Grandioso
comício em Alpiarça
Santarém confiante no reforço da CDU
No distrito de Santarém, entrados na recta final da campanha, cumpridas que foram muitas das acções que preencheram o vasto programa de contactos com os eleitores, e quando já é possível proceder a uma primeira leitura dos resultados desse enorme esforço de esclarecimento, o que se pode dizer é que entre os candidatos, os responsáveis locais e regionais e os simpatizantes e activistas da CDU respira-se um clima confiança de «tranquila confiança», mais exactamente, para usarmos a expressão transmitida ao repórter pelo mandatário distrital, Sérgio Ribeiro.
E não faltam razões para tanto: os sinais até agora provenientes da campanha, em qualquer dos seus planos dos contactos pessoais à própria forma como foram acolhidas as propostas -, são de molde a considerar que está perfeitamente ao alcance o cumprimento dos objectivos eleitoralmente definidos para esta campanha.
A qualidade do trabalho CDU
Essa é também a
convicção de Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e
responsável pelo distrito. Em declarações ao «Avante!»,
afirmou que a campanha veio confirmar que os objectivos
preconizados são «realistas». Foram realizadas centenas
de acções orientadas para o contacto directo e para o
esclarecimento das pessoas, privilegiando a abordagem à entrada
das empresas, os porta-a-porta, a distribuição de documentos em
mercados, feiras, festas e romarias. Acredita, por isso, que
haverá «consolidação das posições da CDU no distrito»,
em simultâneo com o «aumento do número de votos e com a sua
«manutenção como terceira força política do distrito».
Luísa Mesquita, cabeça de lista pelo círculo de Santarém,
corrobora da mesma opinião. Ao nosso jornal disse também que,
dos múltiplos contactos em que se tem desdobrado, «é
notório o reconhecimento pelo trabalho da CDU, que não tem
comparação com nenhum dos outros deputados que representam os
eleitores do distrito».
É esse reconhecimento que está, aliás, na base da ideia -
inclusive entre muitos eleitores do PS -, de que é «fundamental
a presença de deputados do PCP na Assembleia da República
eleitos por Santarém», para que os interesses do distrito «sejam
devidamente acautelados».
Máquina capaz de viciar
É clara, pois, a
confiança no reforço das posições da CDU. Isto não obstante
a colossal máquina que o PS pôs de pé no distrito, numa
miscenização entre o aparelho partidário, o autárquico e o do
Governo. Numa frequência inusitada, não passa um dia em que
não haja o rodopio de membros do Governo ou seus representantes,
deixando aqui uma promessa, ali um apoio, acolá uma
inauguração. Uma verdadeira onda de demagogia e promessas
fáceis. Uma verdadeira máquina capaz de viciar.
Desta escandalosa situação falou Luísa Mesquita na
intervenção que proferiu, domingo passado no grandioso comício
realizado em Alpiarça.
Foi sem dúvida um dos momentos altos da campanha no distrito.
Pela forte mobilização, pela entusiástica atmosfera de festa,
pela determinação e empenho reveladas, neste comício, bem se
pode dizer, foi confirmado e testemunhado o clima de confiança
que faz prever a obtenção dos objectivos traçados para o
próximo domingo.
Na sua empolgante intervenção, frequentemente sublinhada por
aplausos, Luísa Mesquita observou - depois de ter recordado que
foram o PS, o PSD e o CDS/PP que na Assembleia da República
inviabilizaram com o seu voto as propostas do PCP para aumento
das pensões de aumento das pensões -, como aqueles mesmo
partidos «agora, descobriram todos, neste mês de Setembro,
que há pensões de miséria, de vergonha, indignas, no seio de
uma sociedade democrática», apostando nas «promessas
demagógicas, mentirosas, de quem sabe que nada irá fazer».
Momentos antes, a propósito dos centros de dia, lares e apoios
domiciliários que, quando existem «são quase sempre por
empenhamento e responsabilidade das autarquias ou associações»,
lembrara ainda Luísa Mesquita, aludindo ao comportamento do
Executivo PS: «quando se inauguram, lá aparece um membro do
Governo que, por acaso, traz um cheque para aliviar os encargos
financeiros daqueles que cada vez mais se substituem às
responsabilidades do Governo do PS».
Não ao poder absoluto
Os presentes, que
enchiam como um ovo o Salão dos Bombeiros Voluntários da
Alpiarça, num caudal humano que extravasou a capacidade do
espaço, obrigando a que muitos ficassem na rua, sabiam bem do
que falava a candidata comunista. A resposta não se fez esperar:
um coro de protesto e indignação ecoou na sala.
