CLINTON
Internet e desigualdades


O progresso técnico - científico é um elemento decisivo para fazer avançar a Humanidade. A ciência é sempre uma luz que ilumina o caminho do Homem. Mas os avanços técnico - científicos nem sempre estão ao alcance de todos, antes são muitas vezes utilizados em benefício de sectores muito reduzidos das sociedades. Os países mais desenvolvidos, as grandes potências podem através da sua força política, económica, diplomática e militar fazer com que esses avanços se repercutam na vida dos cidadãos e dos povos de modo muito negativo. Assinala-se o enorme avanço no domínio dos satélites e que os EUA utilizaram para destruir a Jugoslávia.

Na Cimeira de Florença, da chamada Terceira Via, a via que pretende unir no centro o representante da América imperial com os representantes de partidos socialistas e social democratas falou-se imenso de progresso, avanço tecnológico e de Internet. Mas o que é a Terceira Via ? O abandono das posições socialistas e social democratas, sem que Clinton abandone o que quer que seja do seu ideário imperialista. No fundo são os partidos socialistas e social democratas quem hipoteca no altar do centro político os seus valores políticos, o que ainda sobrava da alma original.
Na Cimeira de Paris a Internacional Socialista mostrou-se preocupada com a evolução da globalização, embora Schroder, Blair e Jospin são os que dão corda à carroça da globalização. Porém, em Florença, estes dirigentes socialistas, com António Guterres, Presidente da I.S., fizeram reflexões conjuntas com o líder da nova ordem política, económica e militar, o Sr. William Clinton. E como já se assinalou todos encheram a boca acerca do que devem ser o progresso e o papel das novas tecnologias e as suas incidências na sociedade contemporânea.

Clinton garantiu a sua fé que em breve todas as escolas dos EUA terão acesso à Internet. Não deverá ser assim para os vários milhões de excluídos, mas mesmo que a maioria dos norte-americanos tenham acesso à dita Internet, é bom sabermos o que se passa por esse mundo, pois o mundo é feito de muitos mundos. Os números ás vezes são cruéis, não permitem disfarces. Sem conceder que a Internet é algo que resolva os grandes problemas do mundo vejamos alguns números. Segundo o Instituto Panos de Londres, no seu informe sobre Internet e Pobreza, em cada 10 utilizadores em todo o planeta, 8 são do norte. De acordo com esse informe na África, América Latina e Europa do Leste há 7,6 milhões de utilizadores, na Ásia Pacífico 6,5 milhões, enquanto na Europa o número atinge os 23,7 e nos EUA 51,6. Mesmo prevendo uma forte expansão no Terceiro Mundo o fosso apenas diminuirá em 2%, isto é, em 100 utilizadores , 10 estarão no sul e 90 no norte.

Segundo o mesmo Instituto, a Internet poderia aproximar o norte do sul e até democratizar as comunicações internacionais e ser um estímulo a novas formas de comércio. Porém o que está a acontecer é o contrário, fazendo aumentar o fosso. Basta pensar que sendo nos países do sul que se concentra a imensa maioria da população destes têm apenas 25% das linhas telefónicas ; que nestes países o custo de acesso à Internet e o custo do PC é muito mais elevado que na Europa ou nos EUA.

O a propósito do tema tem a ver com as declarações "preocupadas" dos dirigentes das grandes potências mundiais quanto aos efeitos da globalização. Conhecem bem os monstros e as monstruosidades que ela gera. Por isso tentam sacudir a água do capote e colocar-se à margem do que eles próprios ajudaram a criar e a fomentar. O capitalismo gera desigualdades brutais que a globalização tornou ainda mais gritantes. São os dirigentes dos EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Itália e UE que com a sua política contribuem para que os pobres do planeta se tornem mais pobres e que as transnacionais e multibilionários se tornam imensamente mais ricos e poderosos. O tão propagado acesso à Internet é um exemplo acabado da gritante desigualdade que marca os tempos actuais. A procura de convergências entre Clinton e a Internacional Socialista visa fazer crer ao mundo que as desigualdades são naturais: e que resultam de factos colaterais como o acesso à Internet , pretendendo ocultar o sistema político-económico capitalista como o único responsável por tão grandes monstruosidades.


«Avante!» Nº 1357 - 2.Dezembro.1999