Já há trabalho não pago
De que cortes são feitos
os lucros da Telecom


O Sindicato das Telecomunicações e Audiovisual diz que não tem meios para confirmar se são reais os mais de 40 milhões de contos de lucros da PT, no primeiro semestre de 1999, anunciados por Murteira Nabo, mas denuncia alguns factos sobre a forma como poderão ter sido obtidos.

No comunicado que distribuiu na semana passada aos trabalhadores, o Sinttav/CGTP responde a declarações do presidente do conselho de administração da Portugal Telecom, referindo que teve conhecimento do seu conteúdo através da comunicação social e começando por notar que «Murteira Nabo fala na PT virtual, ignora a PT real» – «aquela onde estão os trabalhadores, que vivem cada vez mais desmotivados, aquela que, para enfrentar a concorrência, presta cada vez pior serviço aos clientes».
Para reduzir as despesas, diz o sindicato, a PT estabeleceu que a limpeza passará a ser feita de dois em dois dias, nas instalações onde os funcionários se encontram permanentemente, e de 15 em 15 dias, nas instalações onde não estão trabalhadores em permanência. A passagem «de limpeza a imundície» é agravada pelo facto de a Telecom ter rescindido o contrato «com todas as empresas que vinham fazendo este serviço, e abriu um concurso nacional, ao qual agora não sabe que fazer», acusa o Sinttav.
A conservação da rede telefónica, «embora sendo uma medida das mais lucrativas a prazo, não o é no imediato» e «deixou de ser feita», provocando «situações inacreditáveis». O sindicato conta, por exemplo, que a empresa ignorou o pedido de um cliente para mudança de um cabo, porque ia ser construída uma casa, pelo que «o homem construiu a casa com o cabo por dentro da mesma». Existem postes partidos «há anos, com os cabos telefónicos no chão, sem serem reparados, porque os responsáveis dizem que não há dinheiro para a conservação». Vêem-se «caixas de distribuição penduradas pelas paredes, sem a devida fixação, abertas», e «na época balnear, havia cabos telefónicos estendidos pelas areias das praias». Também há «edifícios onde já não existe contrato de manutenção dos equipamentos de ar condicionado, os filtros não são limpos há anos».
O sindicato denuncia ainda a situação nas lojas da PT, cuja exploração poderá já ter sido cedida ao grupo Jerónimo Martins, e onde «os trabalhadores são obrigados a fazer horas suplementares nos dias de semana e aos sábados, sem serem pagas».
Face a uma política da administração que terá decidido «vender todos os edifícios onde não existem centrais de telecomunicações, o sindicato admite também que «de certo, uma boa parte dos lucros anunciados foi obtida à custa da venda de imóveis».
A equipa de Murteira Nabo prepara-se ainda, diz o Sinttav, para entregar a empresas privadas a exploração de todos os bares que servem o pessoal da PT, «como um primeiro passo para depois acabar com todos eles».


«Avante!» Nº 1350 - 14.Outubro.1999