Suíça
Emigrantes na frente
da luta sindical


Centenas de trabalhadores portugueses do ramo suíço da construção participaram, no dia 22 de Novembro, numa jornada nacional de informação sobre o desenvolvimento das negociações entre as delegações sindicais e patronais.

Os cerca de 17 mil portugueses que actualmente trabalham na Suíça no sector da construção não escondem, tal como os trabalhadores nacionais e emigrantes de outras nacionalidades, o seu descontentamento face a uma proposta de aumento salarial muito inferior à apresentada pelos sindicatos, e acompanham com muita inquietação a atitude da federação patronal que tem apenas como objectivo guardar para si os benefícios, pouco cedendo aos trabalhadores que nos últimos sete anos perderam mais de 10 por cento do valor do salário real. O patronato procura igualmente impor um sistema de 200 horas variáveis de trabalho por ano, medida rejeitada pelos trabalhadores, porquanto o seu horário de trabalho anual já está demasiado flexibilizado. As negociações tocam assim em dois pontos principais: um aumento geral de salário de 200 francos por mês, e a supressão da flexibilização das horas de trabalho.
Em duas paralisações, em Neuchâtel e Lausanne, com participação maioritária de portugueses, e mais tarde numa manifestação em Genebra com cerca de 2000 participantes, os trabalhadores demonstraram a sua grande insatisfação. Entre os portugueses afirmava-se ser melhor o regresso a Portugal do que permanecer na Suíça a ganhar salários que mal dão para viver. De sublinhar que os trabalhadores portugueses no sector da construção não só são muito prestigiados como se encontram entre os melhor qualificados.
A actual situação conflituosa, a manter-se, pode forçar ao regresso de muitos emigrantes e dificultar a contratação de novos trabalhadores para as próximas temporadas de trabalho na Suíça.


Arrogância alemã sem limites

A brutal decisão da empresa alemã Adtranz de encerrar as suas fábricas em vários países, entre os quais Portugal e a Suíça, e de mudar a produção para Berlim está a provocar uma reacção pouco comum nos trabalhadores, na população e nos sindicatos helvéticos.
Mobilizadas contra o encerramento dos centros de produção em Pratteln, região de Basel, e em Oerlikon, região de Zurique, milhares de pessoas têm-se manifestado na defesa dos 710 postos de trabalho que se perdem com o fecho das duas unidades fabris. A imprensa nacional classifica a medida de «arrogante» e afirma que «a emoção suscitada pelo brutal anúncio do encerramento das fábricas Adtranz é, sem dúvida alguma, algo que, em relação a decisões similares, se pode classificar como uma das mais importantes dos últimos anos».
A reacção deve-se não só ao fecho das fábricas e aos despedimentos mas também ao sentimento de perda do valor «sentimental» que os suíços dedicam aos caminhos de ferro. É como a perda de uma referência nacional. Nunca qualquer outro encerramento de empresas gerou tanta emoção como este.
As pressões surgem de todos os lados, desde o campo económico ao político, passando pelo sector sindical. A companhia de caminhos de ferro nacional e a empresa de transportes da cidade de Zurique ameaçaram anular as suas encomendas de vagões como forma de protesto. Outros sectores pedem «a cabeça» do actual ministro da economia, Pascal Couchepin, acusado de nada ter feito para impedir o encerramento da empresa, considerada como muito rentável. Também o popular Franz Hohler, acompanhado pelo seu violoncelo, veio para a rua, solidário com os trabalhadores, para dedicar uma canção ao «Monsieur de Berlin» - isto é, ao grande patrão da Adtranz, Rolf Eckrot -, que tem por título: «Cheira mal a restruturação».
A arrogância do homem de Berlim está a ser fortemente condenada, enquanto os trabalhadores da Adtranz se mantêm firmes na defesa dos postos de trabalho e esperam que a sua luta possa ser apoiada por pressões políticas. Há no entanto também quem afirme que, para o futuro, na onda da mundialização, «a Suíça só poderá viver dos seus bancos». — Domingos Mealha


«Avante!» Nº 1357 - 2.Dezembro.1999