Demanda do povo de Cuba
contra o governo dos EUA
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O terrorismo de estado conduzido pelos EUA contra Cuba faz-se sentir, de forma sistemática, sobretudo a partir de 1961, mas já antes disso a acção criminosa de mercenários orquestrados pela CIA ceifava vidas e destruía a economia da pequena ilha. Um dos casos mais mortíferos foi a sabotagem do navio francês La Coubre, no porto de Havana, em 1960, em que perderam a vida 101 pessoas. Muitos outros actos terroristas se lhe seguiram, como se refere nas alegações apresentadas em tribunal em nome do povo cubano.

Retomamos a apresentação das alegações no ponto quinto, justamente dedicado à apresentação dos ataques sistemáticos levados a cabo pela CIA e os seus homens de mão.

Quinto: Que o terrorismo tem sido um instrumento permanente da política externa dos Estados Unidos contra Cuba.
Uma das primeiras acções terroristas do governo dos Estados Unidos contra o nosso país teve um carácter monstruoso: a sabotagem do navio francês La Coubre, em 4 de Março de 1960, no porto de Havana. O navio trazia da Europa um importante carregamento de armas e munições, comprado à indústria nacional belga pelo Governo Revolucionário de Cuba, que já estava preocupado com as crescentes acções agressivas dos Estados Unidos. O carregamento foi sabotado por agentes da CIA no ponto de embarque, e as bombas colocadas explodiram quando se procedia à descarga. As bombas foram colocadas de forma sotisficada, de tal forma que a segunda explosão teve lugar no momento em que se prestava ajuda às vítimas da primeira. Tanto o navio como o cais estavam cheios de trabalhadores portuários, soldados e outras pessoas que, sem se importarem com o perigo, acorreram ao local do desastre para ajudar as vítimas e prevenir novos acidentes.
Esta acção terrorista provocou 101 mortos, entre os quais seis marinheiros franceses, e centenas de feridos, cujo número exacto, por terem sido atendidos em diversos hospitais e centros de auxílio na capital, se torna hoje impossível de determinar, passados tantos anos.
As modalidades do terrorismo empregado contra Cuba foram, fundamentalmente, as seguintes: sabotagem ou destruição de objectivos civis dentro do país; ataques piratas contra instalações costeiras e contra navios mercantes e barcos pesqueiros; atentados contra instalações e pessoal cubano no estrangeiro, incluindo embaixadas, escritórios de aviação e aviões; a constante incitação a elementos subversivos, através de emissoras de rádio e televisão, para realizar acções desta natureza contra centros de produção e de serviços, indicando, inclusive, a forma de as fazer.
Nestes 40 anos de Revolução o nosso país foi alvo de incessantes acções terroristas, mas é em 1961 que se produzem de forma mais sistemática, em consequência do programa de acção encoberta contra Cuba aprovado em 17 de Março de 1960 pelo Presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower. No mencionado documento secreto, já desclassificado, respeitante ao programa que contra Cuba que depois o Presidente Kennedy continuou, precisa-se: «O método para conseguir este objectivo consiste em incitar, apoiar e, no possível, dirigir a acção, dentro e fora de Cuba, por parte de grupos escolhidos de cubanos que poderiam realizar qualquer missão por iniciativa própria».
Foi precisamente um desses «grupos escolhidos» que preparou, na tarde de 13 de Abril de 1961, o incêndio e total destruição de «El Encanto», o maior edifício de lojas do país, acção executada por Carlos González Vidal, membro do grupo terrorista conhecido pela sigla MRP. Também se soube que o principal organizador foi Mario Pombo Matamoros, que estava relacionado com dirigentes do grupo M-30-11. As consequências desta acção não foram só de tipo económico, mas também provocaram algo muito mais doloroso: a morte da trabalhadora Fe del Valle Ramos, e queimaduras e lesões em outras 18 pessoas que trabalhavam naquela instituição comercial.
Como parte desses planos terroristas, um mês antes, em 13 de Março de 1961, teve lugar o ataque à refinaria «Hermanos Diaz», em Santiago de Cuba, no qual foi morto o marinheiro René Rodríguez Hernández, de 27 anos, guarda do lugar, e em que ficou gravemente ferido Roberto Rámon Castro, de 19 anos. Esta acção foi levada a cabo por um comando da CIA, transportada por uma embarcação artilhada com metralhadoras, que saiu do navio Bárbara, procedente dos Estados Unidos, facto assinalado pelo Inspector-Geral da CIA, Lyman Kirkpatrick.
Em 28 de Maio de 1961, elementos terroristas incendiaram a sala de cinema Riego, na cidade de Pinar del Rio, durante uma apresentação infantil. Ficaram feridas 26 crianças e 14 adultos.
Em 5 de Setembro de 1963, dois aviões bimotores lançam bombas sobre a cidade de Santa Clara e provocam a morte do professor Fabric Aguilar Noriega e ferimentos a três dos seus quatro filhos.
