Itália
Liga do
Norte
marcha sobre Roma
«Roma, ladra» e «liberdade para a Padania» foram as palavras de ordem mais gritadas por milhares de italianos do Norte do país que domingo se manifestaram em Roma . Os manifestantes (cerca de 50 mil, segundo os organizadores) concentraram-se na Piazza del Popolo, onde discursou Umberto Bossi, dirigente da Liga separatista, que desta vez proferiu um discurso mais «moderado», exigindo um Parlamento «à escocesa» para o Norte de Itália e outro para o Sul.
A iniciativa, que os
sectores mais radicais da Liga do Norte designaram de «marcha
sobre Roma», numa evocação da marcha sobre a capital
organizada em 1922 pelos fascistas, realizou-se sem incidentes,
apesar da agressividade das palavras de ordem.
Bossi, por seu turno, classificou a marcha como o primeiro passo
de uma grande campanha para a recolha de assinaturas para exigir
a realização de um referendo constitucional sobre o Parlamento
do Norte. «Apresentámos um projecto de lei constitucional e de
um referendo constituinte para instituir o Parlamento padano»,
disse Bossi, para quem a iniciativa se destina a permitir que
«seja o povo a obter o que o Parlamento (de Roma) não lhe pode
dar».
O projecto de lei foi entregue na sede da presidência italiana
por cinco membros da Liga, que no entanto não conseguiram ser
recebidos pelo chefe de Estado, Carlo Azeglio Ciampi. O mesmo
sucedeu no Senado e na Câmara dos Deputados, cujos presidentes,
Nicola Mancino e Luciano Violante, classificaram a marcha contra
Roma como uma «ofensa ao Estado» e à cidade.
Na sua intervenção, Bossi anunciou que não apoiará o governo
DAlema, cuja crise parece iminente. «Se cair, que caia e
se convoquem eleições», afirmou Bossi, que anunciou que a Liga
também não está disposta a dar o seu apoio político a outras
forças, a menos que as suas principais reivindicações sejam
satisfeitas.
A marcha foi criticada tanto à esquerda como à direita do
espectro político italiano. A Alianza nacional, de Gianfranco
Fini, de direita, qualificou a iniciativa de «desfile
carnavalesco fora de época».
Nas legislativas de 1996, a Liga do Norte obteve 10 por cento dos
votos, com um pico de 30 por cento em Veneza, dispondo de 49
deputados e 21 senadores. Nas últimas eleições europeias, no
entanto, desceu significativamente, não indo além de 4,5 por
cento. Desde então aposta na radicalização do discurso
político, nomeadamente na vertente xenófoba, acusando o poder
central de «exploração colonial» e de passividade face à
infiltração de mafiosos, criminosos e emigrantes clandestinos.