Comício em Loures
A vitória da esquerda é com a CDU


A escolha do local talvez não tivesse sido a melhor, mas a instabilidade do tempo não oferecia outras alternativas. O certo é que o cinema de Loures foi manifestamente pequeno para acolher as muitas centenas de pessoas que na segunda-feira quiseram participar no comício que a CDU aí realizou. Mas o som dava para a rua, permitindo a quem já não conseguiu entrar, acompanhar primeiro a animada actuação dos «Meninos da Avó» e, a seguir, os três oradores da noite.

Fernanda Santos, membro da Comissão Concelhia de Loures do PCP que presidiu ao comício, lembrou que naquele dia se estava a comemorar também a implantação da República que, em Loures, como é sabido, foi instaurada a 4 de Outubro.
Ana Paula Assunção, a primeira oradora, iniciou a sua intervenção referindo a vontade que sentia de convidar «os que nesta altura da campanha aparecem a meter medo às pessoas» a irem ali «conhecer a cara» da gente «que fez não apenas o 4 de Outubro mas lutou também contra 1926, preparou o 25 de Abril, soube vencer o cavaquismo e está aqui novamente disposta a lutar por uma mudança de política». Depois de fazer um curto balanço ao que tem sido a política do PS, Ana Paula Assunção considerou ser fácil verificar a diferença existente entre o discurso político do PS e a sua prática política. E lembrou o incumprimento de muitas das suas promessas, fossem em relação à reposição da idade da reforma das mulheres para os 62 anos, à qualidade da saúde - num concelho, onde apesar de o município ter há tempo disponibilizado um espaço para a construção de um hospital este continuar por criar, ao ensino ou ao emprego.
Por isso, «para que as coisas não fiquem na mesma», é preciso votar CDU, é preciso continua a gritar que «queremos mais democracia e mais igualdade», e sobretudo, «queremos ser mais, queremos o direito à felicidade».
João Geraldes, candidato da ID nas listas da CDU, começou por lembrar que nestas eleições não há o risco de regresso dos partidos da direita ao poder. O «que não significa que esteja afastado o perigo da continuação de uma política de direita».

A prática de quatro anos

O que «a prática de quatro anos demonstrou» foi que «nas questões essenciais», o governo socialista prosseguiu e aprofundou a política de ataque aos interesses dos trabalhadores, aliando-se «preferencialmente à direita e aos partidos que a representam na Assembleia da República».
Na verdade, o Governo PS aumentou o fosso entre ricos e pobres, mesmo numa «fase de crescimento do ciclo económico do sistema capitalista internacional», não aumentou os salários e pensões de reforma reais, agravou as condições de vida dos trabalhadores, diminuiu o peso dos salários e das pensões no rendimento nacional, não concretizou uma única das grandes reformas estruturais democráticas que o nosso país carece.
João Geraldes diz que «se o governo governou mal em maioria relativa nos últimos quatro anos não poderá governar bem em maioria absoluta nos próximos quatro anos». Por isso, é necessário aumentar o número de deputados eleitos da CDU na Assembleia da República, disse, garantindo que «a única via para alcançar a viragem à esquerda que o país necessita é reforçar a capacidade da CDU de influenciar o poder em Portugal». Pois o voto na CDU «serve sempre para derrotar os partidos da direita mas serve também para derrotar a política de direita». — Margarida Folque

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Carlos Carvalhas confiante num bom resultado
Cresce onda de simpatia

 
Frequentemente interrompido pelos aplausos de uma assistência vibrante, o secretário-geral do PCP iniciou a sua intervenção, em Loures, informando sobre a grande simpatia, apoios e declarações de incitamento que a CDU tem recebido e a devem levar a prosseguir o esclarecimento até 10 de Outubro.

Em relação à campanha dos outros partidos, Carlos Carvalhas considera que nada têm dito. Concretamente o PS «está mortinho para que passe esta campanha eleitoral sem se responsabilizar por nada». Apenas, e a pretexto de uma suposta estabilidade, «continua a pedir maioria absoluta».
«Mas que estabilidade?», pergunta o secretário-geral do PCP. «A estabilidade dos reformados e dos desempregados? A estabilidade dos agricultores que não vêem saída para os seus produtos?. A estabilidade dos pescadores, que têm que abater os seus barcos ou se vêem perseguidos muitas vezes pelos portugueses, enquanto os espanhóis podem pescar nas nossas águas?».
Mas «a ambição de poder absoluto é tal que tudo vale». E à pergunta feita recentemente por António Guterres num comício, sobre se «alguém acreditava que ele seria capaz de usar o poder absoluto contra os direitos dos cidadãos», Carlos Carvalhas pergunta se é ou não verdade que, se o PS tivesse tido o poder absoluto o pacote laboral tinha passado, «com limitação e retirada de direitos aos trabalhadores e trabalhadoras? Que as incineradoras de Maceira e Souselas tinham ido para a frente, contra a vontade das populações? Que o favoritismo e o clientelismo teria sido ainda pior?»
Aliás, Carlos Carvalhas lembrou a António Guterres o que ele, há quatro anos, jurara: que o PS não cometeria «dois pecados capitais para o cavaquismo: o clientelismo e a arrogância».
Quanto ao clientelismo, bem... em quatro anos, e com maioria relativa, «foram só onze mil nomeações!». Quanto à arrogância, já apareceram «todos os piores tiques do cavaquismo»: é o «deixem-nos trabalhar!», são as queixas em relação às «forças de bloqueio», agora sob a forma de «coligações negativas», é a utilização, tal como Cavaco Silva, da imprensa financeira para dizer bem da economia portuguesa e depois atestar do bom estado desta.
Também há quatro anos, António Guterres dizia que o trabalho seria valorizado mas hoje «pode gabar-se de Portugal ser o País da União Europeia com maior acentuação das desigualdades».
E há, ainda, mais de um milhão de trabalhadores com vínculo precário, sobretudo, milhares e milhares de jovens (30% entre os 20 e os 29 anos). Ora «um jovem a quem apenas se oferece um vín
ulo precário, um trabalho mal pago, o desemprego ou a emigração, é um jovem a quem se fechou a sociedade.
Na sua campanha, a CDU começou logo por dizer que não iria «vender gato por lebre», apresentou as suas propostas, assegurou que iria bater-se para que o salário mínimo chegasse a um mínimo de 75 contos até ao fim da legislatura e as pensões de reforma a 42.400 escudos no mínimo.
«Quanto à reforma da saúde, do ensino, da segurança social, é preciso fazer uma reforma fundamental que é a reforma do sistema fiscal». Que o Partido Socialista não fez porque não quis enfrentar os grandes interesses».
Muitos cidadãos não sabem possivelmente, mas é graças a uma proposta do PCP - que o PS foi obrigado a aceitar porque não tinha maioria absoluta -, que 700 mil portugueses vão ser isentos de pagar IRS e cerca de dois milhões vão pagar menos.
Assim, o que está em causa nestas eleições é: «para que serve o voto no PS? Para ele ter poder absoluto e fazer uma política semelhante à do PSD?»
A poucos dias das eleições, o que há que dizer aos eleitores «que reconhecem na CDU uma força útil, necessária e indispensável da democracia portuguesa é que não se deixem perturbar com ameaças e chantagens de última hora, que não liguem a ondas rosa ou laranja, que ponham a vossa liberdade de decisão à frente de tudo, e escolham dar mais voz e deputados à CDU». Porque, no próximo domingo, «o que faz falta é virar à esquerda».


«Avante!» Nº 1349 - 7.Outubro.1999