EUA
Execução de Abu-Jamal
marcada para Dezembro


A execução de Mumia Abu-Jamal está marcada para o próximo dia 2 de Dezembro. O jornalista negro norte-americano condenado à morte em Julho de 1982 será executado «por injecção letal», segundo um comunicado divulgado no final da semana passada pelo gabinete do governador da Pensilvânia. 
A medida segue-se à decisão do Supremo Tribunal dos EUA de rejeitar o recurso dos advogados de Abu-Jamal, anunciada a 4 de Outubro, juntamente com uma série de outras, sem qualquer explicação.

Conhecido como «a voz dos sem voz» pelo seu trabalho numa rádio alternativa, Abu-Jamal viu-se envolvido no assassínio de um polícia, em Filadélfia, na madrugada do dia 9 de Dezembro de 1981, quando trabalhava como taxista nocturno. Na ocasião foram disparadas armas de fogo; quando a polícia chegou ao local encontrou dois corpos: o do policial morto, e o do próprio Abu-Jamal, gravemente ferido com uma bala na coluna vertebral. De acordo com o relatório então feito pelas autoridades, «o homem negro estava inconsciente e não pronunciou nenhuma palavra». O relatório médico respeitante à vítima mortal refere, por seu lado, que a bala que atingiu o polícia William Faulkner era de calibre 45.
Seis meses depois dos acontecimentos tudo se alterou. A polícia passa a atribuir a Abu-Jamal a afirmação «espero ter morto esse porco chui», e a bala encontrada no corpo de Faulkner aparece de tal modo deformada que não é possível determinar o seu calibre. Aparecem também «testemunhas» que dizem ter visto Mumia disparar sobre o polícia: um taxista clandestino e três prostitutas com longo cadastro na polícia de Filadélfia. Como Mumia possuía, legalmente, uma arma de calibre 38, adquirida poucos dias antes na sequência de uma agressão de que tinha sido vítima, estava montado o cenário para a acusação.

Justiça à americana

Após um controverso julgamento, Mumia Abu-Jamal é condenado à morte em Julho de 1982 por um júri integrando um único negro, e presidido pelo juiz Albert Sabo, antigo polícia e membro da Ordem Fraternal da Polícia (FOP), a organização que recentemente divulgou uma «lista negra» dos defensores de Abu-Jamal, apelando a uma nova «caça às bruxas». Sabo detém no seu currículo o recorde absoluto de condenações à morte nos EUA, com a particularidades de todas as suas vítimas, com uma única excepção, serem pessoas de cor.
A campanha nacional e internacional desenvolvida em defesa de Abu-Jamal obrigou a «justiça» de Filadélfia a protelar a execução do jornalista negro e à reabertura do processo. As audições tiveram lugar em finais de Julho de 1995. O juiz Sabo, apesar de reformado, foi de novo designado para presidir às audiências, que conduziu com a parcialidade que o caracteriza, ao ponto de recusar os testemunhos, fundamentais, das antigas prostitutas que na altura dos acontecimentos foram apresentadas pela polícia como testemunhas de acusação. As mulheres afirmam agora sob juramento que a polícia as obrigou a prestar falsos testemunhos.
Se as pressões nacionais e internacionais falharem, Mumia Abu-Jamal morrerá a 2 de Dezembro após lhe terem sido ministradas as três injecções que levam a cabo este assassinato legal: uma para o «acalmar», outra para lhe paralisar os movimentos, e a terceira para lhe paralisar o sistema nervoso. A morte ocorre geralmente ao fim de dez minutos.
Abu-Jamal é um dos 3.500 condenados à morte nos Estados Unidos, o país que se afirma como o guardião mundial dos direitos humanos.


«Avante!» Nș 1351 - 21.Outubro.1999