Encontro de
Quadros de Setúbal faz balanço positivo
Mais
ligados aos trabalhadores
e aos problemas das populações
Mais de 350 quadros das mais diferentes áreas de trabalho do Partido no distrito de Setúbal, participaram no passado sábado num encontro, durante o qual foi feito um balanço e análise do trabalho desenvolvido nos últimos dois anos, definidas as grandes linhas de acção até 2001, bem como as prioridades do calendário de iniciativas.
Desde a realização
em 5 de Abril de 1988 do Encontro de Quadros da ORS, os
comunistas de Setúbal alcançaram importantes resultados quer no
plano interno quer ao nível da intervenção política e
eleitoral.
Este esforço foi salientado por Carlos Carvalhas,
secretário-geral do PCP, que interveio no final da sessão da
manhã. O dirigente comunista chamou a atenção para a
situação grave da economia portuguesa e criticou as grandes
linhas de actuação do governo, opondo-se nomeadamente a
alterações da legislação eleitoral que afectem o princípio
da proporcionalidade.
Com vista ao reforço do Partido, Carlos Carvalhas apelou à
iniciativa política das organizações e falou da importância
do trabalho com a juventude, do acompanhamento das questões
ambientais, da criação de espaços para dialogar com os vários
sectores da sociedade. Como referiu o secretário-geral, o PCP
não é uma força fechada sobre si mesma, mas está cada vez
mais aberto à sociedade.
Antes, logo na abertura dos trabalhos, Jorge Pires, membro da
Comissão política e da DORS do PCP, falou sobre os objectivos
do Encontro, salientando que «a um Partido revolucionário que
intervém na sociedade para a transformar cabem-lhe tarefas e
responsabilidades, cuja concretização depende em grande medida
da capacidade que tivermos de nos ligarmos às pessoas onde quer
elas estejam, colocando como primeira prioridade nesta ligação
os trabalhadores nos seus locais de trabalho».
«Esta não pode ser entendida apenas com uma questão
ideológica. Apesar de tudo o que se tem dito nos últimos anos
sobre as classes, a vida confirma todos os dias, que no
desenvolvimento da luta de classes, o embate fundamental é
aquele que se concretiza no dia-a-dia no local de trabalho. É
aí que se confrontam as duas classes antagónicas da sociedade
portuguesa e é a partir deste confronto que se esclarece e
clarifica a coincidência de interesses entre o grande patronato
e aqueles que no poder político desenvolvem políticas
contrárias aos interesses dos trabalhadores e do nosso povo.»
A força do PCP
Mais adiante, Jorge
Pires sublinhou que «perante a cada vez mais complexa e exigente
luta política e ideológica, em que estamos envolvidos, vão
surgindo opiniões de que o mais importante na nossa
intervenção são os conteúdos e não o esforço para aumentar
e alargar a participação dos membros do Partido. Não só
discordamos como consideramos que as duas coisas não são
incompatíveis e que até se complementam. A participação é um
valor intrínseco à nossa ideologia, aos nossos princípios e
está profundamente ligada ao projecto de sociedade que
defendemos. Cada vez mais as pessoas, incluindo naturalmente os
membros do Partido, são motivados para a participação, se
sentirem que essa participação é útil e é reconhecida.
«Não aceitamos a ideia retrógada e perigosa que no seu
desenvolvimento nos levará à divisão dos militantes, entre os
que pensam e decidem e os que executam. O que o nosso Partido
precisa é de mais camaradas a pensarem e a executarem.»
Jorge Pires considerou ainda que «A força do nosso Partido
está na sua natureza de classe, na sua ideologia na capacidade
que tivermos de pôr a funcionar regularmente todo este grande
colectivo partidário que é a ORS, preparado ideológica e
politicamente para intervir».
Actividade intensa
O relatório de
actividade apresentado no Encontro traduz de forma quantificada o
intenso trabalho realizado, e dá conta dos avanços obtidos dos
quais são de salientar alguns exemplos. No referido período
foram realizadas 45 assembleias de organização; teve lugar a
5ª AORS, para cuja preparação efectuaram-se 240 reuniões,
assembleias e plenários, envolvendo um total de 2431 militantes.
Recorde-se que a AORS contou com 1200 participantes, dos quais
744 eram delegados.
