O secretário de Estado
da asneira política...


O jornal Tal & Qual, do dia 29.05.98, publicava uma peça jornalística deveras interessante, com o título «As bases da carreira», onde se escrevia: «Polícia Judiciária (…), onde Armando Vara – segundo é voz corrente no "parlatório" da instituição da Gomes Ferreira – construiu as bases da sua meteórica carreira política, mercê de informações confidenciais recolhidas subrepticiamente junto de fonte privilegiada sobre o passado criminalmente nada abonatório de alguns dos seus pares correligionários e não só.»
O jornal
Tal & Qual acrescentava que o autor desta prosa é o jornalista Manuel Geraldo.

Trata-se do político que se candidatou à presidência do Município da Amadora, nas autárquicas de Dezembro de 1993, com o principal objectivo de combater os comunistas e retirar-lhe a presidência da Câmara (como chegou a afirmar à comunicação social). Para um político que se afirma socialista, é deveras elucidativa uma opção desta natureza. A sua preocupação e o seu adversário político não eram os partidos e as políticas de direita; antes, o que lhe tirava o sono, o que o fazia concorrer, era o combate aos comunistas. Felizmente, como se sabe, perdeu essa batalha. Nesse ano, a CDU voltou a ganhar.
No ano passado e no afã de mostrar «trabalho», ou de «tapar o sol com a peneira», depois de um Verão de grandes incêndios, em vez de reconhecer o falhanço das políticas implementadas para o sector – mau grado os elevados investimentos aí aplicados – responsabilizou os pastores pelo elevado número de incêndios. Tendo mesmo afirmado do alto do seu cargo: «O Governo vai proibir a pastorícia, nas áreas ardidas, nos anos seguintes aos fogos.» O secretário de Estado sabia e sabe que as populações rurais e consequentemente os pastores são os primeiros a sofrer com as consequências dramáticas dos incêndios. Claro que, como era inevitável, confrontou-se com uma posição pública de repúdio pelas suas declarações, por parte da Associação dos Pastores Transmontanos e do Secretariado dos Baldios de Trás-os-Montes.

Fogos eleitorais

Este ano resolveu voltar ao mesmo tema, só que com uma pequena diferença. Em vez de fazer o balanço dos incêndios verificados no final do Verão, logo, em plena Primavera, afirmou: «Em ano de Eleições Legislativas há sempre mais fogos.»
A gravidade desta afirmação é óbvia. Muito mais vinda dum responsável governamental. Que se saiba, até hoje, não é pública qualquer iniciativa, pelo menos, do Ministério Público, exigindo do cidadão e secretário de Estado explicações acerca de tão peremptória afirmação. A opinião pública, certamente, gostaria de saber como é possível afirmar-se antecipadamente, com tanta certeza, que irá haver mais fogos. É que, com declarações destas, todas as ilações são possíveis, incluindo pensar que se sabe mais alguma coisa…
Claro que a questão central é outra. O combate sério e eficaz aos fogos florestais não passa por campanhas demagógicas e eleitoralistas ou por acusações a terceiros. Os fogos só poderão ter uma redução substancial se forem atacados os interesses criminosos que se escondem, em muitos casos, por detrás dos incêndios florestais.
Prevenir é, a palavra chave. Porque é assegurar uma política florestal que devolva às nossas florestas a sua capacidade de autodefesa. Prevenir implica, por parte do Governo, uma vontade política clara de romper com uma visão economicista da floresta, que reduz as suas funções à produção lenhosa e à pasta de papel, é dar passos decisivos e urgentes na implementação de uma floresta de uso múltiplo, valorizando as suas funções ecológicas, económicas e sociais, devolvendo-lhe a sua diversidade.


«Tolerância zero»

Restava a campanha da «Tolerância Zero». Contudo, até esta «jóia da coroa» é posta em causa. Ver página 8 do Expresso (18/09/99), onde se escreve: «Quando o programa da "Tolerância Zero" nas estradas portuguesas, actualmente em vigor em cinco vias, está quase a cumprir o primeiro aniversário, duas vozes do comando da GNR (um deles o n.º 1 da Brigada de Trânsito) lançam críticas à operação.» O Comandante Geral em funções na GNR, major-general Leonel Carvalho, disse ao Expresso «subscrever» as declarações do comandante nacional da Brigada de Trânsito, tenente-coronel Lourenço da Silva.
Para além destas críticas, a dúvida que assalta todos os portugueses é a seguinte: se nas cinco vias abrangidas pela «Tolerância Zero» não se faz mais do que exigir aos condutores o cumprimento integral do Código da Estrada, será que se está permitir, mesmo que indirectamente, que o mesmo não seja respeitado, nas restantes estradas do País? Depois há ainda uma outra vertente não menos importante, ou seja, a responsabilidade que cabe ao Estado na construção, sinalização e conservação, em segurança, das estradas portuguesas.
Os «problemas de mercearia» os «deputados de paróquia», as «universidades virtuais», etc., etc. – são, provavelmente, outras tantas asneiras políticas. — José Brinquete


«Avante!» Nº 1349 - 7.Outubro.1999