As prioridades dos comunistas


O aumento do salário mínimo nacional, o aumento das pensões de reforma mínimas e a reposição da idade da reforma das mulheres aos 62 anos de idade constituem três dos projectos de lei que o Grupo Parlamentar do PCP vai em breve apresentar e foram anunciados pelo presidente da bancada comunista, Octávio Teixeira, em conferência de imprensa realizada na terça-feira na Assembleia da República.

No arranque da nova Legislatura, o Grupo comunista revela assim algumas das que são as suas preocupações e prioridades, bem como as direcções de trabalho com que pretende marcar a agenda política.

Octávio Teixeira iniciou a sua intervenção afirmando que, independentemente das dificuldades que possam ser suscitadas pela composição da nova Assembleia e pela estrutura e composição do novo Governo, «a estratégia do Grupo Parlamentar do PCP é a de desenvolver todos os esforços e despender as energias necessárias para que durante a nova legislatura se possam dar passos positivos na procura de resolução de problemas centrais que afectam a vida dos portugueses, e em particular da vida dos trabalhadores e das camadas sociais mais carenciadas».
Isto porque, como o líder da bancada comunista fez questão de sublinhar, tendo sido «esse o compromisso essencial que o PCP assumiu com os cidadãos eleitores no seu programa eleitoral, será o cumprimento desses compromissos a nossa linha de orientação prioritária».
Assim, na sessão plenária de ontem, o Grupo Parlamentar do PCP fez entrega na Mesa da Assembleia, de «um primeiro conjunto» das iniciativas legislativas que a curto prazo se propõe apresentar, «paradigmáticas» da preocupação primeira dos comunistas de «procurar dar solução a problemas imediatos da sociedade portuguesa» e do seu «inquestionável empenhamento» na concretização dos compromissos eleitorais.
«Para bem do funcionamento das instituições e do regime democrático e para bem dos portugueses», os deputados do PCP «querem acreditar» que, «pelo facto de terem obtido a eleição de 115 deputados», o PS e o novo Governo «não se deixem cair na tentação de usar a sua maioria de bloqueio para inviabilizar cegamente estas e outras iniciativas legislativas do PCP».
Octávio Teixeira resumiu, a seguir, os projectos de lei que o PCP considera prioritários e que dizem respeito ao aumento do salário mínimo nacional, ao aumento das pensões de reforma mínimas, à reposição da idade da reforma para as mulheres aos 62 anos, à baixa das tarifas de electricidade e às medidas legislativas de garantia da eleição do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informação.


Coesão social?

Países

Escudos

Euros

Bélgica

215.407

1074

Espanha

83.465

416

França

210.327

1049

Grã-Bretanha

193.053

920

Grécia

90.636

458

Holanda

216.156

1078

Irlanda

192.011

958

Luxemburgo

234.156

1162

Portugal

61.300

306

Quadro comparativo dos salários mínimos mensais na União Europeia


Projectos de lei

Portugal continua a ser o país da União Europeia com mais baixos salários e onde mais se têm agravado as desigualdades salariais e sociais e a repartição do rendimento nacional.
De facto, a evolução da riqueza nacional, medida pelo PIB, tem-se traduzido por uma apropriação predominantemente a favor dos lucros das empresas dos ganhos de produtividade da economia em prejuízo dos rendimentos do trabalho.
Assim, para o PCP, por razões de justiça social mas também como factor dinamizador da economia, torna-se «imperioso» o aumento anual dos salários, em particular do salário mínimo nacional, num valor que não pode ser inferior à taxa de inflação prevista para esse ano, acrescida, pelo menos, de três pontos percentuais.