Embora aquém do objectivo de mil novos militantes, nestes dois
anos, segundo os dados do relatório, foram recrutados 560
membros do Partido - dos quais 41,6% têm até 30 anos; 39,8%
são mulheres e 35,2% são operários industriais. Surgiram 22
novos organismos e formam reactivados 31; aumentou o número de
exemplares do «Avante!» vendidos semanalmente, invertendo-se a
tendência de descida verificada nos últimos anos.
Estes resultados foram obtidos no contexto de outras importantes
batalhas, de que se destacam os dois referendos, a luta contra o
pacote laboral, as eleições europeias e legislativas, para
além de do acompanhamento e participação em muitas outras
reivindicações e lutas. Salienta-se ainda que o grande
contributo da ORS para festa do «Avante!», designadamente o
aumento do número de EP´s vendidas antecipadamente pelas
organizações.
Contudo, como frisou Jorge Pires, «Todos nós sabemos que
podíamos ir mais longe, que podíamos ser mais audazes nas
medidas que tomámos, que podíamos ter evitado cometer os mesmo
erros. Mas é esta permanente insatisfação que sentimos com o
nosso trabalho que torna a nossa intervenção aliciante e nos
dá força para irmos mais longe».
Um distrito em mutação
Sobre a influência
eleitoral do PCP no distrito, e depois de ter valorizado a subida
de percentagem e a eleição de mais um deputado nas últimas
legislativas, Jorge Pires referiu-se às grandes alterações
verificadas na estrutura económica e social do distrito, nas
duas últimas décadas.
Segundo recordou, no início da década de 80, só na Quimigal,
Lisnave, Setenave e Siderurgia Nacional existiam 4500 militantes
do PCP. Hoje, a realidade é bem diferente e estudos indicam que
a Península sofreu não só mutações no tecido económico e
social, como também alterações demográficas com a
instalação novos residentes oriundos de outras regiões do
País. Estas pessoas são consideradas as mais pessimistas
relativamente ao futuro e por isso menos receptivas às mensagens
políticas, dado que a sua deslocação na maior parte dos casos
não foi por qualquer desejo vontade própria, mas por
necessidade. Apesar disto, o PCP continua a obter em Setúbal,
que com os seus 800 mil habitantes é o quatro distrito do país,
resultados médios de 43% para as autarquias e 24% para as
legislativas.
A explicação desta grande influência deu-a Jorge Pires: «onde
está o Partido, onde ele funciona, onde os membros do Partido se
assumem como tal estando sempre na primeira linha de combate
político e ideológico, onde as organizações se ligam à vida
do meio onde estão inseridas com os comunistas a assumirem a
defesa dos trabalhadores e das populações e a serem porta vozes
dos seus anseios, os resultados aparecem, são positivos e
motivadores».
Prioridades para 2001
A resolução do Encontro avança um conjunto de medidas e objectivos que, como resumiu Jorge Pires, membro da Comissão Política e responsável pela ORS, «apontam em três direcções fundamentais: reforço orgânico, aumento da militância e maior ligação aos problemas dos trabalhadores, das populações e da região».
Entre as prioridades surge em primeiro lugar a criação de novas células e organismos em empresas que tenham mais de 200 trabalhadores, dando particular atenção às concentrações operárias. O documento define ainda como orientações a dinamização das organizações por local de residência; a realização de assembleias em especial das organizações de base; o recrutamento de 500 novos militantes no próximo ano; a criação de novos organismos e reactivação de outros; a intervenção junto do quadros técnicos e intelectuais e dos pequenos e médios empresários; a responsabilização de mais quadros e o rejuvenescimento dos organismos.
O Encontro decidiu desenvolver uma campanha de afirmação da imprensa do Partido, estabelecendo o objectivo de aumentar a venda semanal do «Avante!» em mais 500 exemplares.
A Resolução define ainda uma conjunto de objectivos políticos e eleitorais, considerando que estão criadas condições para intensificar a concretização das principais direcções de trabalho decididas na 5ª AORS, realizada em Fevereiro último.
Por fim, foram definidas as principais prioridades do calendário de trabalho para o próximo ano, onde para além do aniversário do Partido, da Festa do «Avante!» e da preparação do 16.º Congresso, estão previstas várias iniciativas com vista ao reforço da organização; à afirmação e intervenção política; formação política e ideológica; intervenção no poder local; participação em realizações de carácter unitário.