Comunidades
Portuguesas
É
possível uma nova política
As candidaturas da CDU às eleições legislativas pelos círculos eleitorais da emigração portuguesa realizaram, na segunda-feira, uma conferência de imprensa para divulgar a sua reflexão sobre a situação e os problemas das Comunidades Portuguesas no Mundo.
Na mesa, Manuel Beja, cabeça de lista da CDU pelo círculo eleitoral da Europa, João Armando, membro do Comité Central do PCP e mandatário da CDU pelo círculo da Europa, e Manuel Rodrigues, mandatário da CDU pelo círculo eleitoral de Fora da Europa, apresentaram ainda um conjunto de princípios programáticos que fundamentam a exigência da CDU de uma nova política de defesa das aspirações e interesses dos emigrantes portugueses.
Para a CDU, quatro
anos decorridos sobre a derrota do PSD nas eleições
legislativas de 1995, a Emigração Portuguesa viu frustradas as
expectativas então criadas, uma vez que «também
o Governo do PS não resolveu nem respondeu à maioria dos
problemas fundamentais» com que ela se debate. «Não
promoveu a indispensável alteração qualitativa e quantitativa
do ensino da língua e da promoção da cultura portuguesas»
no seio das Comunidades - condição da preservação da sua
identidade e da sua ligação futura a Portugal, particularmente
das jovens gerações; «não desenvolveu linhas eficazes de
apoio e valorização do movimento associativo» -
insubstituível na participação e valorização dos emigrantes
portugueses -, preferindo uma política de subsídios avulsos e
de sacos azuis; «não respondeu a problemas essenciais e
crescentes na área da Segurança Social», vividos por
centenas de milhar de emigrantes em idade de reforma que se
confrontam «com a morosa e deficiente capacidade de resposta dos
Serviços aos processos relativos às suas pensões».
Quanto às «dramáticas situações de exclusão social e
pobreza» que afectam significativo número de compatriotas
no Mundo, só agora o Governo criou um "grupo de
trabalho" para estudar à pressa propostas de medidas que
durante 4 anos não teve tempo para tomar. Entretanto, «continua
a falta de informação e apoio eficaz e
generalizado» aos emigrantes, tanto nos países de acolhimento,
como no seu regresso ou no tratamento dos seus problemas em
Portugal, e de medidas que estimulem a canalização das poupanças
para Portugal, «tão importantes para o desenvolvimento do País
e para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos.»
Governo privilegia imagem
Este juízo crítico
da política governamental não exclui o reconhecimento de que
«algumas medidas foram tomadas» nestes quatro anos, ainda que
em geral «concretizadas de modo parcial, lento ou pouco
coerente». Aliás, elas correspondem no fundamental
«a reivindicações e propostas que há muito constituem
bandeiras de luta da CDU».
Foi o caso da constituição e eleição do Conselho das
Comunidades Portuguesas - que desde logo o
Governo procurou reduzir «à condição de orgão de apoio à
Secretaria de Estado desta área, cortando-lhe meios de
funcionamento e intervenção autónoma»; foi o caso do início
do processo de modernização e informatização dos serviços
consulares e da aprovação do novo Estatuto do Pessoal dos
Serviços Consulares (sem a adequação, contudo, da rede
consular à actual distribuição da emigração no Mundo ou o
reforço dos serviços em técnicos de apoio social e jurídico);
foi o caso da aprovação do novo Estatuto dos Professores de
Português no Estrangeiro que, originando de imediato focos de
instabilidade e injustiça, «puseram a nu a fragilidade de uma
área que deveria ser prioritária no investimento do Estado
português dirigido ás Comunidades».
Na opinião das candidaturas CDU, «o Governo e o seu Secretário
de Estado para esta área privilegiaram claramente uma
política de relações públicas, de propaganda e de promoção
de imagem», em desfavor de uma orientação política que
«atacasse eficazmente os problemas fundamentais da emigração
portuguesa, quer na sua relação com Portugal quer na sua
integração nas sociedades de acolhimento». Ou seja, de forma
idêntica à do PSD, «preocuparam-se mais em ocupar e dominar
o aparelho de poder ligado às Comunidades Portuguesas».
Usaram os progressos verificados no domínio da comunicação com
as Comunidades Portuguesas, não «para aproveitar os próprios
agentes e criadores culturais das Comunidades», projectar e
debater os seus problemas e aspirações, mas para «veicular o
seu discurso oficial e continuar a projectar uma imagem redutora,
distorcida e desactualizada da própria emigração».
