Pobreza e prostituição
aumentam no mundo


Cerca de um milhão de crianças e adolescentes são anualmente arrastadas para o mercado da prostituição, em especial do Sudeste da Ásia e na América do Sul, revelou em Madrid a Organização Não Governamental (ONG) "Mãos Unidas", uma organização católica que actua em mais de 60 países, com cerca de sete mil voluntários permanentes.

A informação consta de um relatório de "Mãos Unidas", que no passado fim-de-semana assinalou o seu 40º. aniversário com um seminário internacional subordinado ao tema «A solidariedade face à exclusão», e apresentou o relatório «Reservado o direito de admissão: injustiça e exclusão no mundo global».
Segundo a ONG, a idade, o sexo, a diferença cultural e a cor «funcionam cada vez mais como factores de exclusão gerando um novo tipo de escravos».
De acordo com os dados disponíveis, admite-se que cerca de 1.500 milhões de pessoas vivam no mundo na mais absoluta pobreza, sendo que 70 por cento são mulheres.
A marginalidade, a insegurança e a desigualdade estão a aumentar, alerta a "Mãos Unidas". Em 1960 um quinto da população dos países mais desenvolvidos era mais rica que o quinto mais abastado das populações mais pobres; na década de 90 essa proporção aumentou de sessenta para um.

Repensar o futuro

Tendo como pano de fundo esta realidade, a ONG "Mãos Unidas" apela a que se «repense o futuro», sugerindo que as políticas sociais avancem intimamente ligadas as políticas económicas e que se evite o modelo actual centrado apenas no mercantilismo.
«Os Ministérios da Economia do mundo rico têm que repensar a sua política, porque realmente problemas como a dívida externa já não estão nas mãos dos governos, mas sim nas mãos de entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI)», afirmou um participante no seminário.
Para Araceli Caballero, autora com Eva Sammartín do relatório de "Mãos Unidas", «não é verdade que o mundo seja hoje uma aldeia global, uma cidade para todos». É pelo contrário «o domínio de um senhor».
De assinalar que até já Banco Mundial e as Nações Unidas falam dos efeitos negativos desta globalização que faz com que 20 por cento da população detenha 86 por cento da riqueza mundial.
Entretanto, mais de 250 organizações espanholas de cooperação, sociais, religiosas, sindicais e ecologistas, integradas na campanha «Dívida externa, dívida eterna?», vão pedir ao governo de José Maria Aznar que defenda a anulação ou redução da dívida externa dos países pobres por ocasião da Cimeira Ibero-americana que se realiza nos dias 15 e 16 de Novembro em Havana. Segundo os organizadores da campanha, Espanha é o maior credor dos países da Cimeira, pelo que «deveria assumir a liderança da anulação da dívida».
Segundo dados da campanha, a dívida total dos países em vias de desenvolvimento em relação a Espanha ascende a cerca de 1,6 mil milhões de pesetas, 38 por cento dos quais corresponde a países latino-americanos (os principais devedores são a Argentina, México, Cuba, Nicarágua e República Dominicana). Nos últimos três anos, as autoridades espanholas anularam 49.330 milhões de pesetas da dívida.


«Avante!» Nº 1352 - 28.Outubro.1999