Colômbia
Negociações
de paz recomeçam
A pequena
aldeia de Uribe foi palco, no domingo, do início formal das
negociações de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (FARC) e o Governo de Andrés Pastrana, uma iniciativa
que os colombianos esperam que venha pôr fim a 50 anos de guerra
civil que fez já 400 000 mortos.
No mesmo dia, 12 milhões de pessoas manifestaram-se nas ruas das
principais localidades do país, exigindo o fim do conflito.
«Basta!» era o principal slogan.
«Com a nossa
presença ratificamos o desejo de paz com justiça social,
independência e soberania para toda a Colômbia», declararam as
FARC num documento apresentado à mesa. «Os custos da paz com
justiça social, sem exclusões, intimidações e assassinatos,
deverá ser paga por quem arrastou a Colômbia para a pior crise
da sua história», defendem os guerrilheiros, que acrescentam
que «apesar dos culpados da bancarrota em que o país se
encontra estarem à vista, consideramos que todos devemos
comprometermo-nos na solução da crise social e política da
Colômbia».
As críticas não vieram só das FARC. Também os representantes
do Governo reconheceram que a origem da violência está no
modelo político colombiano. «A democracia que decidimos
defender está afectada pelo vírus da corrupção, do saque dos
dinheiros públicos, dos privilégios de minorias», defendeu
Victor Ricardo.
No dia em que tinham início as negociações de paz, cerca de 12
milhões de colombianos saíram às ruas, numa manifestação
nacional convocada por diversas organizações civis. Objectivo:
exigir a paz. «Basta de militares gringos», «basta de
paramilitares», «basta de fome» e «basta de corrupção»
eram os slogans mais ouvidos.
As posições dos guerrilheiros
«Nesta etapa
põe-se à prova a decisão política do governo, do Estado, da
classe governante e dos seus partidos - se verdadeiramente a
têm», salientam as FARC, que consideram que as negociações de
paz deverão alcançar um «compromisso sério para realizar
programas de significativo investimento social, económico e
político que solucionem a curto prazo o crescente desemprego, a
cascata de impostos indirectos, a perda acelerada do valor
aquisitivo da moeda colombiana face ao dólar, as carências na
saúde, educação, habitação», entre outras questões
Outra reivindicação dos guerrilheiros é resolver urgentemente
a «grave crise que asfixia o sector agrário, como resultado da
nefasta política do modelo neoliberal», através da
implantação de uma reforma agrária.
As FARC exigem ainda o fim dos grupos paramilitares e da
impunidade para os militares implicados em violações dos
direitos humanos, o investimento de guerra e a ajuda militar
norte-americana, as imposições do FMI e o endividamento
externo, bem como os latifúndios, as privatizações, os
despedimentos colectivos nas empresas e as discriminações das
mulheres e das minorias étnicas.
Quanto à produção de estupefacientes, o grupo guerrilheiro vê
a questão como «um grave problema social que não pode ser
tratado por via militar», visto requerer «acordos com os
camponeses produtores dos cultivos ilícitos, com a
participação da comunidade nacional e internacional e o
compromisso das grandes potências como principais fontes da
procura mundial» de drogas.
Referindo que «é necessário fazer uma marcada diferenciação
entre os camponeses que cultivam a cocaína como único meio de
subsistência e os que traficam os derivados dos cultivos
ilícitos», as FARC propõe um programa de substituição do
cultivo de estupefacientes por produtos legais no município de
Cartagena del Chaira (onde a produção de cocaína é alta)
«para demonstrar que este problema requer não um tratamento
policial, mas sim um enfoque económico e social».