CGTP intensifica acção em Setembro
Valorizar o trabalho
na discussão eleitoral


O conteúdo político da discussão pré-eleitoral está muito frágil, afirma a Comissão Executiva da Intersindical, que promete um mês de intervenção, de apresentação de reivindicações, de colocação de questões, de esclarecimento. «Mas não depende de nós termos, logo à noite, dez minutos de debate num telejornal sobre problemas do mundo do trabalho», alertou segunda-feira Carvalho da Silva.

O coordenador da CGTP, acompanhado de Ulisses Garrido e Maria do Carmo Tavares, apresentou aos jornalistas os resultados da primeira reunião da Comissão Executiva após o período de férias.
Desde já, a atenção foi focada no próximo Conselho Nacional, que reúne dia 9, quinta-feira. Aqui vai ser analisado o primeiro esboço dos documentos para o 9.º Congresso da CGTP, marcado para 10 e 11 de Dezembro. Mas «o cerne da reunião» vai ser a definição dos conteúdos reivindicativos da central, uns com sentido imediato, outros de curto e médio prazo (final de 1999 e ano 2000), englobando o valor do salário mínimo para o próximo ano, as reivindicações salariais, o enquadramento das férias, a matéria fiscal, entre outros pontos.
«Tendo em vista a necessidade de uma mudança muito grande das condições de vida e trabalho dos trabalhadores portugueses, estamos a preparar uma dinâmica de reflexão e acção de todo movimento sindical», disse Carvalho da Silva, adiantando que esta linha de actuação foi definida ainda antes das férias e que até 17 de Setembro vai haver em todo o País reuniões regionais e debates sobre as temáticas prioritárias.

Pontos fracos

Os dirigentes da CGTP vêem a fragilidade do debate político em alguns traços caracterizadores da generalidade dos discursos, «salvo uma ou outra excepção».
Por um lado, «fazem-se promessas de aumentos disto e daquilo – aumentos de pensões e diminuição de impostos, por exemplo –, mas nada se diz sobre a evolução dos salários, sobre a valorização daqueles que têm que produzir a riqueza». Um segundo aspecto é «a ausência da abordagem da qualidade do emprego», uma vez que o Governo e o PS, mas também outras forças, continuam a situar o problema do emprego numa discussão das estatísticas».
Também no que concerne aos horários de trabalho, «nada é assumido de compromissos» e, «salvo uma ou outra excepção, por parte de uma ou outra força política, o tema está arredado do debate político», protesta a CGTP.
A fragilidade é evidente, por fim, na discussão sobre o social, que «é falado apenas em dois sentidos: os mecanismos que possam conduzir à privatização de tudo o que pode ser rentável para o capital, e a transformação de uma responsabilidade de solidariedade em mecanismos de velha e caduca caridade», sem que haja «uma discussão séria e profunda sobre as questões do social e a solidariedade social».
A CGTP vai bater-se para alterar esta situação, classificando como «um escândalo» que, «num país que precisa de uma dinâmica de desenvolvimento, de mudanças qualitativas na sua estrutura produtiva e na sua organização do trabalho, esteja a decorrer a preparação de um acto eleitoral em que seja pura e simplesmente secundarizado o trabalho e aquilo que é essencial para o aumento de capacidade produtiva».
A central afirma que «os trabalhadores portugueses já deram demasiado para o peditório da moderação salarial», exigindo uma mudança na política salarial, e quer que, neste tempo de campanha eleitoral, «haja um debate no sentido de que no mundo do trabalho se registe o respeito das bases essenciais que garantem a dignidade de quem trabalha». Lembrando o elevado número de mortes por acidentes de trabalho e o deficiente funcionamento da justiça, Carvalho da Silva notou que «a discussão sobre a eficácia da justiça feita em torno da vida de quatro ou cinco touros, em causa nas festas de Barrancos, é cem vezes superior à discussão na sociedade portuguesa sobre a eficácia da justiça para proteger a vida no trabalho, quando temos todos os dias trabalhadores a morrerem em acidentes de trabalho, decisões dos tribunais sobre direitos dos trabalhadores que não são cumpridas».


«Avante!» Nº 1344 - 2.Setembro.1999