«Os
Penicheiros» deitaram por fora
CDU
desmascara política do PS
Sabe-se que o Barreiro é o Barreiro, com a conhecida tradição de luta e espírito revolucionário de quem nele vive ou trabalha. Mesmo assim, poucos acreditariam que «Os Penicheiros» se convertesse num espaço tão reduzido para conter a gigantesca onda CDU que o fez deitar por fora.
Quando chegou a arruada, comandada pelos «Toca a Rufar», toda a gente se perguntou onde iria caber tanta gente. Pergunta escusada, porque não coube. Centenas de activistas e amigos da CDU tiveram que ouvir o «Sete Estrelo» e, depois, as intervenções em plena rua.
Carlos Carvalhas iniciou a sua intervenção
referindo-se à armadilha das sondagens que, sendo «tão
diferentes e para todos os gostos, não podem ser todas boas e
verdadeiras».
Por conseguinte, os eleitores, sobretudo, os que «reconhecem na
CDU uma força, útil, necessária e indispensável à democracia
portuguesa» não devem deixar-se «impressionar por sondagens ou
manobras», mas colocar a sua «liberdade de decisão à frente
de tudo, porque o que faz a grandeza e a dignidade de um cidadão
livre não é a atitude de Maria vai com as outras, nem a
escolha do mal menor, mas a consciência clara dos seus
interesses, a escolha dos que melhor o defendem, dos que são
mais sérios, mais empenhados e mais trabalhadores».
Frequentemente interrompido por aplausos e palavras de ordem,
referiu-se também à falsa panaceia da maioria absoluta que
deixaria ao PS «as mãos livres para agravar a sua política
laboral e de concentração da riqueza».
Octávio Teixeira, deputado e candidato por Setúbal, começou
por referir os debates que, nos últimos dias, tem tido com
cabeças de lista de outras forças políticas do distrito,
contando «uma coisa interessantíssima» que se passa sempre com
o cabeça de lista do PS, Jorge Coelho: «Depois de eu fazer o
diagnóstico do distrito, ele diz sempre que é um diagnóstico
realista. Mas os próximos 4 anos vão ser de oiro para o
distrito de Setúbal!» Ora, o candidato comunista tem muitas
dúvidas sobre a qualidade do oiro de que fala Jorge Coelho e
coloca as «mais sérias reservas» à seriedade dessa promessa.
É que, frisou Octávio Teixeira, «não podemos esquecer o que
os socialistas fizeram e não fizeram nestes últimos 4 anos»,
bastando para tanto olhar para o Barreiro, onde o PS nada fez
para baixar a alta taxa de desemprego.
Aliás, diz o governo socialista que o «desemprego não é grave
no distrito» mas «saberão eles que na Adubos Portugal estão
em perigo, neste momento, 50 postos de trabalho? Ou que há 140
trabalhadores da Fesquisa que estão em risco de ir para a rua,
de caírem no desemprego?»
Um distrito discriminado
A verdade é que
este governo tem marginalizado o distrito, tal como já o tinham
feito os governos do PSD. Senão veja-se: «Onde está o sistema
de abastecimento de água da Península de Setúbal? Ou a ETAR
Barreiro-Moita, há muitos meses entregue no Ministério do
Ambiente? Onde está a nova divisão da PSP no Barreiro ou o
corpo da GNR na Cidade Sol? Onde está a passagem
ferro-rodo-fluvial há tantos anos prometida? Quanto à
implementação de uma estação de tratamento de resíduos
industriais em pleno coração do Barreiro que a
população rejeitou de forma clara Octávio Teixeira
avisou ser bom «não esquecer que as eleições são no dia 10 e
que o problema não foi arrumado». E que, se o PS tiver a
maioria absoluta, passados um ou dois meses, virá, «à força,
essa estação».
Por tudo isto, o «concelho não pode ter a memória curta»,
para que não haja dúvidas acerca de qual o voto que serve a
população laboral do distrito e do concelho do Barreiro», o
voto na CDU!
Odete Santos, vivamente aplaudida, foi direita ao que
interessava, servindo-se, para dar o mote, de uma conhecida
quadra de António Aleixo: O pão que sobra à
riqueza/Repartido com razão/Matava a fome à pobreza/ E ainda
sobrava pão.
«Não adivinhava o poeta popular que, conquistada que foi a
liberdade, o povo assistiria com um silêncio feito de grande
espanto à reconstrução capitalista apoiada, é claro, pelos
partidos da direita e por quem faz políticas de direita»,
frisou.
