SPD
Para onde vais?


Na Alemanha, nas eleições de Berlim realizadas Domingo passado, o grande vencedor foi mais uma vez o Partido do Socialismo Democrático (PDS). Depois dos excelentes resultados em eleições regionais anteriores e de ter mesmo ultrapassado o SPD (Partido Social Democrata) na Turingia e na Saxónia, o PDS sobe de novo alcançando 39,5% na parte de Berlim que foi capital da antiga República Democrática Alemã.
O grande significado político dos avanços dos nossos camaradas do PDS é evidente. Dez anos passados sobre os dramáticos acontecimentos que conduziram à anexação da RDA, é o capitalismo que se senta no banco dos réus. E com ele também a sua variante social democrata, protagonizada pelo SPD que acaba de registar em Berlim uma nova descida, a somar-se a um longo rosário de derrotas espectaculares em que o Partido de Schroder registou, em vários casos, os piores resultados desde 1945.

As sucessivas derrotas do SPD de Schroder expressam o fim de uma expectativa e de uma ilusão. A expectativa de que, após 16 anos de governo Khol, a vitória do SPD nas eleições de 27.9.98 pudesse significar na Alemanha uma alternativa em benefício do mundo do trabalho contra a gula e arrogância do grande capital. A ilusão de que, após as «vitórias socialistas» de Blair e de Jospin, a vitória de Schroder na Alemanha conduzisse a uma «viragem à esquerda» no quadro político europeu. Nada disto aconteceu. Pelo contrário. Tal como em Portugal, a «onda rosa» europeia significou maior concentração do capital e da riqueza, novos retrocessos no plano social, agravamento das injustiças e desigualdades. Significou, com a agressão militar à Jugoslávia, guerra no continente europeu. Significou novas restrições à soberania dos estados com o avanço de uma U.E. federalista e um «pacto de estabilidade» tutelador das políticas nacionais. Significou o reforço da NATO e relançamento do militarismo na Europa. Significou, não mais «autonomia», mas maior domínio dos EUA sobre a U.E.

Se tudo isto foi possível, foi em parte decisiva porque uma social democracia domesticada, no governo em 13 dos 15 países da U.E., colocou a sua base popular e o que resta do seu crédito de «esquerda» ao serviço do poder do capital. É aliás evidente o propósito de romper definitivamente com a corrente reformista do movimento operário e com as tradições europeias do «estado de bem estar». Nisso se tem destacado particularmente Tony Blair e o seu «New Labour», em articulação estreita com as mais avançadas criações dos centros de produção norte-americanos do «pensamento único». A bem da exportação do «american way of life» e sobretudo dos interesses estratégicos do grande capital norte-americano e da hegemonia imperialista dos EUA sobre a Europa e sobre o mundo. Quando o social democrata Solana toma posse como «Sr. PESC»; quando o trabalhista George Robertson, actual ministro da defesa britânico, toma posse como novo Secretário Geral da NATO; quando o general alemão Klaus Reinhardt, assume o comando da KFOR no Kosovo, onde entretanto o marco foi introduzido como moeda oficial - quando tudo isto acontece é evidente que estamos perante uma malha muito apertada de interesses e compromissos do grande capital europeu e norte-americano que a social democracia está a ajudar a tecer. E para a qual se procura o indispensável cimento ideológico. O anunciado encontro em Itália entre Schroder, Blair, D'Alema, Jospin (que recusara anteriores convites) e Clinton, é nesta perspectiva inteiramente lógico. E inquietante.

É neste quadro que terá lugar no final do ano o Congresso do SPD, para o qual já se anuncia um novo «Bad Godesberg» ou seja, um novo salto qualitativo no processo de degenerescência deste partido. Será que as fortíssimas manifestações de oposição e protesto que as derrotas eleitorais do SPD expressam serão capazes de o impedir? Será que vozes tão prestigiadas como as de um Lafontaine ou de Gunther Grass, o Prémio Nobel da Literatura 1999, se farão ouvir com força suficiente? A ver vamos. Pelo que a Alemanha representa na Europa e no mundo, pelo que o SPD representa na Alemanha e como partido dominante na Internacional Socialista, trata-se de uma questão muito relevante. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1350 - 14.Outubro.1999