São muitos os
casos irregulares
Multinacionais
fazem baixas
A deputada Fátima Amaral levou ao parlamento as preocupações do PCP sobre os casos recentes da Adtranz Portugal (ex-Sorefame) e da Ford Azambuja, cuja reestruturação se traduz em graves prejuízos para os trabalhadores e para os interesses do país.
A deputada,
intervindo na passada quinta-feira, lembrou que o Estado tem
canalizado muitos milhões de contos para investimentos em
empresas privadas, atribuindo-lhes em simultâneo benesses
fiscais que lhes permitem acumular lucros fabulosos. No entanto,
sem observarem qualquer tipo de compromissos, as empresas
encerram lançando os trabalhadores na precariedade e no
desemprego.
É esta a situação da Ford-Azambuja, que depois de 40
anos de laboração decidiu vender a fábrica à Opel, sem antes
negociar qualquer plano social com os representantes dos cerca de
300 trabalhadores. Por seu lado, o Governo não tomou qualquer
posição para garantir que não haverá prejuízos para todos os
trabalhadores, incluindo os das empresas que prestavam serviços
à Ford.
O conflito gerado pela multinacional Adtranz mereceu
igualmente a denúncia e indignação da bancada comunista.
Depois de ter passado por diversas etapas de desmantelamento, a
ex-Sorefame foi comprada a preço de saldo pela multinacional
ABB, já com o passivo devidamente limpo pelo Governo através do
IPE. Começou logo a desviar para outros países a sua tecnologia
e produção e agora projecta uma reestruturação que fecha a
fábrica na Amadora para uma aparente fusão na de Sines.
Mas o que na realidade a empresa pretende «através de uma
operação especulativa imobiliária, é vender o terreno,
esperando, para isso, conseguir que haja alterações ao PDM»,
denunciou Fátima Amaral, alertando para os 1500 postos de
trabalho que ali existem para além das graves repercussões na
microeconomia do concelho, que nos últimos perdeu já cerca de
15 mil postos de trabalho.
Recordando que a multinacional teve direitos a fundos estruturais
e só através do PEDIP recebeu cerca de seis milhões de contos,
a deputada considerou que «o Governo não pode lavar as mãos
como Pilatos».
A sua intervenção fez ainda referência ao drama em que vivem
há mais de uma década os 500 trabalhadores das Mundet,
que resistiram durante cinco anos com salários em atraso até
que, em Julho de 1993, foi declarada a falência. Despedidos,
não receberam até hoje «nem um tostão».
Os processos judiciais arrastam-se desde 1992, tendo-se já
efectuado vendas de património, mas nada reverteu para os
trabalhadores, muitos dos quais com idades avançadas se
encontram no limiar da pobreza. A deputada exigiu que a acção
judicial seja acelerada.
Despedimento
colectivo
Também na
sequência de um processo de restruturação, o gigante do sector
químico Sanofi/Synthelabo, nascido recentemente
em resultado da fusão de dois grande grupos de empresas de
origem francesa com dimensão mundial, apresentou um processo de
despedimento colectivo de 45 trabalhadores.
Em requerimento apresentado por Vicente Merendas, o PCP considera
que se trata de «uma atitude inadmissível» da multinacional
farmacêutica, que em 1998 atingiu um montante de vendas superior
a 153 milhões de contos e goza de uma invejável situação
financeira.
Vicente Merendas afirma que «não existe nenhuma razão
económica, nem qualquer outra que fundamente o processo de
despedimento», notando inclusivamente que a empresa está a
fazer admissões para ocupar o lugar dos trabalhadores despedidos
e pergunta qual tem sido neste caso a intervenção do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade para fazer respeitar a
legislação nacional.