O PSD de Durão Barroso
- «um tigre de papel»


Passaram pouco mais de cinco meses desde que se finou a AD, sufocada numa «vichyssoise» de Universidade Moderna e intrigalhadas diversas. Começou então o «ciclo Durão» e foi grande o entusiamo dos «media» e dos barões. Em 1 de Abril, ironia de «dia das mentiras», o «Público» afirmava: «Durão faz subir o PSD». Mas hoje, à beira da campanha eleitoral, o PSD mais faz lembrar «um tigre de papel», como diria o maoí sta Durão dos idos de 1975.

Há pouco mais de cinco meses, com o PP atascado na lama da Universidade Moderna e os «media» na onda do ministro Jorge Coelho para implodir a AD, Durão Barroso apareceu como a nova estrela do PSD, a salvação da direita em crise, o predestinado e desejado «principe herdeiro» do «cavaquismo» que finalmente reclamava o trono.
Mas passam as modas mediáticas (e Jorge Coelho vela por isso) e hoje, uns curtos quatro meses após o congresso de Coimbra o ter eleito presidente do PSD, a tónica alterou-se, fala-se agora de «líder fraco», de «PSD sem comando» e em «perda» e de «contestação a Durão», e data-se a próxima «noite das facas longas» para 10 de Outubro e o próximo Congresso para Novembro.
Para este acervo de comentários e ideias feitas da «opinião publicada», pesam, é evidente, a actual e bem efectiva conivência do PS com o PP do inenarrável Portas, mas pesam também elementos essenciais da realidade política, que embora muitas vezes escamoteados, repercutem nas políticas, nas propostas e na «prestação» de Durão e do PSD.
O PSD nasceu como um híbrido de «recém-democratas», caciques e barões em busca do poder ou da sua recuperação e essa génese acentuou-lhe o carácter de «partido instrumento» dos interesses dos poderosos, «partido de aparelho de poder» e «partido de clientelas».
Ora o que se passa hoje em dia é que, como o PCP tem afirmado e é reconhecido por muitos «comentadores», o PS serve «abnegadamente» esses grandes interesses e cumpre os papeis e as políticas de direita, e fá-lo, até ver, com vantagens, pelo menos formais, para o grande capital.
O PSD de Durão, como aconteceu com o PSD de Marcelo, está refém das opções instrumentais pelo PS do grosso dos grandes senhores do dinheiro, está expropriado de altenativas nas políticas mais essenciais e estruturantes e está desertificado de clientelas pelo sinecurismo orientado do Governo PS.
Aliás, quando o PSD assume o objectivo de «fazer mais e melhor», obviamente das mesmas políticas que faz este Governo, está simultaneamente a elogiar as políticas (de direita) do PS, a reconhecer que não tem propostas de política essencialmente novas nem alternativas e a perfilar-se para continuar essas políticas com alterações em quantidade e grau.
É por isso que a «oposição» do PSD se fica pelo manobrismo e manipulação da opinião pública, pelo assessório e politiqueiro e nunca chega ao estrutural, ao poder económico e à repartição de rendimentos.
Por isso, como alerta o PCP, não se ouve o PSD, tal como não se ouve o PS ou o PP, a tomar partido pelos trabalhadores, pela defesa dos seus direitos, ou pelo aumento dos salários.
Por isso o PSD dramatiza até ao absurdo e sem qualquer respeito pela verdade, as «viagens fantasma», para fazer constar que os partidos são todos iguais e escamotear responsabilidades, fingindo reclamar inquéritos parlamentares que, se assim quizesse, podia impôr potestativamente.
Por isso Durão entra desbragadamente nas promessas do «bacalhau a pataco» as chamadas «5 medidas», que só comprometem quem nelas acreditar.
Por isso acena ao capital financeiro com os «pactos de regime», comprovando a vontade de o servir ao menos tão bem como o PS, e reivindica a privatização da Caixa Geral de Depósitos, antes que Guterres a implemente sem aviso prévio.
Neste quadro, porque é que quem quer que esteja de acordo com as políticas de direita mudaria o sentido do seu apoio e do seu voto do PS para o PSD?
E a não ser que Cristo desça de novo à terra, não se descortina a possibilidade do PSD alterar a seu favor a situação e as expectativas eleitorais.
Por isso, pese embora Durão tenha algumas «saídas» a roçar o desastre, faça-se-lhe a justiça de reconhecer que qualquer outro putativo presidente do PSD, estaria em dificuldades quejandas.
De facto, até ver, o PSD mais parece «um tigre de papel».
E, também por isso, não existe qualquer perigo de regresso da direita ao governo.
A questão é assim a de colocar o PS em minoria inequívoca, para que não possam piorar ainda mais as suas políticas de direita.
E o caminho é o do reforço do PCP e da CDU para uma viragem à esquerda e uma política de esquerda em Portugal. Carlos Gonçalves


«Avante!» Nº 1344 - 2.Setembro.1999