Áustria
Extrema-direita
ganha terreno
Os resultados das eleições legislativas austríacas, realizadas no domingo, reflectem o descontentamento com o governo de coligação do SPOE (social-democratas) e do OEVP (democratas cristãos) e marcam uma preocupante subida da extrema-direita, com o Partido Liberal da Áustria (FPOE) a afirmar-se como segunda força, com 27,2 por cento dos votos e 53 lugares no parlamento.
Pela primeira vez
desde a II Guerra Mundial e a criação da Segunda República em
1945, o Partido Liberal da Áustria (FPOE), de extrema-direita,
surge como a segunda força política do país. Os resultados
são ainda provisórios, mas a subida é motivo de preocupação
enquanto reveladora de sentimentos que há muito deveriam estar
ultrapassados. O FPOE, liderado por Jörg Haider, apresenta
ideias xenófobas e racistas (a Áustria conta com 12,5 por cento
de imigrantes), propostas demagógicas e populistas, e candidatos
bem conhecidos como um ex-campeão olímpico e mundial de ski
e uma popular apresentadora de televisão. Entre as promessas da
extrema-direita conta-se, por exemplo, o pagamento a cada mãe de
um cheque mensal de mais de 80 contos por cada criança com menos
de seis anos de idade.
De referir que em 1986, quando Haider assumiu a liderança do
FPOE, o partido não tinha mais de cinco por cento dos votos.
Agora, mais de um em cada quatro eleitores votou nas suas
propostas.
Segundo a generalidade dos comentadores, esta viragem do
eleitorado à direita deve-se não tanto à existência de
grandes problemas, mas ao desencanto com o imobilismo e à
acomodação da social-democracia no poder.
Negociações difíceis
O presidente Thomas
Klestil começou segunda-feira as conversações com os
dirigentes dos quatro partidos com representação parlamentar
para a formação do novo governo, mas a tarefa de criar o
próximo executivo parece difícil.
O problema não radica no facto de o SPOE ter descido de 38,1 por
cento para 33,4 por cento e o OEVP de 28,3 por cento para 26,9
por cento, já que os seus votos, somados, continuam a constituir
uma maioria; o problema está no facto de os democratas cristãos
se recusarem a fazer parte do governo sendo o terceiro partido
mais votado. Por isso todos esperam agora a próxima
terça-feira, data em que será conhecido o resultado da
votação por correspondência, cerca de 200.000 votos, que
poderá inverter a correlação de forças: apenas 14.000 votos
separam o OEVP do Partido Liberal.
«Os Verdes» aumentaram o seu eleitorado, subindo de 4,8 por
cento (nove deputados) para 7,1 por cento (13 deputados). O Forum
Liberal, por seu lado, desceu de 5,5 por cento (dez deputados)
para 3,4 por cento, perdendo a representação parlamentar.
O chanceler Viktor Klima admitiu já que «a social democracia
recebeu uma grave e dolorosa advertência», mas sublinhou que
«o SPOE é o partido mais votado, com mais seis por cento dos
votos do que o seguinte. Espero poder formar governo e evitar
cometer os erros do passado.»
Preocupação na Europa
As reacções à
subida da extrema-direita não se fizeram esperar. Segundo a
Lusa, a União Europeia está preocupada com o facto de o avanço
do FPOE poder abrandar o processo de alargamento aos países de
Leste.
O Governo da Eslovénia manifestou igualmente apreensão.
«Seguimos estas eleições com grande atenção e também
preocupação pela viragem do eleitorado para a direita»,
afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros esloveno, Boris
Frlec, acrescentando que espera que a «Áustria conte dentro em
breve com um novo governo que não condicione com questões
bilaterais pendentes as relações multilaterais e a nossa
inclusão na velha Europa».
Os EUA também se pronunciaram sobre o ressurgimento das ideias
xenófobas ou pró-nazis na Áustria. O porta-voz do Departamento
de Estado, James Rubin, declarou que nas discussões que o
governo norte-americano tem mantido com o líder da
extrema-direita «sublinhámos a nossa forte oposição a
qualquer declaração ou política que possa ser interpretada
como xenófoba ou favorável ao regime nazi». Uma posição que
não impede as relações com Haider, pois como Rubin sublinhou
Washington mantém «contactos com todos os principais partidos»
austríacos e tem «excelentes relações com a Áustria».
Israel, por seu lado, sublinhou esperar «que o próximo governo
austríaco seja baseado nos partidos democráticos esclarecidos e
não em elementos extremistas que despertam muito más
recordações».
Quanto ao Congresso Mundial Judeu considerou «uma vergonha para
a Áustria o avanço de Haider no espectro político».