Viva a CDU!
Se é verdade que, como a vida e a história
demonstram, vale sempre a pena lutar, mesmo quando a luta não se
traduz, de imediato, em resultados positivos, também é verdade
que o êxito de uma luta na qual nos empenhámos determinadamente
nos dá mais força, estímulo e entusiasmo para as batalhas que
se seguem para além das alegrias que nos traz,
naturalmente. Que o digam os milhares de militantes comunistas e
de outros activistas da CDU que no Domingo passado viram a sua
intervenção esforçada, dedicada, confiante justamente premiada
com um muito positivo resultado eleitoral e, alegre e
espontâneamente, festejaram com festa rija esse resultado.
Reforçar a expressão eleitoral da CDU e procurar impedir que o
PS obtivesse a maioria absoluta, eram os nossos objectivos
essenciais para estas eleições. Tratava-se de uma tarefa tanto
mais difícil quanto sabíamos o quadro difícil e desfavorável
em que actuávamos. Mas com trabalho, perseverança e
determinação alcançámos os objectivos traçados e temos, por
isso, razões muitas para nos sentirmos satisfeitos. Outro será,
sem dúvida, o estado de espírito daqueles que, confundindo os
seus desejos com as realidades, decretaram categóricamente «o
declínio irreversível do PCP»...
Aumentando a sua expressão eleitoral, elegendo mais dois deputados, subindo de quarta para terceira força na Assembleia da República, a CDU não só obteve, nas circunstâncias actuais, um excelente resultado como deu sinais de suster e inverter uma tendência que há dezasseis anos vinha marcando negativamente a sua evolução eleitoral. Manter vivos estes sinais e transformá-los numa inversão efectiva e sólida dessa tendência negativa é um objectivo da máxima importância e claramente exequível. Na verdade, os resultados eleitorais de 10 de Outubro, vistos globalmente, indiciam que sectores significativos da sociedade portuguesa foram e estão sensíveis à nossa mensagem e à seriedade da nossa intervenção; fizeram suas muitas das nossas apreensões face à eventualidade de o PS vir a obter uma maioria absoluta; compreenderam a importância da intervenção do PCP na vida nacional e o papel singular por ele desempenhado na crítica responsável à política de direita, na luta contra essa política e por uma política de esquerda. A coerência e o permanente apego a princípios e ideais que sempre têm caracterizado a intervenção dos comunistas tiveram, nestas eleições, um reconhecimento mais amplo, confirmando que uma prática de verdade, de seriedade, de respeito pela inteligência das pessoas, de permanente defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país, acaba sempre por ser reconhecida e valorizada.
A eleição de um deputado em Braga
facto que não se verificava desde 1991 e que resultou de um
aumento de cerca de 3400 votos por parte da CDU e de mais
um deputado em Setúbal neste caso retirado ao PS
reveste-se de profundo significado. Por um lado porque a
conquista destes dois deputados é uma das expressões concretas
do êxito da CDU nestas eleições; por outro lado porque o facto
de se tratar de dois distritos com uma grande massa de
trabalhadores é uma confirmação inequívoca da influência
social do PCP.
Significativa também, do ponto de vista político, é a
circunstância de a CDU, na continuidade do que ocorrera nas
recentes eleições para o Parlamento Europeu, se ter confirmado
como terceira força eleitoral nacional.
Um outro aspecto que merece referência destacada é o que
respeita à eleição de mulheres para o Parlamento. Está ainda
na memória de muita gente a tentativa do PS de impor, por lei,
cotas de 25% para a representação de mulheres e as razões
invocadas pelo PCP para rejeitar tal imposição. Olhando para o
quadro saído das eleições de Domingo passado, constata-se que
foram eleitas 37 mulheres, ou seja 16,6% do total dos deputados.
E é indispensável referir, sem necessidade de quaisquer
comentários, que a CDU ultrapassou a «cota» - elegendo cinco
mulheres num total de dezassete eleitos, isto é 29,4% -
seguindo-se o PS com 19,8%, o PSD com 11,3%, o PP com 7,1% e o BE
com 0%...
Digamos então, mesmo que repetindo-nos, que os muito positivos
resultados eleitorais da CDU justificam plenamente a satisfação
e a alegria vividas pelos comunistas e pelos seus aliados.
Para estas eleições, o PS definiu como seu
objectivo central a obtenção da maioria absoluta. Para o
alcançar não hesitou em recorrer a todos os meios e práticas,
num autêntico e despudorado vale-tudo que superou tudo o que
até então fora feito. As inaugurações nacionais, distritais,
concelhias, de freguesia; a propaganda eleitoral produzida,
distribuída e paga por ministérios, governos civis, câmaras
municipais; as promessas para todos os gostos e desejos; a
manipulação hipócrita dos mais nobres sentimentos humanos
foram algumas das muitas armas utilizadas pelo partido do
governo na sua monumental operação de caça ao voto. Operação
que passou, também, pela tentativa de esvaziar eleitoralmente as
principais forças que, à direita e à esquerda, se opunham a
esse objectivo. Em vão: o eleitorado não só não quis dar o
poder absoluto a Guterres como quis sublinhar a sua crítica à
política do governo. E os carinhos e atenções prodigalizados
quer ao PP quer ao BE, viriam a revelar-se, também,
infrutíferos: o primeiro não logrou sequer beliscar o
eleitorado do PSD, e o segundo acabaria por ir buscar o essencial
do seu crescimento, muito provávelmente, a eleitorado
descontente do próprio PS.
Com tudo isto, o partido do governo caíu, pela segunda vez
consecutiva, na sua própria armadilha: nas eleições para o
Parlamento Europeu colocou a fasquia acima dos 50% e, assim, fez
com que os 43% que obteve parecessem uma derrota; agora,
apresentou a maioria absoluta como a mãe de todas as ambições
e acabou a festejar lúgubre e tristemente o facto de ter sido o
partido mais votado...
Dentro de algumas semanas, o PS voltará a formar governo. E sendo certo que os resultados eleitorais apontam para uma nova política, não é crível que o PS assim o entenda. Com efeito, tudo indica que o novo governo prosseguirá no fundamental a velha política do seu antecessor talvez com uma maior carga de retórica social... Se assim for, manter-se-á a oposição firme e determinada do PCP uma oposição assente quer na acção do agora reforçado grupo parlamentar comunista que dará sequência à quantidade, qualidade e responsabilidade da sua intervenção na anterior legislatura; quer na apresentação de propostas positivas alternativas; quer através da luta social, na qual os comunistas ocuparão o lugar que lhes compete; quer ainda através das múltiplas formas de acção que constituem a intensa actividade do PCP. E sem dúvida que os bons resultados eleitorais da CDU darão mais força e maiores possibilidades de êxito a essa luta.