Governo
criou conselhos económicos e sociais regionais
CGTP
denuncia fraude
e perigos de corporativização
Na primeira reunião da Comissão Executiva da CGTP, após o período de férias, foi exigida a valorização do trabalho no debate político e foram denunciados os perigos contidos no decreto-lei 332/99, publicado a 20 de Agosto.
Este decreto, que
cria os conselhos económicos e sociais regionais, correspondendo
aos limites das CCRs, foi considerado por Carvalho da Silva como
«o diploma mais completo no sentido da fraude absoluta sobre o
que é o tripartidismo». O coordenador da CGTP, em conferência
de imprensa dada segunda-feira, salientou tratar-se de um
problema que «exige atenção de todas as entidades, sob pena de
caminharmos para uma corporativização absoluta das relações
laborais no nosso país e para uma desvalorização total do
trabalho».
Depois de lembrar a ofensiva neo-liberal que está há anos em
curso na Europa, «na tentativa de colocar os sindicatos e as
suas organizações ao nível de representação de qualquer lobby»,
referiu discussões recentes onde ficou evidente que «as
tentativas de institucionalizar este princípio foram travadas e
hoje, na União Europeia, foi retomado o tripartidismo, com
empresários, trabalhadores e interesses sociais diversos,
devendo todas as partes ter representação equitativa».
Em Portugal também se tem discutido esta matéria, no Conselho
Económico e Social, falando-se mesmo na alteração da sua
composição. Mas o Governo dá um passo no sentido contrário,
ao fazer publicar um decreto-lei que, para a CGTP, é «um
escândalo absoluto». Carvalho da Silva apontou dois casos que
justificam a indignação dos sindicalistas: «Se se cumprisse o
que vem no diploma, iríamos ter um Conselho Económico e Social
no Norte com 53 membros, dos quais 11 seriam representantes
directos ou indirectos do Governo, 8 presidentes de câmara, 9
patronais, 17 de outros interesses, 5 indicados pelo próprio
Conselho e 3 sindicais que, em última instância, a não
haver entendimento, seriam designados pelo Governo. No Centro,
seriam 3 representantes sindicais em 56 membros.»
É também criticada a forma como o diploma foi elaborado, apenas
com a audição da Associação Nacional de Municípios. «É uma
subversão do conceito de tripartidismo», protestou o
coordenador da Intersindical Nacional, acusando o Governo de
mostrar assim «a pretensão de tratar as organizações do
trabalho ao nível de um lobby qualquer».
A par de declarações do ministro Jorge Coelho, ameaçando
retomar depois das eleições a ofensiva legislativa contra o
direito às férias, a publicação do DL 332/99 «é um
muito mau indicador deste Governo», considerou Carvalho da
Silva, admitindo que «alguma coisa muito grave anda por trás
disto tudo» e prometendo que, por parte da CGTP, «procuraremos
que isto não seja cumprido».
Na Executiva foram manifestadas fortes preocupações quanto à
preparação das legislativas. «Salvo uma ou outra excepção
das forças políticas, o debate é, até este momento, um debate
profundamente fragilizado, sem conteúdos concretos, onde são
empoladas questões laterais e secundárias», alertou o
coordenador da Inter, salientando que «o País precisa de
um debate político com qualidade».