9º
Congresso da CGTP-IN
Soa
a falso
o discurso do Governo
Depoimento de José
Ernesto Cartaxo,
membro da Comissão Executiva da CGTP-IN
«Avante!»:
Em que medida o aumento da precariedade de emprego se reflectiu, desde o último congresso, na acção reivindicativa dos trabalhadores e na capacidade de intervenção sindical?
José Ernesto
Cartaxo Ocorreu, desde o último
congresso, já com o actual Governo, um forte agravamento da
precariedade de trabalho: contratos a prazo, trabalho
temporário, desenvolvimento do falso emprego independente (os
"recibos verdes"), recurso injustificado à
subcontratação, trabalho ao dia, à hora, etc..
Este agravamento da precariedade teve consequências em toda a
vida laboral e social dos trabalhadores: nos seus direitos (que
são negados), nos salários, na desregulação dos horários de
trabalho, no aumento dos acidentes de trabalho, na não
inscrição na Segurança Social, etc.. As consequências
negativas não são menores quando se trata de direitos
colectivos, como o direito à greve, o direito de contratação
colectiva, direitos de informação e de consulta.
Nem todos os direitos são formalmente negados, mas na prática
são inviabilizados ou neutralizados pelo risco de perda de
emprego. Por isso, existe uma grande dose de hipocrisia quando o
Governo e o patronato defendem a flexibilidade, que é quase
sempre um eufemismo para a precariedade, e dizem não pôr em
causa os direitos dos trabalhadores. De igual modo, soa a falso o
discurso do Governo sobre a necessidade de aumentar a formação
e a qualificação quando, ao mesmo tempo, promove a precariedade
laboral, que constitui um dos principais desincentivos à
valorização profissional dos trabalhadores e reflecte uma
política de continuar a apostar nos baixos salários.
O aumento da precariedade constituiu assim um dos principais
aspectos que debilitou a capacidade reivindicativa e de
intervenção sindical desde o último congresso. Daí que a
matéria relativa ao emprego estável e com direitos seja um dos
temas centrais do 9.º Congresso da CGTP-IN.
Como vê hoje a CGTP-IN as pressões para a contenção dos salários, feitas numa situação muito modificada, mas com o velho argumento de que melhores remunerações dos trabalhadores iriam aumentar o desemprego?
As políticas
de contenção dos salários conduziram em toda a Europa à
diminuição da parte dos salários na distribuição do
rendimento, alargando e reforçando as desigualdades sociais.
Não foi por isso que aumentaram os investimentos, se criaram
empregos e se reduziu o desemprego.
Os salários elevados não são incompatíveis com o emprego.
Pelo contrário, constituem um factor de dinamização da
actividade económica, atendendo aos efeitos positivos sobre o
reforço do mercado interno. Nas condições da economia
portuguesa, continuar uma política de baixos salários é
insistir em produções e em especializações de fraca criação
de riqueza o que compromete a competitividade do País.
Por isso, a CGTP-IN vê na valorização dos salários e na sua
aproximação à média comunitária uma das linhas de força
essenciais a sair do próximo Congresso.