Os 50 anos
da República Popular da China
Meio
século de história
A República
Popular da China fez 50 anos no dia 1. Neste meio século, o
país mais populoso do mundo sofreu mudanças profundas que o
transformou completamente.
Disso falou o primeiro-ministro, Zhu Rongji, na
sexta-feira, perante meio milhão de pessoas na Praça Tiananmen,
em Pequim, durante as comemorações oficiais do aniversário:
«Povos de todas as etnias da China, trabalhando arduamente em
unidade e avançando diante de todos os obstáculos e
dificuldades, transformaram a face do nosso país.»
«Prosseguiremos a política de reunificação pacifica de Taiwan
com o continente, depois termos conseguido acordos sobre Hong
Kong e Macau», afirmou na ocasião o presidente chinês, Jiang
Zemin, acrescentando que «a reunificação total da pátria e a
manutenção da sua segurança são o fundamento para o grande
renascimento da nação chinesa e a vontade inabalável de todo o
povo chinês».
No dia 1 de Outubro de 1949 a República Popular da China
foi proclamada por Mao Tsé Tung, depois de uma longa guerra
civil contra a ocupação japonesa e depois contra os exércitos
nacionalistas de Chang Kai Chek. Nada ficou como dantes. A China
sofreu uma mudança profunda, tanto a nível político, como
económico e social.
Qual o caminho percorrido por um país milenar, com registos
históricos que remontam ao ano 2000 a.C. e cuja unificação se
deu em 220 a.C.? Como chegou a uma República Socialista, um
país que durante milénios se fechou ao exterior?
O estrangeiro e as suas influências, até então repelidos,
começaram a infiltrar-se na China através do ópio, produto
indiano imposto pelos ingleses para pagar as suas importações
de chá, seda e porcelana. A Guerra do ópio (183 9-42) marcou a
abertura da China ao mundo, com a assinatura do Tratado de
Nankin, seguido em 1885 pelo Tratado de Shimonoseki, que pôs fim
à Guerra Sino-Japonesa e que resultou na perda de território
que corresponde à península coreana, a Taiwan e ao arquipélago
dos Pescadores.
Enfraquecido e liderado pela impopular dinastia Quing, a China
assistiu a várias revoltas, como a do exército de Taiping e a
dos Boxers, derrotadas com a ajuda de forças inglesas,
norte-americanas, alemãs, francesas e japonesas. O país foi
então dividido em «zonas de influência» dos vencedores.
Em 1911, a República Chinesa foi proclamada, em Nanjing, por um
grupo de nacionalistas encabeçados por Sun Yat-Sen. Os frutos
desta vitória cedo foram comprometidos com as concessões à
burguesia chinesa. Em 1919, o Movimento 4 de Maio,
anti-imperialista e anti feudal, fez a transição para uma nova
revolução.
Em 1924, o Partido Comunista da China (PCC) e o Partido
Nacionalista Kuomitang (PNK) aliam-se, mas a aliança é quebrada
em 1927, quando a ala direita do PNK, liderada por Chang Kai
Chek, tenta um golpe de Estado. Inicia-se, então, uma guerra
civil de 22 anos que opôs comunistas e nacionalistas.
Os adeptos do PCC, liderados por Mao Tsé Tung, empreendem a
«Grande Marcha», de sul para norte. Entretanto, em 1937, o
Japão inicia uma campanha de agressão contra a China, repelida
pelos comunistas. Só em 1949 o PCC vence o PNK, fundando a
República Popular. Chang Kai Chek refugia-se em Taiwan, onde
implanta uma república nacionalista.
As primeiras medidas da nova China são a instituição de uma
profunda reforma agrária e a industrialização rápida do
país, com a produção de automóveis, aviões, maquinaria
pesada, máquinas de alta precisão, equipamento de geração de
energia, equipamento metalúrgico e de exploração mineira, etc.
Mao Tsé Tung iniciou, em Maio de 1966, a «Revolução
Cultural», prolongada até Outubro de 1976, um período de
revisão política que, segundo o PCC, provocou os maiores
retrocessos e as maiores perdas ao país desde 1949. Em 1977,
Deng Xiaoping volta a desempenhar as funções no Partido
Comunista e no Governo de que havia sido demitido durante a
«Revolução Cultural».
A partir de 1979, a China principia uma política de reforma e de
abertura ao exterior, tendo como principal objectivo a
modernização do país e o reajuste da estrutura económica e a
reforma do sistema político.
Mudanças profundas
Fruto de uma cultura
milenar e de uma tradição em inúmeros aspectos diferente da
ocidental, a China de 1999 encara o futuro com optimismo. Olha
para trás, estuda a sua História e inevitavelmente faz
comparações.
O país sofreu mudanças profundas em vários aspectos nos
últimos anos: nível de vida, habitação, escolaridade, saúde,
etc. Essas transformações são visíveis nos dados fornecidos
pelo Governo chinês, que nos mostram valores anteriores à
fundação da República Popular da China e números do ano
passado.
Hoje a China é, como se sabe, uma nação superpovoada, mas nem
sempre assim foi, devido às altas taxas de mortalidade que
acompanharam as catástrofes e as guerras sucessivas que
assolaram o território.
Em 1949, a taxa de natalidade era de 37 por cento, a taxa de
mortalidade de 18 por cento e a esperança de vida de apenas 35
anos. Em 1998, em grande medida em resultado do planeamento
familiar implantado na década de 80, a taxa de natalidade
diminui para os 16 por cento, a taxa de mortalidade passou para
os 6,5 por cento e a taxa de crescimento demográfica natural foi
de 9,5 por cento. A esperança de vida é de 70 anos, sendo
superior ao nível médio mundial.
