Rita Magrinho sobre os Jogos de Lisboa
O «Desporto para Todos»
na prática municipal


Eleita pelo PCP na Coligação «Mais Lisboa», Rita Magrinho tem a seu cargo, durante este mandato, o pelouro do Desporto no município da capital.
Os Jogos de Lisboa, cuja 14.ª edição decorre até meados de Junho, mobilizam milhares de atletas de praticamente todas as idades, estratos sociais e modalidades desportivas, para actividades regulares nos diversos equipamentos desportivos da cidade.

Em depoimento ao «Avante!», a vereadora comunista diz que «o significado da expressão "Desporto para Todos" assume, para nós, um sentido real de abertura da prática desportiva a toda a população, concretizada na concepção da democratização da prática desportiva». Tal como sucede noutros concelhos, onde as responsabilidades dos autarcas comunistas se traduzem em iniciativas como os Jogos da Paz, de Loures, as Seixalíadas ou as Olimpíadas Populares do Alentejo.

«Avante!»:
— Como seria Lisboa sem os jogos que agora iniciaram a sua 14ª edição?

Rita Magrinho:Lisboa é hoje, sem dúvida, uma cidade mais sensível à prática desportiva, graças ao impulso dado pelos Jogos. De facto, por toda a cidade, assistimos ao fenómeno das várias camadas e sectores da população a procurarem ligar-se cada vez mais a uma prática desportiva continuada. Por outro lado, o movimento associativo, que, de certa forma, viveu subalternizado até ao lançamento de iniciativas como estes Jogos, tem ganho ânimo e contribuído para uma significativa adesão da população à prática do desporto. É indispensável referir, igualmente, a intervenção positiva das juntas de freguesia, com as quais temos protocolos de descentralização de competências
Hoje podemos afirmar que, se não existissem os Jogos de Lisboa, não existiriam os 30 mil praticantes que aderem a esta prática regular; não existiriam seis mil crianças a praticar desporto nas «escolas e escolinhas» municipais; não existiria uma dinamização e recuperação significativas do parque desportivo nem as condições psicológicas, sociológicas e culturais favoráveis ao crescimento da adesão ao desporto, nomeadamente em sectores como os idosos e a população portadora de deficiência.
Depois de 13 anos desta experiência, podemos afirmar que os Jogos têm contribuído para criar uma nova mentalidade, através do convívio, da competição e da organização de iniciativas que transformam Lisboa numa cidade mais humana, mais tolerante e mais fraterna.

— Após estes treze anos o que têm de novo os Jogos de Lisboa?

— Os Jogos têm sabido adaptar-se às novas realidade e aos interesses da população e, por isso, não pode afirmar-se que, ao longo dos últimos treze anos, tivesse existido um projecto fixo para os Jogos.
Devo, no entanto, realçar que se mantêm as linhas orientadoras, definidas a partir de 1990, que se referem à melhoria do quadro competitivo dos Jogos, ao esforço que tem sido feito para integrar, cada vez mais, grupos sociais menos favorecidos, como os idosos e as mulheres, e à continuação da orientação da nossa actividade, fundamentalmente, para os jovens, de forma a criar uma mentalidade desportiva inovadora e motivada pelos princípios da correcção.

— Que lugar ocupam os Jogos na actividade do pelouro do Desporto?

Quando falamos dos Jogos de Lisboa pretendemos, em sentido amplo, integrar não apenas os quadros competitivos, mas também todos os apoios e recursos que os tornam possíveis.
As instalações e infraestruturas desportivas, a formação, a divulgação e a promoção do desporto a todos os níveis são acções que o pelouro realiza para concretizar aquilo a que, em sentido restrito, se chama Jogos de Lisboa. A opinião pública, ao assimilar este conceito, já considera integrados nos Jogos de Lisboa os quadros competitivos restritos e as festas e convívios das várias modalidades e, igualmente, iniciativas como a Maratona e a Meia Maratona de Lisboa, os Jogos do Futuro, a grande festa do desporto que é a «Lisboa Cidade Desportiva», os torneios internacionais e os campeonatos que se realizam na cidade e as múltiplas actividades realizadas no âmbito do sector federado, apoiadas pelo pelouro do Desporto da CML.

— Que diferença existe em ser uma vereadora comunista a responsável pelo trabalho municipal na área desportiva?

— Como vereadora comunista, a minha intervenção no desporto considera, naturalmente, as grandes linhas de intervenção social que o PCP defende. Neste sentido, o significado da expressão «Desporto para Todos» assume, para nós, um sentido real de abertura da prática desportiva a toda a população, concretizada na concepção da democratização da prática desportiva. A prática desportiva é vista por nós como um processo de elevação cultural das populações e, necessariamente, como uma oportunidade para criar condições para a melhoria da sua qualidade de vida.
A prática desportiva continuada das crianças, dos jovens, dos adultos, dos idosos, das mulheres, dos deficientes, dos praticantes de ambos os sexos e de todas as idades, dos sectores federado e não federado, escolar e autárquico são metas que, na perspectiva enunciada, pretendemos atingir. Temos, no entanto, consciência de que este é um trabalho moroso e de renovação das mentalidades que exige persistência e que só será alcançado com a conjugação dos esforços de todas as entidades com responsabilidades nesta área de intervenção social.


«Avante!» Nº 1352 - 28.Outubro.1999