Timor
Xanana em
Portugal
«O
verdadeiro herói
é o povo de Timor-Leste»
«Timor vencerá!», foi um dos slogans repetidos nestes dias de permanência de Xanana Gusmão em Portugal. Um grito que se repetiu nos vários contactos com a população. Ao longo do percurso pelas ruas de Lisboa, logo após a chegada ao aeroporto Militar de Figo Maduro, frente à Assembleia da República, onde se juntaram milhares de pessoas para aclamar o dirigente timorense, no encontro no Parque das Nações. Testemunho de solidariedade. Afirmação do direito do povo timorense a construir, em paz, o seu país hoje devastado.
Xanana Gusmão pisou
terra portuguesa na manhã de dia 2, para uma sucessão de
contactos oficiais e momentos de encontro com a população e, em
particular, com a comunidade timorense. Uma visita que foi de
conhecimento mútuo e, simultaneamente, dirigida para a
concretização de uma indispensável solidariedade, neste
momento mais direccionada para o auxílio humanitário e a
reconstrução.
Recebido como chefe de Estado, Xanana Gusmão teve um primeiro, e
emotivo, contacto com o Presidente da República, a que se seguiu
um almoço com a presença de todos os dirigentes dos partidos
com acento na Assembleia na República.
Nas declarações à imprensa, no Palácio de Belém, Jorge
Sampaio deixou duas mensagens muito claras: a necessidade de a
Indonésia deixar «de facto» Timor-Leste e de repelir qualquer
tentação paternalista, insistindo na ideia de que as decisões
respeitantes a Timor «serão dos timorenses».
Dos momentos de encontro e de convívio, passou-se para o debate
da solidariedade concreta ao nível institucional, tendo ficado
definido, com o governo português, que a prioridade da
cooperação, por parte do nosso país, para estes primeiros
anos, está na formação e qualificação profissional. De
imediato, informou o primeiro-ministro, vão ser atribuídas 300
bolsas para jovens estudantes e quadros. Medidas que decorrerão,
naturalmente, de par do apoio humanitário de emergência.
Neste quadro, está prevista a criação de um Grupo de
Ligação, formado por representantes de Portugal e do Conselho
Nacional da Resistência Timorense (CNRT), para identificar
prioridades a curto e médio prazo.
Na Assembleia da República, o momento seria igualmente de
emoção e de muito optimismo. Promessas de ajuda entremeadas de
alertas, pois os momentos que se vivem são ainda bem difíceis e
complexos os caminhos da construção da jovem democracia. «O
verdadeiro herói é o povo de Timor Lorosae», lembrou Xanana na
sua intervenção no hemiciclo.
Quando o dirigente timorense chega finalmente à varanda da AR,
sucedem-se as palavras de ordem de solidariedade, agitam-se
lenços brancos. Mais uma manifestação de solidariedade. Agora
revestindo-se de particular significado. A presença de Xanana em
Portugal simboliza uma outra fase na vida do povo timorense. Na
conferência de imprensa que se seguiu à reunião de trabalho
com o primeiro-ministro, Xanana anunciou que conta estar em Díli
«na segunda quinzena de Outubro». O momento é de avançar
rapidamente na reconstrução do território, preparando-o para a
independência.
Tempo de «solidariedade activa», como sublinhou Carlos
Carvalhas no final do encontro com o dirigente timorense, em que
também participou o líder parlamentar do PCP, Octávio
Teixeira.
Carvalhas sublinhou a necessidade de apoiar Timor-Leste na fase
de reconstrução e desenvolvimento do território, sendo de
particular importância «fazer todo o possível para que a causa
(timorense) não esmoreça».
Da necessidade de apoio a Timor-Leste, falou também,
naturalmente, Xanana Gusmão, no encontro com a Plataforma das
ONG portuguesas, defendendo que 2000 deve ser o ano de
emergência para Timor-Leste.
Preocupação a que se junta uma outra. Xanana Gusmão
identificou como um dos problemas mais graves a presença, em
Timor Ocidental, de populações deslocadas e que não podem
voltar a suas casas, pedindo às ONG a sua colaboração para que
aqueles timorenses possam regressar á sua terra.
Momento de emoção maior e mais sentida foi, sem dúvida, o
encontro de Xanana e do bispo de Díli, Ximenes Belo, com a
comunidade Timorense, no Parque das Nações, em Lisboa.
O dirigente da resistência timorense foi ainda recebido, em
júbilo, por mais de três mil pessoas, a quem agradeceu,
emocionado, o apoio e solidariedade do povo português que tem
«sofrido uma dor comum por um povo pequeno e indefeso».
A cerimónia que juntou Xanana Gusmão e a comunidade timorense
terminou com todos os presentes a cantar, de mãos dadas, uma
canção sobre os timorenses na diáspora.