Itália
Dezenas de milhar
contra o governo D’Alema


As ruas de Roma encheram-se no sábado à tarde com dezenas de milhares de pessoas em protesto contra a política neoliberal do governo do primeiro-ministro Massimo D’Alema.

Respondendo ao apelo do Partido da Refundação Comunista (PRCI), 50 000 pessoas segundo a polícia, o dobro segundo os organizadores, desfilaram na capital italiana contra o orçamento do executivo para 2000, qualificado de «inaceitável do ponto de vista social e económico para uma boa parte dos trabalhadores», contra os despedimentos e contra as disposições adoptadas pela Confederação dos Industriais (a Confindustria) em matéria de emprego.
O protesto popular de sábado assume ainda mais significado após as chocantes declarações de Walter Veltroni, dirigente dos Democratas de Esquerda (DS), renegando as suas origens políticas e declarando-se convertido ao neoliberalismo. Em carta publicada no diário «La Stampa», o secretário-geral do DS, «herdeiro» do extinto PCI, distancia-se do seu passado «comunista» e afirma hoje «a incompatibilidade do comunismo com a liberdade». O texto provocou uma violenta polémica no seio do DS e a condenação generalizada das forças de esquerda.
Veltroni, que pertenceu ao gabinete de Romano Prodi, é actualmente um dos mais fortes candidatos à sucessão de Massimo D’Alema à frente do executivo que governa o país (uma coligação do DS com vários grupos centristas, apoiada pelo Partido dos Comunistas Italianos -PdCI - de Armando Cossutta, formação resultante da cisão registada em Outubro de 1998 no PRCI).
A declaração de Veltroni foi aplaudida pela direita italiana, mas considerada insuficiente para a sua «reabilitação». «Se é sincero no que diz, porque não rompe com Cossuta?», questionou Gianfranco Fini, dirigente da Aliança Nacional, de extrema-direita. De referir que Cossuta não poupou criticas ao seu aliado político pelas declaração ao «La Stampa», embora não tenha posto em causa o seu apoio ao executivo.
Entretanto, a contestação social continua na ordem do dia em Itália. Os pilotos das companhias aéreas italianas Alitalia e Alitalia Team e os controladores aéreos iniciaram segunda-feira uma semana de greves intercaladas, que as autoridades têm procurado desvalorizar insistindo que «não afectará o normal funcionamento das operações». Amanha será a circulação rodoviária a ser afectada, quando os autocarros e os comboios pararem por um período de quatro horas.


«Avante!» Nº 1351 - 21.Outubro.1999