Sindicatos
no balanço da legislatura
Nem
os que fazem as casas
podem ter habitação digna
O lançamento de um imposto sobre o património teria evitado que os donos dos prédios os deixassem degradar e levaria a que habitações hoje devolutas fossem recuperadas para o mercado de arrendamento, defende a estrutura sectorial da CGTP.
Os trabalhadores da
construção civil, que todos os dias estão expostos ao perigo,
não têm acesso a uma habitação, protestou na semana passada a
Federação dos Sindicatos da Construção, Madeiras, Mármores e
Materiais de Construção.
Em conferência de imprensa dada na sede da CGTP-IN, a
federação reafirmou a exigência de um plano nacional de
habitação, assente em três pilares: a construção de
novas habitações, a recuperação de imóveis degradados e a
manutenção do parque habitacional em boas condições.
Relativamente a cada um destes pontos, foi comentada a actual
situação e o papel do Governo e da maioria que lhe deu sustento
desde as eleições de 1995.
Quanto a novas construções, «foram dados alguns passos», mas
«ficaram aquém das necessidades». Por outro lado, «o Governo
transferiu as suas responsabilidades para as autarquias, em
matéria de habitação social a preços controlados».
A baixa das taxas de juro, entretanto, «contribuiu para que a
situação não seja ainda pior que a anterior», mas quem mais
beneficiou com a descida dos custos do crédito «foram os
construtores e os promotores imobiliários», que fizeram
aumentar o preço dos apartamentos, mantendo os valores das
prestações mensais pagas pelo comprador.
Embora necessário, «não existe um controlo de qualidade das
habitações» e «em muitos casos, nem sequer é feito o
saneamento básico e demais infraestruturas», diz a federação.
«O Governo tem permitido que, nos grandes centros urbanos, caso
de Lisboa e Porto, existam milhares de casas vazias, que não
são alugadas, para ver se o destino final do prédio é a
derrocada», acusaram os sindicalistas, afirmando que os
proprietários só têm esta atitude «porque o actual Governo e
os anteriores não tiveram a coragem de lançar um imposto sobre
o património».
A conservação dos imóveis é imposta por «uma lei já
bastante antiga», que o Governo de António Guterres «mais uma
vez não teve a coragem» de fazer cumprir.
A par destes problemas, a federação aponta ainda os baixos
salários praticados no País, entre outros motivos que «privam
milhares de portugueses de terem uma habitação digna». «Uma
família no activo, que recebe o ordenado médio, não tem
condições para pagar uma habitação», diz-se no documento
distribuído à imprensa, que vê como «mais grave ainda» o
facto de, com os salários praticados no sector, os trabalhadores
da construção também verem negado o direito à habitação,
apesar de todos os dias ficarem «expostos ao perigo», conclui a
federação, lembrando que «só no período de vigência do
actual Governo perderam a vida, em acidentes de trabalho, pelo
menos 780 trabalhadores».