Algumas medidas essenciais
Entretanto, «é
possível e é necessária uma outra política para as
Comunidades Portuguesas», que valorize e apoie a inserção
bem sucedida dos portugueses nos países onde vivem e trabalham,
que aí promova a sua participação social, cívica e política,
que responda com mais eficácia às obrigações do Estado
português no apoio aos emigrantes e seus descendentes e que
fortaleça os seus laços com Portugal e o seu contributo para o
desenvolvimento do País.
Constituem, na opinião dos Candidatos da CDU, elementos
fundamentais para uma nova e mais eficaz política dirigida às
Comunidades Portuguesas as seguintes orientações e medidas:
- A definição de «um programa de expansão e qualificação
do ensino da língua e da cultura portuguesa» no seio das
Comunidades Portuguesas em todo o Mundo. O que mplica a
elaboração de um "Livro Branco" sobre o ensino do
Português; a dotação de meios financeiros; a garantia de mais
professores, mais meios e apoios pedagógicos, mais apoios ao
movimento associativo; melhor coordenação de todos os meios
(incluindo o papel da RTPI); mais pressão e diálogo com os
Governos dos países de emigração portuguesa para a
integração curricular do ensino da língua e da cultura
portuguesa nos seus sistemas de ensino;
- A elaboração de «um plano de reorganização e
adequação da rede consular» à actual realidade e
distribuição das Comunidades Portuguesas no Mundo, que assegure
uma melhor cobertura e apoio, integre mais técnicos para o apoio
social e jurídico aos emigrantes e concretize a constituição
das Comissões de Acção Social e Cultural;
- A tomada de medidas de efectivo «reforço dos Serviços
especializados da Segurança Social» em Portugal que
permitam uma resposta pronta e eficaz ao crescente número de
processos de pensões;
- A constituição pelo Estado português de um «Fundo de
Apoio Social aos Emigrantes» que, na base de critérios
«claramente estabelecidos em lei», assegure o apoio a
emigrantes portugueses em situações dramáticas de pobreza e de
exclusão social;
- A definição de «um plano de apoio ao movimento
associativo das Comunidades Portuguesas», com a
constituição de um Fundo dotado de verbas próprias no
Orçamento de Estado e a «definição clara de critérios de
apoio» na base da auscultação prévia das associações;
- A elaboração de «uma política cultural especificamente
orientada para as Comunidades Portuguesas», coordenada com
os serviços culturais portugueses que intervêm no estrangeiro,
que combata estereotipos ultrapassados e imagens redutoras da
emigração portuguesa e se oriente para o «diálogo e
envolvimento das novas gerações de lusodescendentes»;
- A efectiva «colocação do serviço público de
radiotelevisão e de radiodifusão (RTPI e RDPI) destinado às
Comunidades Portuguesas ao seu serviço» (com a criação de
programas de difusão de informação sobre a vida das
Comunidades e a participação destas nos meios dos criadores e
agentes culturais e com a criação de espaços pluralistas de
debate e diálogo com as forças políticas e representantes das
Comunidades);
- A concretização de uma «política de informação sobre
direitos e procedimentos» dos emigrantes, quer nos países
onde residem, quer no tratamento dos seus problemas com Portugal
ou no regresso.
Voto seguro na CDU
As candidaturas da
CDU às eleições legislativas de 10 Outubro pelos Círculos da
Europa e do Resto do Mundo «são constituídas integralmente por
emigrantes, homens e mulheres conhecidos e com provas dadas na
defesa das aspirações das Comunidades Portuguesas, conhecedores
com uma experiência viva e vivida da sua situação e dos seus
problemas.». As suas propostas são, assim, fruto de «uma
persistente, quotidiana e continuada intervenção em defesa dos
interesses e direitos das Comunidades Portuguesas» em
articulação com «uma intensa actividade parlamentar onde os
deputados da CDU, apesar de ainda não haver nenhum eleito pela
Emigração, se destacaram por uma permanente acção em defesa
dos emigrantes portugueses.»
Nas próximas eleições, o voto na CDU é, pois, «o voto
seguro», o voto dos que querem evitar o perigo de «uma maioria
absoluta e um poder absoluto do PS» e compreendem que o PSD,
pelo seu passado e pelo seu presente, «também não é
alternativa». O voto dos emigrantes portugueses na CDU poderá,
pois, desta vez, reforçar a voz dos que «com mais coerência e
firmeza se batem em Portugal» e pelas aspirações e direitos
dos emigrantes.
A terminar a conferência de imprensa, a CDU propõe que sejam
realizados em tempo útil do ponto de vista da emigração, e
portanto até à primeira quinzena de Setembro, debates entre
representantes das várias candidaturas pelos círculos
eleitorais da Emigração na RTPI e na RDPI, desde já se
disponibilizando para tal.