9º Congresso da
CGTP-IN
Prestígio
internacional
tem firmes fundamentos
Depoimento de Florival Lança, membro da Comissão Executiva da CGTP-IN
«Avante!»:
Quais os principais problemas e desafios que a globalização da economia, num contexto claramente desfavorável aos interesses dos trabalhadores, coloca à CGTP?
Florival
Lança:
Os problemas mais visíveis, ou imediatos, nos
planos social e laboral, são os que resultam da grande ofensiva
desregulamentadora, flexibilizadora e precarizante, visando
eliminar direitos conquistados por gerações inteiras de
trabalhadores. Mas há também problemas de ordem económica e
ideológica que não podem ser subestimados.
A ofensiva do capital assenta predominantemente na propaganda da
«identidade» de interesses entre exploradores e explorados e na
tese da empresa como espaço de conciliação de classes.
Através da afirmação de que existe «Estado a mais»,
pretende-se atacar o sector público e pôr em causa os direitos
sociais. Com a afirmação de que os direitos e conquistas dos
trabalhadores são obstáculos à competitividade e viabilidade
das empresas, pretende-se justificar a flexibilidade e
desregulamentação das condições de trabalho. Com a promoção
de valores como o individualismo e o «salve-se quem puder»,
pretende-se pôr em causa a solidariedade humana e a necessidade
da luta e da acção colectivas. Atacando os sindicatos como algo
do passado e sem utilidade, pretende-se também promover o
fatalismo no seio dos trabalhadores e o compromisso face ao
modelo económico e social predominante.
Cada dia e cada facto demonstram que este é um sistema injusto,
que o capitalismo não é solução definitiva para os problemas
da humanidade. Pelo contrário, a luta dos trabalhadores e das
forças democráticas e progressistas fará irromper,
inevitavelmente, novos movimentos de transformação social, em
que os valores do socialismo se afirmarão como ideal dos povos,
enquanto síntese das liberdades individuais e colectivas,
conjugadas com a democracia pluralista e o desenvolvimento
económico, ao serviço das necessidades materiais e espirituais
do ser humano.
Quanto aos desafios, eles são enormes mas, no imediato, é
urgente conseguir a indispensável unidade de acção de todo o
movimento sindical internacional, no sentido de impor um quadro
regulador no comércio internacional, capaz de reconhecer ao
trabalho a centralidade que este efectivamente tem na sociedade
actual e do futuro.
Como avalias a intervenção da CGTP nas diversas estruturas internacionais em que participa?
Ao longo dos
seus 29 anos de existência, a CGTP-IN adquiriu e consolidou um
significativo capital de prestígio, no plano internacional que,
afirmamos sem falsas modéstias, vai muito para além do que
seria de esperar de uma organização proveniente de um pequeno
País.
Uma primeira explicação para este facto, encontramo-la, sem
qualquer dúvida, na natureza, princípios e prática da CGTP-IN,
um todo coerente que se afirma em todos os espaços, seja no
nosso País, seja no exterior.
Em segundo lugar, o facto de desenvolvermos a nossa acção
internacional tendo em conta prioridades bem definidas (visto
não podermos «ir a todas», dado existirem limites e
condicionantes materiais concretos), ligadas aos interesses dos
trabalhadores que representamos e à sua perspectiva
internacionalista, confere à nossa acção um sentido útil, de
ligação aos problemas, o que é, geralmente, um posicionamento
facilitador de convergências e de unidade, num espaço tão
complexo como é o do movimento sindical internacional.
Em terceiro lugar, a CGTP-IN possui um conjunto significativo de
quadros que, em todos os níveis da estrutura e em todas as
áreas de acção sindical concreta, sempre que chamados a
intervir, têm contribuído para aumentar o prestígio da
central, dando desta a imagem duma organização profundamente
enraizada nos locais de trabalho, com ligação aos trabalhadores
e aos seus problemas, preocupada com a sua resolução sem, ao
mesmo tempo, perder o Norte quanto à sua origem profunda e
afirmando-a descomplexadamente.
São todos estes quadros que materializam as orientações
defendidas pelos órgãos da CGTP-IN em seminários e
conferências, comités e grupos de trabalho da CES, nas
conferências da OIT, na cooperação e em todos os espaços onde
se debatam os problemas concretos dos trabalhadores.
É a partir deste conjunto de apreciações que os órgãos da
CGTP-IN avaliam como globalmente positiva a intervenção
desenvolvida no plano internacional, quer pelos seus sindicatos,
federações ou uniões, quer pelos inúmeros quadros dirigentes
ou técnicos que, em representação directa da central, a
asseguram e afirmam autonomamente, na medida em que esta se rege
pelos mesmos princípios que orientam a sua acção no plano
nacional.
É, de resto, significativo que um elevado número de
organizações sindicais internacionais (73 à data em que
escrevo), provenientes dos vários continentes, com distintas
orientações sindicais, políticas ou religiosas, tenham
respondido positivamente ao nosso convite, quer para participarem
na Conferência Internacional sobre «Políticas de Emprego num
Mundo Global», dia 9 de Dezembro, bem como para assistirem aos
trabalhos do nosso 9.º Congresso, a 10 e 11.
Mas este é um processo em constante movimento, pelo que é
entretanto necessário um mais activo empenhamento da CGTP-IN, no
quadro do movimento sindical mundial, para, em conjunto com
outras organizações europeias e mundiais, trabalhar no
objectivo de criar um maior equilíbrio, intervenção e luta do
movimento sindical mundial, reforçando as posições dos que
defendem o fim da exploração do homem pelo homem.