França
70 000 pessoas em Paris
em luta pelo emprego


«Guerra ao desemprego», «O governo deve governar mais à esquerda», «Pelo emprego», foram algumas das palavras de ordem que mais se ouviram sábado à tarde em Paris na manifestação que levou às ruas da capital francesa 70 000 pessoas vindas de todos os pontos do país. 
Para o Partido Comunista Francês (PCF), que liderou a iniciativa, o sucesso da resposta popular abre novos caminhos para a acção das forças de esquerda em França.

A 12 de Setembro, na sequência do anúncio da decisão da Michelin de despedir 7000 postos de trabalho, o PCF (um dos cinco componentes do governo de coligação encabeçado pelo socialista Lionel Jospin) convidou a esquerda e as forças sociais a desfilarem em conjunto para darem a devida resposta à política daquela empresa, considerada emblemática do «novo capitalismo». No dia seguinte, contrastando com esta atitude combativa, o primeiro-ministro Lionel Jospin afirmava publicamente que, perante a Michelin, se sentia «impotente». No início de Outubro, a central sindical CGT tornava público um comunicado em que afirmava «rever-se nos objectivos sociais» que presidiam à manifestação, mas considerando que enquanto organização sindical não podia estar «entre os organizadores de uma iniciativa» cujas características eram «eminentemente políticas». Na sua declaração, a CGT convidava «cada trabalhador, cada sindicalizado» a decidir a posição a tomar em relação à manifestação de 16 de Outubro, enquanto cidadãos de pleno direito, em função das suas «aspirações» e do «seu empenho no movimento social».
A resposta, inequívoca, foi dada no sábado. O sucesso da manifestação, unanimemente reconhecido por todos os quadrantes políticos, mostra que existe no país um descontentamento latente e um forte potencial de combatividade, aliado à consciência de que a batalha pelas 35 horas de trabalho semanal e o combate ao desemprego não se esgota na aprovação da respectiva legislação, que ontem se verificou.
Os organizadores do desfile (PCF, Verdes, Movimento Democrático de Cidadãos (MDC), entre muitos outros) compreenderam o alcance desta resposta de massas e as perspectivas que se abrem para uma acção conjunta futura. Ontem mesmo a «esquerda plural» se reuniu para decidir o caminho a seguir, tudo indicando que o movimento se possa alargar a outras organizações, designadamente sindicais, uma vez que a forte representação de trabalhadores na manifestação do dia 16 é entendida como uma interpelação às grandes centrais sindicais.
De acordo com Robert Hue, secretário-geral do PCF, em declarações ao jornal «L’Humanité», a França está a viver, com este acontecimento, «a emergência de um movimento social profundo, de resistência à avassaladora investida dos mercados financeiros, em França, na Europa, e no mundo». Um movimento que poderá ter, segundo Robert Hue, desenvolvimentos futuros, nomeadamente no plano europeu.

Maioria para as 35 horas

A lei das 35 horas de trabalho semanal, uma das prioridades do governo de Lionel Jospin, foi entretanto aprovada ontem na Assembleia Nacional por 315 votos contra 255. A esquerda plural votou a favor do texto revisto, apesar de subsistirem insatisfações por parte dos comunistas, Verdes e do MDC, que esperam ainda melhorar a versão final da lei. A direita em bloco votou contra.
O texto legal da chamada lei Aubry - nome da ministra do Trabalho, Martine Aubry -estabelece as modalidades de aplicação para a passagem de 39 para 35 horas de trabalho semanais, incluídas no primeiro projecto-lei de Junho de 1998, que fixou as linhas gerais da reforma. As empresas privadas com mais de 20 trabalhadores devem adoptar as 35 horas semanais a partir de 1 de Janeiro próximo, embora tenham um ano de adaptação, e as com menos de 20 trabalhadores devem cumprir esse objectivo em Janeiro de 2002.
A política do governo francês em relação ao emprego está longe de convencer a maioria da população da sua eficácia, embora mereça o benefício da dúvida. Segundo uma sondagem divulgada pelo IFOP (o Jornal de Domingo), 67 por cento dos franceses não acreditam no regresso ao pleno emprego nos próximos dez anos, apesar de 40 por cento pensarem que o desemprego vai diminuir durante o ano 2000. Para 49 por cento dos inquiridos, a entrada em vigor da lei das 35 horas vai «melhorar a qualidade de vida», e 23 por cento consideram que a mesma lei vai contribuir para «fazer baixar o desemprego».

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Despedimentos na Nissan

O construtor da indústria automóvel Nissan, que desde Março é controlado pela Renault, vai reduzir 25 por cento das suas capacidades de produção e suprimir 10 000 postos de trabalho até ao ano 2003.
A decisão foi divulgada domingo em Tóquio pelo diário Yomiuri Shimbun, segundo o qual o grupo reduzirá nomeadamente 75 por cento da sua capacidade de produção na fábrica de Murayam, a oesta da capital japonesa. Quanto às supressões de postos de trabalho, sob a forma de suspensão de contratos e de reformas antecipadas, abrangem o conjunto das unidades do grupo que emprega 40 000 pessoas no Japão e 137 000 no mundo.


«Avante!» Nº 1351 - 21.Outubro.1999