A educação sofreu profundas mudanças. Em 1949, mais de 80 por
cento dos adultos eram analfabetos, enquanto a taxa de
escolaridade das crianças em idade escolar rondava os 20 por
cento. A maioria da população não tinha meios para frequentar
a escola.
Com a fundação da República Popular da China e nomeadamente
com a introdução do sistema de ensino obrigatório de nove
anos, a educação generalizou-se. No ano passado, 98,9 por cento
dos chineses tinham frequentado a escola primária e 87 por cento
o ensino secundário. A taxa de analfabetismo dos adultos baixou
para apenas 6 por cento.
A saúde é outra área em que se verificou uma grande
evolução. Em 1949, num país com 500 milhões de habitantes,
havia cerca de 3 mil hospitais e clínicas, com 80 mil camas (1,5
cama para 10 mil pessoas) e empregando 500 mil pessoas (menos de
um médico por mil habitantes).
Em 1998, a China possuía 310 mil hospitais e clínicas,
equipadas com 3,14 milhões de camas e funcionando com 4,42
milhões de efectivos, de onde 1,41 milhões eram médicos. Havia
ainda quase 6 mil instituições de prevenção, empregando 220
mil funcionários. Doenças como a difteria, a poliomielite ou o
tétano estão sob controlo ou mesmo erradicadas.
Economia
Em 1949, a
agricultura e o artesanato tradicional representavam 90 por cento
da economia nacional, enquanto a indústria se ficava em 10 por
cento. Apenas uma pequena parte dessa indústria usava uma
tecnologia avançada. Segundo um estudo realizado em 1947, das 14
mil empresas existentes na época, só 3 mil utilizavam motores
eléctricos e empregavam mais de 30 pessoas. Mais de 70 por cento
das indústrias situavam-se nas regiões costeiras de leste, que
representavam menos de 12 por cento do território nacional.
Por outro lado, a China, um país proeminentemente agrícola, com
90 por cento da população a trabalhar nesta área da economia,
pouco havia desenvolvido as suas técnicas nos últimos mil anos:
o trabalho continuava a ser suportado pelos homens e pelos
animais.
Em 1949, a produção chinesa de aço representava um por cento
do total mundial, a de electricidade de 5,6 por cento e a de
petróleo era mínima. Embora os produtos agrícolas estivessem
em posições cimeiras a nível do planeta, a produção per
capita era muito modesta.
Nos últimos 50 anos, o crescimento da economia chinesa
multiplicou-se por 50, com um ritmo de crescimento anual de 8,3
por cento. Este ritmo, com esta duração, é um recorde mundial.
A taxa de crescimento da indústria multiplica-se por 381 e a da
agricultura por 20.
Em 1998, entre os principais produtos industriais, a produção
de aço, de carvão, de cimento, de adubos químicos e de
televisores ocupam o primeiro lugar no ranking mundial, ao
passo que a produção de electricidade e de fibras químicas
ocupam o segundo. Na agricultura, a produção de cereais, de
algodão, de amendoim, de colza (couve-nabiça) e de fruta estão
em primeiro a nível do mundo. A produção de chá está em
segundo lugar.
De acordo com o último relatório do Programa das Nações
Unidas para o desenvolvimento (PNUD), a China atingiu «um
rápido crescimento económico», ligando «esse crescimento ao
avanço no desenvolvimento humano e à redução da pobreza».
O índice de desenvolvimento humano (IDH) em 1997 foi de 0,701,
acima da média dos países de desenvolvimento humano médio
(0,662) e semelhante à média do IDH no total do mundo (0,706),
isto é, com países altamente desenvolvidos incluídos.
PCP saúda 50 anos da Revolução
O Comité Central do PCP enviou uma saudação ao Comité Central
do Partido Comunista da China, aos comunistas chineses, aos
trabalhadores e ao povo da China por ocasião do 50.º
aniversário da proclamação da República Popular da China.
«Acontecimento revolucionário de projecção mundial neste
século, a criação da República Popular da China em 1949 - no
seguimento de largas décadas de lutas heróicas para pôr fim ao
domínio semi-feudal e semi-colonial então vigente, para vencer
a agressão japonesa e a intervenção de outras potências
imperialistas, para alcançar a liberdade, a independência e o
progresso social das massas trabalhadoras do país mais populoso
do mundo - abriu uma nova época na história da milenar
civilização chinesa», lê-se na mensagem.
«Propondo-se a construção do socialismo nas específicas e
difíceis condições prevalecentes, as massas trabalhadoras, sob
a direcção do Partido Comunista da China, alcançaram enormes
progressos num tormentoso e complexo caminho, que conheceu
trágicos erros e foi atravessado por graves contradições. A
sua superação foi no passado e é no presente e no futuro o
garante dos sucessos, acelerados nas últimas décadas»,
considera o CC.
«Numa situação internacional, política, económica e social
que se agravou seriamente na última década, com a radical
modificação da correlação de forças decorrente do
desaparecimento da URSS e do sistema socialista mundial, com a
crescente instabilidade do capitalismo e agressividade
imperialista, com o aprofundar das desigualdades sociais no mundo
- a República Popular da China entra no século XXI reafirmando
como seu objectivo a construção de uma sociedade socialista no
seu país e o seu empenho na criação de uma ordem internacional
de paz, de cooperação e respeito pelas soberanias nacionais, de
justiça e progresso social.»
«O PCP reafirma ao Partido Comunista da China o seu empenho em
manter e desenvolver, na base do respeito mútuo, as relações
de solidariedade internacionalista existentes entre os nossos
dois Partidos, bem como as relações de amizade entre os povos
dos nossos dois países», conclui o CC.