Pessoal da ADP
protesta amanhã em Lisboa
Lucros
para a nova CUF
sacrifícios para quem trabalha
Os projectos do Grupo José de Mello, que procura na privatizada Quimigal recuperar o nome da velha CUF, chocam com os interesses dos trabalhadores. A curto prazo, há já cerca de três dezenas de pessoas que, na Adubos de Portugal, têm o emprego em risco.
Entre a
especulação imobiliária, em terrenos hoje ocupados com
fábricas, e o abandono progressivo da produção de adubos a
favor da simples comercialização, os trabalhadores da ADP vão
tentando descortinar os motivos que levaram o Grupo José de
Mello a anunciar, em Setembro, o encerramento da fábrica do
Barreiro e a concentração na Mitrena, em Setúbal. Ainda
admitem, alguns, que se possa apenas tratar de mais uma manobra
para conseguir uma nova redução de pessoal.
A par de interrogações quanto aos motivos reais, têm algumas
certezas: a saída da ADP do Barreiro vai alterar a vida a 130
trabalhadores e suas famílias. Destes, cinco ou seis dezenas
deparam-se com condições de transferência para Setúbal que
não acautelam os direitos alcançados nem compensam os
transtornos da deslocação; uns vinte, ficariam ainda nas
instalações do Barreiro, mas confrontados com uma incerteza
muito grande quanto ao futuro; menos de uma dezena poderão mudar
para a unidade de Alverca; alguns já decidiram aceitar a
rescisão do contrato; e há três dezenas de trabalhadores que a
ADP não pretende manter e a quem, nas insistentes «conversas»
para que são chamados, vai ameaçando com o despedimento
colectivo, caso não aceitem as condições propostas para
rescisão.
Para o pessoal da produção de adubos, tal como para toda a ADP,
o Acordo de Empresa em vigor é o melhor instrumento de defesa
dos direitos. É no AE, salientaram ao «Avante!» membros dos
ORTs da empresa e dirigentes sindicais do sector químico, que
estão consagradas as normas mais favoráveis para os
trabalhadores, designadamente em áreas tão importantes como as
indemnizações em caso de despedimento, as deslocações, os
horários de trabalho, as formas de remuneração. É no AE que o
Grupo José de Mello tem um forte obstáculo a que, recuperado
já o nome da velha CUF, as condições de trabalho voltem a ser
como nos tempos do fascismo.
Frutos
da privatização
A presente ofensiva
é vista como mais uma consequência grave da reprivatização da
Quimigal, antecedida do seu desmantelamento em 24 empresas, de
que resultou a diminuição de 11 mil trabalhadores para os
actuais cerca de 3 mil (contabilizados pelas estruturas da CGTP
em todo o universo de empresas, de onde sobressaem três ou
quatro grandes unidades e onde são incluídas actividades que
nada têm a ver com a produção industrial). Também por estes
resultados, as preocupações quanto ao futuro alargam-se a
outros trabalhadores, para além dos que mais directamente são
atingidos pela concentração da produção de adubos em
Setúbal.
Os trabalhadores da ADP, salientaram-nos os seus representantes,
já efectuaram uma greve de duas horas por turno, a 8 de Outubro,
dia em que se concentraram frente à Câmara Municipal do
Barreiro; a 10 de Novembro, uma greve de 24 horas parou
totalmente as instalações do Barreiro e Lavradio, obtendo até
a adesão pouco usual de alguns quadros técnicos. Num plenário
realizado sexta-feira, decidiram deslocar-se amanhã à sede da
empresa, no Poço do Bispo. Sabem, por experiência própria, que
só a luta em unidade poderá pôr um travão aos que, na mira de
maiores e mais rápidos lucros, pretendem sobretudo intensificar
a exploração do trabalho.
Durante a concentração de amanhã vão ser analisadas formas
concretas de prosseguimento do combate.