Hoje, 66 por cento dos pensionistas de reforma por velhice e 72 por cento dos pensionistas de reforma por invalidez, de um universo que representa 2/3 do total de pensionistas, continuam a receber menos de 34.100$00 de pensão; os pensionistas do regime especial agrícola (560 mil) recebem 24.200$00 e os beneficiários do regime não contributivo e equiparados (cerca de 150 mil) limitam-se tão somente a uma pensão social de 23.600$00. Ou seja, pensões «inaceitáveis» para quem consumiu «os melhores anos da sua vida activa na produção de riqueza para a sociedade» e é depois obrigado a viver abaixo dos limites da pobreza, quando ao Estado se exige «um gesto de solidariedade e de início de reposição da justiça social».
O PCP apresenta, pois, um projecto de lei realista e financeiramente sustentável para a imediata melhoria das pensões mais degradadas: 42.400$00 para beneficiários até 15 anos de carreira contributiva; entre 43.100$00 e 66.300$00 para beneficiários com 15 anos ou mais de carreira contibutiva; 31.100$00 de pensão social; e 31.850$00 de pensão para os trabalhadores agrícolas.

A pretexto de uma pretensa «igualdade de tratamento entre homens e mulheres», em 1993, o Governo do PSD, no âmbito das alterações ao quadro legal do regime de protecção às situações de invalidez e velhice dos beneficiários do regime geral de segurança social, aumentou a idade mínima de reforma das mulheres para 65 anos.
Um pretexto tão falacioso quanto é certo não ter legislado em domínios onde a discriminação da mulher é uma realidade, optando por legislar em matérias onde a evolução e o progresso social tinha permitido obter mais direitos para as mulheres.
A verdade é que o aumento da idade mínima da reforma para as mulheres tem razões de ordem financeira e economicista e procura reduzir os encargos da segurança social à custa dos direitos das mulheres.
No início da anterior legislatura, o PCP apresentou um projecto de lei no sentido de corrigir esta medida e em relação ao qual, depois de ter sido aprovado na generalidade, se verificou uma mudança do sentido de voto do Grupo Parlamentar do PS, impondo a rejeição deste projecto.
Agora, o PCP pretende que a idade de acesso à pensão de velhice para as mulheres seja de novo aos 62 anos «salvo manifestação pelo beneficiário de vontade contrária e sem prejuízo de outros regimes mais favoráveis».

Há um ano, o Grupo Parlamentar do PCP recomendou ao Governo a baixa nominal das tarifas de electricidade em 15 por cento, aconselhando particular atenção para os preços suportados pelos consumidores domésticos.
Em Dezembro passado, verificou-se, de facto, uma redução média nacional das tarifas mas apenas de 6 por cento (sendo de 10 por cento para o segmento industrial e de 4,7 por cento para os consumidores domésticos).
Entretanto, os resultados líquidos da EDP no primeiro semestre de 1999 (50 milhões de contos) - apontando para um resultado líquido anual da ordem dos 90 a 100 milhões de contos -, e os que esta empresa obteve em 1998 (104,8 milhões de contos) mostram que havia e continua a haver margem para uma redução significativa das tarifas de electricidade.
Assim, o Grupo Parlamentar do PCP propõe uma Resolução para que a Assembleia da República recomende ao Governo que, «pelos meios adequados, intervenha atempadamente no sentido da concretização de uma baixa nominal, de 10 por cento em termos médios, das tarifas de electricidade a vigorarem no ano 2000, beneficiando em articular os consumidores domésticos».

Nos últimos cinco anos, os Serviços de Informações têm funcionado sem Conselho de Fiscalização, situação «aberrante» e «inadmissível» quer do ponto de vista do estrito cumprimento da lei - que impõe a existência deste Conselho -, quer do ponto de vista de concepção do Sistema, pois é ao C.F.S.I. que pertence o controlo da legalidade do funcionamento dos Serviços.
Em Novembro de 1998, o PCP apresentou uma iniciativa legislativa no sentido de resolver a situação mas o PS e o PSD inviabilizaram-na. É essa iniciativa que o PCP agora retoma, propondo o alargamento do número de membros do C.F.S.I. de três para sete; a eleição por lista plurinominal (ou nominal, no caso de uma vaga); a eleição por maioria simples, cessando a exigência dos 2/3; o apuramento por método de Hondt, no caso de haver mais de uma lista; a marcação pelo Presidente da Assembleia da República de prazo para a eleição e apresentação da lista; e o mandato de quatro anos para o Conselho eleito


«Avante!» Nº 1352 - 28.Outubro.1999