TIMOR
A luta continua !


Timor-Leste. Apesar de redigida na véspera de 30 de Agosto e muito antes de conhecidos os resultados da consulta popular, esta coluna dificilmente poderia ter outro tema. Quanto mais não fosse para endereçar uma calorosa e fraternal saudação à Resistência Timorense, ao CNRT, as Falantil, à Fretilin, ao martirizado e heróico povo timorense que neste momento crucial da sua luta libertadora está dando uma vez mais provas de admirável coragem e tenacidade. E também para confirmar que o PCP, hoje como sempre, está com o povo de Timor-Leste e que, seja qual for o desfecho da consulta popular e a situação que venha a configurar-se, os comunistas portugueses continuarão solidários com as forças patrióticas e progressistas timorenses.

Perante a onda de violência, intimidação e terror desenvolvida em Timor-Leste pelas «milícias integracionistas» e pelas forças de ocupação indonésias, ninguém se atreve a considerar que foram efectivamente reunidas as condições de uma consulta verdadeiramente livre e democrática. Em tal situação, a derrota da «integração» significará uma histórica vitória do povo timorense, confirmando inequivocamente aquilo que mais de 23 anos de resistência e luta heroica há muito já referendaram: a recusa da ocupação indonésia, o amor à Liberdade, a aspiração à independência de Timor-Leste.
Para avaliar do extraordinário alcance de um tal resultado basta lembrar que os presos políticos, a começar por Xanana Gusmão, não foram libertados; as tropas indonésias não retiraram de Timor nem foram acantonadas, mas concentraram-se novos contingentes militares junto à fronteira na parte ocidental da ilha; as forças policiais a quem competia, nos termos dos Acordos, garantir a «segurança da população», pelo contrário protegeram descaradamente a acção terrorista das «milícias»; os exilados não foram autorizados a regressar e fazer campanha. O CNRT viu sedes atacadas e destruídas e dirigentes da Resistência no interior foram forçados à semi-clandestinidade. Assassinatos na via pública, assaltos e incêndios de habitações, fuga para as montanhas de dezenas de milhar de patriotas, todo um cortejo de arbitrariedades, violências e crimes impuseram um clima de intimidação e insegurança.

Numa situação em pleno desenvolvimento complexo e contraditório seria demasiado arriscado antecipar os cenários pós-votação. É entretanto com inquietação que temos assistido às ameaças frontais por parte das «milícias integracionistas» e seus patrões indonésios de provocar uma «guerra civil» no caso da evolução do processo não ser do seu agrado. Inquietação tanto mais justificada quanto a «segurança» em Timor-Leste continue atribuída à Indonésia, ou seja ao próprio responsável por uma das mais sangrentas situações de opressão que a história contemporânea regista. Inquietação suscitada também pelo comportamento de grandes potências (EUA, Austrália, Grã-Bretanha) que, sejam quais forem as boas palavras que agora dirijam à resistência timorense, sejam quais forem as «advertências» que agora fazem ao poder indonésio, têm sido co-responsáveis pela opressão e sofrimento do povo timorense. O quadro internacional desfavorável, a posição estratégica de Timor, a existência de petróleo na região, aguçam apetites e propiciam manobras que é necessário denunciar e combater.

A justificada expectativa num resultado favorável à independência de Timor-Leste e o profundo desejo de que o «referendo» de 30 de Agosto aproxime a hora da libertação nacional do povo timorense, não deve fazer esquecer que muito caminho falta ainda percorrer e que a palavra de ordem é ainda e sempre a de solidariedade. Portugal, que assume particulares responsabilidades no processo de Timor, não deverá faltar com a sua. Nunca perdendo de vista - contra quaisquer tentações de aproveitamento político-partidário, que a questão de Timor-Leste é uma questão de Estado, solenemente inscrita na Constituição da República, em torno da qual deve procurar construir-se o maior consenso nacional possível.
Quanto a nós comunistas não faltaremos com a nossa, nomeadamente durante a Festa do «Avante!» O acto «Solidários com Timor» que terá lugar às 19h do próximo sábado na Cidade Internacional, será certamente expressão dos sentimentos de fraternal amizade do nosso povo para com os nossos irmãos timorenses nesta hora decisiva de esperança e de luta. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1344 - 2.Setembro.1999