que se prepare uma
variante de força ou acções à margem do campo
constitucional.»
A nomeação de Putine foi criticada também por apoiantes de
Ieltsin, como Anatoli Tchubais e Boris Nemtsov.
Mas porquê demitir Serguei Stepachin? Os especialistas
consideram que o seu grande erro foi pensar que iria de facto
desempenhar as suas funções. Stepachin nomear os membros do
Governo e, nos poucos meses que esteve no poder, procurou
manter-se longe de medidas inconstitucionais. Outro pecado: não
se aliar aos grupos capitalistas contra os deputados comunistas
da Duma.
Rebeldes invadem Daguestão
«Hoje a situação
no Daguestão é muito difícil e podemos mesmo perdê-lo»,
afirmou Serguei Stepachin, o primeiro-ministro russo
demissionário, depois de visitar aquela república caucasiana,
palco da incursão de centenas de radicais islâmicos.
Com o objectivo de fundar uma república muçulmana, os
extremistas invadiram quatro aldeias a partir da fronteira da
Tchetchénia no sábado. As autoridades decretaram imediatamente
o estado de alerta e ordenaram o regresso imediato aos quarteis
de todos os militares, incluindo os que estavam de férias.
Para fazer frente ao rebeldes, 500 pessoas ofereceram-se como
voluntárias e as forças armadas russas desencadearam uma
operação que envolve helicanhões e baterias de artilharia de
longo alcance.
Segundo a agência Lusa, estão-se a concentrar na região
reforços militares, nomeadamente paraquedistas, tropas de elite,
soldados da 102º brigada do Minitério do Interior e da 136º
brigada motorizada do ministério da Defesa.
Centenas de aldeões, maioritariamente mulheres e crianças,
fugiram das localidades ocupadas, tendo dito aos jornalistas que
muitos homens são mantidos como reféns.
O chefe do estado-maior russo, general Anatoli Kvachine, afirmou
que as forças russas têm feito tudo «para evitar que a
população civil seja afectada». «Acabaremos, evidentemente,
com os combatentes mas a população civil não sofrerá»,
acrescentou.
Por seu lado, a Tchetchénia reforçou a fronteira com o
Daguestão e, de acordo com o chefe da guarda fronteiriça
tchetchena, ordenou o corte de «toda e qualquer tentativa de
penetração de grupos armados, tanto da Tchetchénia para o
Daguestão como na direcção inversa».