Em 23 de Dezembro de 1963, um comando da CIA transportado por mar dos Estados Unidos, empregando explosivos de demolição submarinha, afundou a lancha torpedeira LT-385, pertencente à Marinha de Guerra Revolucionária, na baía de Siguanea, na ilha de Pinos, provocando a morte do alferes de fragata Leonardo Luberta Noy e dos marinheiros Jesús Mendoza Larosa, Fe de la Caridad Hernández Jubón e Andrés Gavilla Soto.
Poderíamos mencionar dezenas de casos similares nesses anos.
Os sequestros de aviões, que não tinham precedentes no mundo, foram um método criado e empregado pela CIA no seu programa de acções terroristas contra Cuba, particularmente nos primeiros anos da Revolução. Alguns adquiriram características dramáticas. A título de exemplo, abordaremos o ocorrido em 27 de Março de 1966: um indivíduo sem escrúpulos, Ángel Maria Betancourt Cueto, usando uma pistola, tentou desviar para os Estados Unidos, onde sempre eram recebidos como heróis, um avião II-18 da Cubana de Aviación, no voo Santiago de Cuba-Havana, com 97 pessoas a bordo, incluindo 14 crianças. Ao fracassar a sua tentativa, devido à corajosa e decidida atitude do comandante do avião, Fernando Álvarez Pérez, que se recusou a desviar o rumo aterrando novamente no aeroporto da capital, o frustrado sequestrador, já em terra, assassinou o co-piloto Evans Rosales, facto que abalou o país.
Em 12 de Outubro de 1971, uma lancha rápida e outra embarcação de maior comprimento, provenientes dos Estados Unidos, metralharam o povoado de Boca de Samá, na costa Norte da província de Oriente. Essa cobarde acção contra a população civil provocou a morte de duas pessoas e ferimentos noutros moradores do povoado, entre os quais duas crianças.
Nesse período o terrorismo também se traduz em acções paramilitares contra navios mercantes e pesqueiros de Cuba e de países terceiros, no estreito da Florida. Em 4 de Outubro de 1973, os navios pesqueiros cubanos Cayo Largo 17 e Cayo Largo 34 são atacados por duas canhoeiras comandadas por terroristas, sendo assassinado o pescador Roberto Torna Mirabal e abandonados os restantes em jangadas, sem água nem comida.
Sem dúvida, a mais monstruosa e repugnante acção terrorista cometida contra Cuba nesse período teve lugar em 6 de Outubro de 1976: a explosão em pleno voo de um avião civil das linhas aéreas cubanas, com 73 pessoas a bordo, entre as quais 57 cubanos, incluindo os 24 membros da equipa juvenil de esgrima que acabava de obter todas as medalhas de ouro num campeonato centro-americano; 11 jovens guineenses, seis deles escolhidos para estudarem Medicina em Cuba; e cinco cidadãos da República Democrática da Coreia. Morreram todos.
O avião, um DC-8 com matrícula CUT-1201, acabava de deslocar do aeroporto internacional de Barbados, dez minutos antes. Uma bomba tinha sido colocada na casa de banho por dois indivíduos que, procedentes de Trinidad e Tobago, abandonaram o avião na escala habitual dessa rota. Depois, alugaram um táxi no aeroporto e pediram ao motorista que os levasse à sede da embaixada dos Estados Unidos em Barbados, segundo o testemunho de Maurice Firebrace, o motorista de táxi que os transportou, às autoridades locais. Outro taxista, Roger Pilgrim, declarou perante as autoridades de Barbados que nesse mesmo dia, à tarde, também transportou os referidos indivíduos, em duas ocasiões, à sede diplomática dos Estados Unidos; a primeira vez, entre as 14h e as 15h; a segunda, às 16.55h. Nessa mesma tarde, no hotel Village, os dois homens telefonaram a informar os seus chefes na Venezuela do cumprimento da missão encomendada. Regressaram depois a Trinidad e Tobago onde, em 7 de Outubro, foram identificados e presos pelas autoridades locais, às quais confessaram de imediato a sua participação na acção.
Numa reunião realizada em Trinidad e Tobago por iniciativa do primeiro-ministro do país, Eric Williams, 14 dias depois da sabotagem, o chanceler da Guiana, Fred Willis, referiu-se às agendas pertencentes aos implicados, comprometedoras para a CIA, que denunciavam esse organismo norte-americano pondo a nu os seus vínculos com os envolvidos. Eram dois mercenários de nacionalidade venezuelana, contratados por Orlando Bosch Ávila e Luis Posada Carriles, dois conhecidos terroristas, recrutados pela Agência Central de Inteligência desde 1960, e especializados em sofisticadas técnicas de sabotagem. Ambos faziam parte de uma organização chamada CORU, criada com a unificação, sob as ordens da CIA, dos principais grupelhos que até esse momento actuavam com siglas diferentes no território norte-americano, e ao qual se encomendou a tarefa de executar um ambicioso programa de sabotagens e acções terroristas contra Cuba, com o apoio total do Governo dos Estados Unidos.


«Avante!» Nº 1341 - 12.Agosto.1999