Odete Santos lembrou as preocupantes conclusões da União
Europeia, segundo as quais se agrava em Portugal o fosso entre
pobres e ricos e aumenta o número de pobres, mercê de uma
política de canalização das riquezas do Estado para os bolsos
dos que conquistam milhões à custa do empobrecimento do Estado
e do povo.
Que o digam os trabalhadores das empresas públicas» que
passaram para o sector privado e se «viram atirados para
um trabalho sem direitos, precário, que transforma em angústia
o final de um dia que poderá ser um amanhã sem emprego». Ou os
«trabalhadores da Siderurgia, que assistem à delapidação de
riquezas nacionais a favor do estrangeiro».
Por isso, no momento de decidir do voto, «há questões que têm
de ser respondidas por quem, há quatro anos, manifestou desejo
de mudança e viu defraudadas as expectativas que depositou nas
urnas». E os trabalhadores não se reconhecem certamente nos que
apenas lhe oferecem trabalho a tempo parcial e sem direitos e
salários minguados.
As pequenas e grandes traições do PS
Joaquim Matias,
candidato pelo distrito e conhecedor profundo das carências e
das necessidades da região, aproveitou para denunciar a atitude
do PS em questões intrinsecamente ligadas à cidade e ao
concelho: «Tentou instalar no Barreiro uma estação de
tratamento de resíduos industriais perigosos, votou contra a
construção da passagem desnivelada da Recosta, discriminou o
Barreiro na modernização dos barcos da Soflusa, desviou
fundos comunitários destinados à Estação de Tratamento de
Águas Residuais, votou contra a reforma da idade das mulheres
aos 62 anos, quis destruir a Segurança Social...» e muito
outras grandes e pequenas traições aos interesses dos
trabalhadores e dos portugueses
O candidato, lembrando ainda o favorecimento ao grupo Mello,
quando da privatização da Quimigal Adubos, termina afirmando,
«que se o PS tivesse a maioria absoluta levaria por diante tudo
isto e muito mais».
A juventude interveio, depois, pela voz de Sofia Martins,
candidata por Setúbal. «As preocupações de ontem são já
hoje motivo de revolta», afirmou a candidata, descrevendo as
dificuldades com que os jovens esbarram em todas as áreas, quer
estudem, quer trabalhem. Na verdade, sublinhou, o «PS põe no
prego o futuro dos jovens do nosso país».
Os numerus clausus, a falta de apoio social, a escassez de
cantinas e de residências estudantis e, sobretudo, falta de
emprego para os que concluem, por vezes com grande sacrifício,
um curso, foram outros problemas colocados, dos quais, diz Sofia
Martins, a juventude tem plena consciência.
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Intervenção de Carlos Carvalhas
Mudar
para melhor
No Barreiro, o secretário-geral do PCP fez uma chamada de atenção especial para os perigos resultantes da obtenção de maioria absoluta pelo PS. Para Carlos Carvalhas, ao contrário de qualquer maioria absoluta, o que é necessário é que o PS «sinta na diminuição dos seus votos que há mais portugueses que não se esquecem e não perdoam as coisas negativas que fez».
«Há dias, as
televisões mostraram o Eng. Guterres, na sua frenética campanha
pelo poder absoluto, a lembrar afirmações de Durão Barroso no
tempo do cavaquismo e em que este proclamava as excelências e
maravilhas da maioria absoluta.
Em resposta, tivemos depois o Dr. Durão Barroso a explicar que o
que Guterres tinha feito era uma grande falta de honestidade
porque as frases tinham sido tiradas do contexto da época,
embora ficássemos a saber que o famoso "contexto" se
resumia ao facto de a maioria absoluta ser óptima porque era do
PSD.
Com a autoridade que nos advém de termos combatido a maioria
absoluta de Cavaco Silva até que ela acabou e de combatermos
hoje a ambição do PS de a ter ele, e já que o Eng. Guterres
parece gostar de citações de outros, propomos ao Eng. Guterres
uma adivinha.
Será ele capaz de acertar em quem foi a pessoa que, em
entrevista ao "Semanário" de 22 de Julho de 1995,
quando lhe perguntaram se não lhe parecia "que um governo
com maioria relativa é um governo a prazo?" logo respondeu:
"Pode não ser. Porque é que há-de ser um governo a
prazo ?". E será o Eng. Guterres capaz de acertar em
que foi a mesma pessoa que logo explicou que "nas
democracias europeias muitos governos têm cumprido as
legislaturas. E os governos minoritário têm eles próprios
algumas vantagens sobre os governos maioritários. Os governos
maioritários têm tendência para abusar da possibilidade de
aprovar leis e desprezar a opinião das oposições. O Governo
minoritário tem que as tomar em conta, tem que discutir as leis
uma a uma, (,,,) isso torna a lei melhor, porque foi discutida,
tomou em conta as oposições, tomou em conta as críticas".