Uma reacção que se repetiu sempre que algum dos oradores trouxe
à colação o rosário de promessas não cumpridas por um
Governo que faz agora chantagem sobre o eleitorado para pedir a
maioria absoluta.
Um tema desenvolvidamente abordado pelo Secretário-Geral do PCP
no discurso com que encerrou o comício. Por si referenciado foi
sobretudo a circunstância de Guterres, nesta recta final da
campanha, evidenciar como preocupação máxima e tema central,
agitando a máxima do «eu ou o caos», a obtenção «do
poder absoluto, do poder total» para, alertou, «governar
impunemente».
Depois de mostrar as contradições que enfermam o discurso do
PS, designadamente entre aquilo que defende hoje e aquilo que
marcou a sua posição no passado recente (ver caixa), o
dirigente comunista concluiu pela necessidade de impedir uma
maioria absoluta do PS.
E para esse objectivo, sublinhou, é fundamental o concurso da
CDU. Com uma dupla vantagem. «É que o voto na CDU serve não
apenas para impedir essa maioria absoluta explicou
, como é o único que pode perspectivar uma viragem à
esquerda na política nacional».
Adiantadas por Carlos Carvalhas foram ainda algumas das propostas
concretas pelas quais a CDU se baterá na próxima Legislatura,
visando obter melhorias em áreas tão diversas como sejam o
combate à precarização do trabalho, o aumento das pensões e
reformas, a despenalização do consumo da droga, uma maior
justiça na tributação fiscal, um maior apoio à pequena e
média agricultura ou a baixa das tarifas da electricidade.
Positivas para a generalidade dos portugueses, tais medidas, para
que obtenham vencimento, carecem do «reforço eleitoral da
CDU». Daí também o apelo ao voto deixado por Carvalhas,
convicto disse-o taxativamente - «que quanto mais
força o povo nos der mais força podemos dar ao povo».
Por uma política de esquerda
Das «promessas
inconsistentes» e da «retórica de certos políticos»,
utilizadas como instrumento para «passar ao lado dos factos
concretos», falou também Susana Gaspar, da JCP. E fê-lo
para acentuar que, quanto a factos, a «CDU não tem medo»
e, pela sua parte, eles aí estão, no passado e no presente,
falando por si, num posicionamento ímpar na defesa dos
interesses dos trabalhadores e do interesse nacional: «apresentámos
e fizemos aprovar projectos de lei não apenas em grande número
como de um elevado valor social; continuamos a defender uma
política de esquerda; mas, sobretudo, continuamos a pôr em
prática a esquerda que defendemos».
Ao trabalho realizado pela CDU nestes últimos quatro anos, que
lhe confere a serena postura de quem está de «consciência
tranquila» para prestar contas, se referiu igualmente o
candidato da CDU, indicado pelo Partido Ecologista «Os Verdes»,
Francisco Madeira Lopes. Por si sublinhado, referindo-se a alguns
dos traços que diferenciam a coligação de comunistas, verdes e
outros democratas independentes, foi, concretamente, o facto de a
CDU estar «sempre ao lado das populações, tratar as pessoas
com respeito e saber ouvi-las, em todas as ocasiões, e não
apenas nas eleições». Por isso, enfatizou, «"Os
Verdes" estão na CDU e sentem-se bem ao lado dos que
defendem coerentemente ideias e uma prática de esquerda». Tanto
mais que, concluiu, «acreditamos, enquanto ecologistas, que
desenvolvimento é sinónimo de mais qualidade de vida e
progredir é crescer de forma equilibrada e sustentada».
Caça ao voto
Na incessante busca de caça ao voto em que o PS se tem revelado exímio, depois de muitas inércias e promessas não cumpridas, uma outra face tem vindo a lume na campanha. A dos «milagres», como lhes chamou Luísa Mesquita, deste mês de Setembro. Registe-se um, dos vários exemplos por si referidos: «somos um distrito com ligações difíceis. Os IP e os IC, as pontes e os viadutos quase tudo ficou no papel ou nas promessas do Verão de 1995. Quase tudo, porque há uma excepção. O IP 6 cresceu 1,5 Km durante quatro anos e teve direito a festa, a inauguração no mês de Setembro. Mas como tão pouca obra há para noticiar, um jornal da região deu a notícia duas vezes». João Chasqueira