Argentina
Um crime em cada 45 segundos


A criminalidade cresce assustadoramente na Argentina. O Ministério da Justiça noticiou recentemente, no seu Mapa Nacional de Delito, que se comete um crime em cada 45 segundos, que quatro pessoas são assassinada diariamente e que a taxa de roubos, violações, agressões ou mortes violentas aumentou 65 por cento nos últimos cinco anos.

Estes números são aproximados, visto só uma em cada três pessoas apresentar queixa à polícia. Apenas três por cento dos processos entregues aos tribunais chegam a julgamento.
A gravidade da situação levou já o ministro da Justiça e Segurança da província de Buenos Aires a demitir-se, enquanto a população se procura defender da melhor maneira.
As classes média e alta circunscrevem a sua rotina diária aos condomínios fechados e a restaurantes e escritórios sob vigilância privada. Nos subúrbios, quem não tem possibilidades económicas para recorrer às mais de 50 novas empresas de segurança cerca as suas casas com grades e muros altos.
A segurança transformou-se num negócio e o número de empresas ligadas ao sector vai-se multiplicando. A maioria é dirigida por antigos membros do exército e têm ao dispor dos clientes alarmes modernos e tropas uniformizadas com autorização para usar armas.
A polícia pede aos políticos reformas urgentes de leis e regulamentos para poder actuar perante a onda de criminalidade. Propostas não faltam - a maioria populista e tendo em vista as eleições de Outubro - e vão da criação de brigadas civis armadas à substituição da direcção civil da força policial por um militar.
O ministro do Interior defende que os polícias deixem de se identificar antes de actuarem. «O polícia deve actuar e não dar ao delinquente a vantagem de se anunciar», afirma Carlos Corach.
A causa desta situação prende-se essencialmente com a crise económica. A taxa de desemprego atinge os 28 por cento e, no segundo trimestre deste ano, o produto interno bruto desceu 4,5 por cento. O salário médio mensal varia entre os 500 e os 800 dólares, enquanto os reformados recebem 200 dólares de pensão.
Muitos dos crimes são protagonizados por jovens, que, estimulados por drogas, perdem facilmente o controlo da situação. «Estes miúdos, que vão roubar estando drogados, vão contra todos os códigos da delinquência. Agora, além de roubar, matam, porque estão fora de controlo ou pelo simples prazer de o fazer», afirma um jornalista policial, Enrique Sdrech.


«Avante!» Nº 1341 - 12.Agosto.1999