E será ainda que o eng. Guterres é capaz de acertar em quem foi
a mesma pessoa que ainda se deu ao luxo de afirmar que, por
comparação com um governo de maioria absoluta, um governo de
maioria relativa "é mais democrático, respeita mais o
diálogo".
Mas nós queremos poupar o eng. Guterres o trabalho de pedir aos
serviços do PS que vasculhem os arquivos.
E, por isso, daqui o informamos que quem afirmou tudo isto foi
nem mais nem menos que o dr. Almeida Santos, Presidente da
Assembleia da República, Presidente do PS e candidato do PS a
estas eleições.
Agora só falta aguardar que venha aí o eng. Guterres, imitando
Durão Barroso, dizer que a frase foi tirada do
"contexto".
O que faz verdadeiramente falta é que o PS não só não
conquiste o poder absoluto mas sinta na diminuição dos seus
votos que há mais portugueses que não se esquecem e não
perdoam as coisas negativas que fez, e como as coisas mais
negativas que fez tiveram sempre o apoio da direita, é então
claro que o que faz falta é mudar para melhor, para a esquerda e
pela esquerda, e que só com mais votos na CDU é que se dá mais
força, logo na noite de dia 10 de Outubro, à exigência de uma
nova política que signifique mais respeito pelas pessoas e mais
respeito por quem trabalha.»
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Convívio com jovens
«Desconfiem
dos que têm a verdade absoluta»
«Desconfiem sempre
dos que têm a verdade absoluta» - foi uma das mensagens fortes
deixadas por Carlos Carvalhas aos muitos jovens
dos nove concelhos da Península que, na noite de sexta-feira, se
deslocaram à Associação de Reformados do Barreiro para, num
ambiente de festa, dialogarem com os candidatos da CDU durante um
jantar-convívio.
Numa sala decorada como para um arraial, a animação esteve a
cargo do conjunto «Lado B» que, entre muitas modas genuinamente
portuguesas, não se esqueceu de cantar os «Vampiros». E
apropriadamente. Quem haveria de dizer que a canção,
imortalizada pela voz de José Afonso, readquiriria toda a sua
carga acusatória 25 anos após o 25 de Abril! E foi com
sinceridade que aqueles jovens do Barreiro, Seixal e Almada,
Palmela e Alcochete, Montijo e Moita, Setúbal e Sesimbra
acompanharam o Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam
nada!
A intervenção de Carlos Carvalhas, cortada amiúde com a
palavra de ordem «Agora e sempre, a juventude está presente!
», foi curta, directa e incisiva. Como os jovens gostam.
«Há quatro anos, houve para aí um cota que declarou a
sua paixão pela Educação. Quatro anos depois, aparece o mesmo cota
a declarar a sua paixão pela Saúde. Como vocês costumam dizer,
este cota não tem recuperação!» começou por
dizer Carvalhas, servindo-se da linguagem utilizada pela
juventude.
Depois, passou-se ao tema da modernidade, muito querido a alguns
quando serve de capa às maiores injustiças. «Os jovens que
perguntem a esses que dizem que caminhamos para a modernidade se
modernidade é termos cada vez mais trabalho precário, se é
termos um ensino que não oferece saídas profissionais, se é
continuar uma política que coloca a juventude perante crescentes
dificuldades. Todos nós sabemos o que espera a grande maioria
dos jovens concluído o ensino: ou salários baixos, ou o
desemprego, ou a imigração. Não, não contem com a Juventude
CDU para esta política!»
Por conseguinte, «no próximo dia 10, vamos dizer que é
necessário uma política à esquerda, o que significa uma
política que sirva a juventude e o nosso povo». E vamos dizer
que a «modernidade está com aqueles que querem transformar a
sociedade, com aqueles que têm capacidade para fazer uma festa
como a do Avante!».
Findo o encontro, houve arruada pelas ruas do Barreiro até à
velhinha colectividade de «Os Penicheiros», onde se realizaria
o comício. Encabeçaram-na os «Toca a Rufar», que com uma
multidão de jovens incendiaram a noite com a sua saudável
irreverência e indestrutível alegria.