Suíça
Extrema-direita
ganha eleições
A União Democrática do Centro (UDC), o partido populista e xenófobo de Christoph Blocher, um industrial milionário de Zurique, tornou-se na primeira força política da Suíça ao receber 22,8 por cento dos votos nas eleições federais de domingo.
O partido de Blocher
registou uma subida histórica, passando de 14,9 por cento e 29
lugares, no Parlamento eleito em 1995, para quase 23 por cento e
43 deputados. Acresce que a UDC aumentou a sua influência não
só na maioria dos cantões alemães, mais conservadores, mas
também nos cantões francófonos, tradicionalmente mais
progressistas, e no Ticino de língua italiana, onde a Liga, uma
formação aliada da UDC, ficou em segundo lugar.
«É o voto dos que não querem entrar na Europa e querem uma
política de asilo mais restritiva», resumiu Giuliano Bignasca,
porta-voz da Liga e agora deputado eleito.
A política de Blocher assenta de facto em mensagens simples,
reaccionárias, xenófobas, que jogam com o medo das mudanças e
apelam aos tradicionais «valores» suíços. Em nome da
independência e da neutralidade, Blocher opõe-se à
integração na União Europeia, na NATO e na ONU, ao mesmo tempo
que atribui todos os problemas sociais aos imigrantes. Os seus
apelos à segurança, as propostas de endurecimento da política
de asilo, de uma maior repressão da droga, de baixa dos
impostos, entre outras, granjearam-lhe as simpatias do
eleitorado, tanto da classe média como dos bairros populares. De
registar que a Suíça conta actualmente com cerca de 20 por
cento de população imigrante (incluindo um número
significativo de portugueses, que trabalham sobretudo na
construção civil, hotelaria e na agricultura).
A vitória de Blocher foi saudada por Haider, o dirigente do
Partido Liberal austríaco, de extrema-direita, que considera o
ascenso dos seus congéneres suíços como uma confirmação da
justeza das suas teses. «Em vez de apoiarem a política de
compadrio e dos encargos financeiros, os suíços apoiam as
forças de reforma e inovação que, tal como os liberais na
Áustria, abordam os problemas das pessoas e oferecem modelos de
soluções concretas», disse Haider.
A «estabilidade» garantida
Embora esperado, o
avanço da direita suíça surpreendeu pela sua amplitude. A UDC
capitalizou votos à esquerda e à direita: os socialistas (PS)
perderam cinco lugares dos 54 que detinham no Parlamento,
enquanto o Partido da Liberdade perdeu os seus sete
representantes.
Apesar de passar a segunda força política, com 21,5 por cento
dos votos, o PS permanece contudo como a primeira força
parlamentar, com 49 lugares, seguido da UDC, com 43. Em terceiro
lugar fica o Partido Radical Democrático, que perde três
deputados e fica com 42, enquanto o Partido Democrata Cristão
passa a quarta força, embora conquiste mais um lugar, ficando
com 35.
Os resultados eleitorais, cuja importância política não deve
ser subestimada, não têm contudo incidência significativa na
formação do Conselho federal (governo), constituído desde 1959
segundo um esquema que tem servido de base à propalada
estabilidade Suíça: representantes de todos os quatro
principais partidos repartem entre si as sete pastas do governo.
As mudanças, inevitáveis, serão a nível político. Quanto à
composição do executivo, a diferença, em relação ao anterior
(dois socialistas, dois radicais, dois democratas cristãos e um
da UDC), é que a UCD reclama agora dois ministros.
De salientar que, de acordo com a Constituição da
Confederação, o Parlamento não pode fazer cair o Conselho
federal.
No total, no escrutínio de domingo foram eleitos 200 deputados
para o Conselho Nacional (câmara baixa) e 46 para o Conselho dos
Estados (câmara alta), para um mandato de quatro anos.
Refira-se que novo Conselho Nacional suíço conta com 45
mulheres (22,5 por cento), ou seja, mais dois lugares que em
1995. No Conselho dos Estados, sete mulheres foram eleitas à
primeira volta, e duas têm hipóteses de ser eleitas na segunda
volta. Em 1995 foram eleitas oito mulheres.