Brasil
15
mil polícias envolvidos em delitos graves
Cerca de 15 mil agentes da polícia militar, civil e federal são acusados de crimes como homicídio, violação, sequestro, tráfico de drogas e roubo à mão armada. De acordo com o último número da revista Veja, 64 por cento dos brasileiros tem medo da polícia e o índice de acusados por crimes graves é 70 vezes superior entre as forças de segurança do que na população civil.
Os números
revelados são assustadores. Nos últimos cinco anos, a
criminalidade relacionada directamente com a polícia aumentou
400 por cento. A média de acusações de crimes cometidos por
agentes é de três mil em cada três meses. Noventa por cento
das queixas referem-se a crimes graves. Até 1995, 90 por cento
das acusações relacionavam-se com abuso de poder.
«O crime dentro da polícia está aumentando e não conseguimos
fechar a porta a pessoas indesejáveis. Um bom número daqueles
que entram na polícia eram já antes bandidos», explica o
comandante da polícia militar de São Paulo, Rui César Melo.
Os especialistas garantem que se trata de um problema estrutural,
fruto de anos de desigualdades e injustiças sociais. De facto,
os actuais agentes são herdeiros de um sistema que defendia a
população branca e reprimia os escravos negros e que, durante a
ditadura militar, tinha como uma das principais funções
reprimir a oposição política.
Por outro lado, os agentes têm ordenados muito baixos. Quando
começa a trabalhar um polícia militar recebe menos de 70 mil
escudos, o mesmo que um cobrador de autocarros. Quando chega a
tenente, cinco anos depois, passa a ganhar o mesmo que uma
secretária, cerca de 160 mil escudos. Um polícia com a mesma
patente recebe dez vezes mais em Los Angeles.
Mas como é que entram tantos criminosos no corpo policial? A
explicação reside nas poucas condições que são impostas para
ingressar na polícia. É apenas necessário ter o primeiro grau
de escolaridade e frequentar um curso de quatro meses. Na maioria
dos países, esse curso dura quatro anos.
A situação está de tal forma descontrolada que o Ministério
Público criou em seis Estados grupos especiais de promotores
para investigar crimes cometidos por agentes. Existem também
números de telefone para denunciar policias. O receio por parte
da população é elevado, especialmente devido aos assassinatos
de pessoas que haviam feitos denuncias.
No Rio de Janeiro, o governador Antony Garotinho suspendeu dois
directores gerais de segurança e transferiu o seu escritório
para as dependências da polícia, numa tentativa de controlar a
situação.