Lutar, lutar sempre


Como incisivamente acentua o Comité Central do PCP na sua reunião de 14 de Outubro, os muito positivos resultados obtidos pela CDU nas recentes eleições legislativas, estão muito directamente ligados à acção permanente, persistente e singular levada a cabo pelos comunistas na defesa dos interesses dos trabalhadores, das camadas médias e do povo em geral, bem como à sua intervenção determinada na defesa das grandes causas democráticas e de esquerda. Esta coerente intervenção diária do colectivo partidário comunista, constitui um traço distintivo em relação às práticas dos restantes partidos cuja acção «militante» se resume, na generalidade, a participações em campanhas eleitorais – participações que, como a realidade vem mostrando de forma cada vez mais flagrante, tendem a reduzir-se a meras prestações de serviços, por vezes, segundo consta, chorudamente remuneradas. E tudo isso tem, inevitavelmente, reflexos no conteúdo e na forma das diversas campanhas eleitorais. Assim, não só não surpreende como resulta natural que a campanha da CDU – quer pelo seu dinamismo, quer pela sua dignidade, seriedade e verdade – se tenha distinguido do espectáculo, do folclore, da demagogia que caracterizaram as campanhas de todas as outras forças políticas.

Os resultados obtidos pela CDU assumem maior significado se se tiver em conta que foram obtidos num quadro específico particularmente difícil e do qual emergem como dados relevantes a conjuntura económica favorável ao Governo e a despudorada operação de caça ao voto levada a cabo pelo PS – operação que viria a traduzir-se na mais escandalosa exibição de uso, abuso e instrumentalização do poder com fins eleitorais. Relembrar essa operação constitui um imperativo democrático na medida em que as práticas do Governo são reveladoras de uma predisposição para um perigoso vale-tudo, para o recurso a todos os meios – se necessário violando regras democráticas – para alcançar os fins desejados. E se, como no caso em questão, o fim era a obtenção da maioria absoluta, os meios utilizados pelo PS ilustram luminarmente a utilização que o governo de António Guterres iria fazer desse poder absoluto. É ainda a esta luz que devem ser considerados os surpreendentes resultados verificados na votação dos emigrantes, os quais, mesmo não tendo bastado para a obtenção pelo PS da maioria absoluta, não deixam de suscitar uma preocupante estranheza a qualquer cidadão minimamente atento à realidade que foi a recente campanha eleitoral.

Temos dito e demonstrado que o PCP, dando sempre às batalhas eleitorais a devida importância (que é muito grande), não esgota nelas a sua intervenção na vida nacional. Temos sublinhado com veemência que quanto maior e mais forte for a influência eleitoral, social e política do PCP maiores serão as possibilidades de os interesses dos trabalhadores, do povo e do país serem melhor defendidos. Sabemos, por outro lado, que os resultados obtidos em cada eleição têm reflexos imediatos no estado de espírito, no entusiasmo e na disponibilidade interventiva de muitos militantes do Partido. Daí a pertinência da avaliação feita pelo Comité Central no sentido de sublinhar que os resultados de 10 de Outubro criam melhores condições políticas e partidárias quer para o desenvolvimento e intensificação da luta contra a política ao serviço dos interesses do grande capital que, previsivelmente, o Governo do PS irá prosseguir com o tradicional e natural apoio do PSD e do PP; quer para a prossecução da luta por uma nova política, por uma política de esquerda que inicie a resolução dos problemas que afectam a imensa maioria dos portugueses; quer, ainda, para o reforço do Partido, para a sua maior, mais forte e mais sólida ligação às massas, para a sua maior e mais ampla capacidade de intervenção.

É uma evidência que o resultado eleitoral da CDU colheu de surpresa muitos comentadores e analistas que, após vários anos de repetição exaustiva da cassette do «declínio irreversível do PCP», situaram nas eleições de 10 de Outubro o tempo da concretização das suas profecias traduzido no «afundamento definitivo» do Partido. Fascinados pela sua profecia – que amiúde tomava forma de decreto – esses observadores fixaram-se obstinadamente nela, tomaram-na como um dado adquirido, descansaram aliviados e esperaram. De olhos e ouvidos fechados à realidade, imaginaram que lhes bastava dizer que assim iria ser para que assim fosse e não se aperceberam que, entretanto, o PCP prosseguia persistentemente no cumprimento do seu papel, das suas responsabilidades perante o povo e o país e, numa postura única no quadro partidário nacional, dedicava todos os seus esforços e capacidades na crítica e no combate à política de direita. Daí a surpresa e o espanto visíveis nos seus rostos, nas suas falas e nos seus escritos logo que confrontados com a subida eleitoral da CDU. (Aliás, e como se viu antes e depois das eleições, eram muitas e muito diversas as unhas que, afiadas, desejavam e esperavam um mau resultado da CDU). Daí, por outro lado, a naturalidade e a justeza com que o CC do PCP considerou os resultados decorrentes da persistente e múltipla acção dos comunistas na dinamização da luta social contra a política de direita, da sua intervenção em várias áreas da vida nacional na defesa dos interesses de todos os que são vítimas dessa política, da sua persistência na apresentação de propostas visando a solução dos problemas existentes, da qualificada intervenção do seu Grupo Parlamentar – sempre afirmando com serenidade e confiança a identidade, a natureza e o projecto do Partido, garantia do seu papel na sociedade portuguesa.

Por tudo isto, há hoje melhores condições para avançar no reforço da organização e da actividade do Partido. Os caminhos apontados pelo CC – nomeadamente, realização de Assembleias das organizações, reforço da acção e da organização partidárias junto da classe operária e de todos os trabalhadores, criação de novos organismos proporcionando-lhes condições para o seu regular funcionamento, responsabilização de novos quadros e de quadros jovens, estímulo à difusão e leitura do «Avante!» e do «Militante» - conduzirão ao desejado e necessário reforço orgânico do Partido. Reforço que terá tradução no desenvolvimento da luta de massas, no aumento da influência junto da Juventude – que a participação juvenil na campanha eleitoral e as muitas recentes adesões de jovens ao Partido e à JCP mostram ser exequível -, na intensificação da acção junto dos intelectuais e quadros, das mulheres, dos reformados, enfim de todos os sectores e camadas da sociedade que, mais ou menos acentuadamente, constituem alvos preferenciais da política de direita. Os resultados eleitorais de 10 de Outubro mostram a importância decisiva da luta. Mesmo, ou essencialmente, quando ela é travada em condições extremamente adversas. Já o sabíamos mas a sua confirmação flagrante dá-nos mais força para travarmos com êxito as difíceis lutas do futuro.


«Avante!» Nº 1352 - 28.Outubro.1999