Amália Rodrigues
Na hora do adeus
recordar uma vida


Horas depois da morte de Amália Rodrigues, a sua obra estava praticamente esgotada, no mercado. Um claro testemunho, também evidente na emocionada multidão que acompanhou o seu funeral, de como «a maior figura do fado português», como é em geral considerada, é apreciada no nosso país.
Talvez saudades já de quem tão bem cantou esse sentimento.

Falecida dia 6 deste mês, com 79 anos, Amália é provavelmente a figura artística portuguesa mais conhecida no estrangeiro. Deixa um extenso legado de mais de 170 registos discográficos e de mais de uma dezena de filmes, bem como apresentações ao vivo em todo o mundo, de onde vieram as mais expressivas mensagens de sentimento.
Amália Rodrigues nasceu em Lisboa, filha de pais naturais da Beira Baixa radicados na capital. Educada pela avó, cantou pela primeira vez em público em 1929 numa festa da Escola Primária da Tapada da Ajuda, que frequentava, após o que trabalhou como bordadeira.
Em 1933, empregou-se numa fábrica de bolos e rebuçados em Lisboa e dois anos mais tarde, com a irmã, trabalha numa loja de souvenirs no Cais da Rocha, acompanhada pela mãe, vendedora de fruta.
Em 1935 desfilou na Marcha de Alcântara e cantou pela primeira vez acompanhada à guitarra numa festa de beneficiência. Estreou-se em 1939 no retiro da Severa, interpretando três fados.
A sua estreia no estrangeiro, a 7 de Fevereiro de 1943, ocorreu em Madrid. Em Setembro do ano seguinte viajou pela primeira vez para o Brasil onde o sucesso registado levou a prolongar a estada de seis semanas para três meses.
Amália Rodrigues gravou os primeiros discos em Outubro de 1945 no Brasil. Em 1951 gravou pela primeira vez em Portugal. É de 1954 o seu primeiro álbum de sempre, «Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal And Flamenco From Spain», publicado nos Estados Unidos.
Em 1962 foi editado o álbum «Amália Rodrigues», mais conhecido como «Busto» ou «Asas fechadas», o primeiro pensado como tal e também o primeiro com música de Alain Oulman.
No início de 1970, Amália Rodrigues recebeu em Paris a condecoração de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras e é editado o álbum «Com Que Voz», um dos seus mais aclamados. Trata-se de um álbum orientado por Alain Oulman e David Mourão-Ferreira pelo qual Amália recebeu o IX Prémio da Crítica Discográfica Italiana, o Grande Prémio da Cidade de Paris e o Grande Prémio do Disco de Paris.
Depois do 25 de Abril edita em single, no dia 24 de Maio, «Meu Amor é Marinheiro», com capa alusiva à revolução, após o que se sucede «Trova do vento que passa».
Em julho do mesmo ano, edita mais dois singles com repertório de algum modo relacionado com o 25 de Abril, «Fado Peniche», que fora um fado polémico nos tempos da censura, e «Grândola Vila Morena», numa versão inédita gravada muito antes da escolha da canção para senha da revolução.
Em 19 de Abril de 1985 Amália deu o seu primeiro concerto a solo em Portugal, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Pouco tempo depois foi editada a dupla colectânea de êxitos «Estranha Forma de Vida» e foi condecorada pelo ministro francês da Cultura Jack Lang com a Ordem das Artes e das Letras de França.
O primeiro CD de Amália, «Sucessos», foi publicado em Outubro de 1987. Na década de 90, continua a edição em CD da sua discografia.
«Segredos» - o último álbum de Amália - foi editado em Dezembro de 1997, com um conjunto de gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975.
No total, Amália Rodrigues deixou-nos entre 450 e 500 canções gravadas, praticamente todas editadas.


«Avante!» Nº 1350 - 14.Outubro.1999