Unidade e
confiança no 9.º Congresso da CGTP-IN
Orientações
novas
princípios firmes
Depois de uma discussão «viva e produtiva» sobre os problemas do mundo do trabalho e as orientações para a acção nos próximos 4 anos, «o nosso movimento sindical aparece no Congresso mais coeso e unido», para desencanto de alguns que não puderam vislumbrar «divergências acentuadas ou grandes conflitos».
A «notícia» da
reunião magna da CGTP-IN não pode deixar de ter por base esta
síntese, com que Carvalho da Silva iniciou a sua intervenção
de encerramento no 9.º Congresso da CGTP-IN, ao princípio da
noite de sábado. A coesão e unidade, salientou o ex-coordenador
da central, falando em nome do Conselho Nacional eleito em
cuja primeira reunião, hoje, serão eleitos a Comissão
Executiva, o Secretariado e o secretário-geral, nova
designação adoptada para o cargo ocupado por Carvalho da Silva
tiveram por base o facto de que «as orientações para a
nossa acção foram profundamente discutidas, em todo o período
preparatório do congresso, deram origem a debates acesos e
correspondem, em muitos casos, a novas formulações e análises,
mais ajustadas à realidade do mundo em mudança».
As «novidades» deste congresso que reuniu, nos dias 10 e
11, na antiga FIL, 971 delegados de 181 organizações sindicais
andam, assim, a par da reafirmação dos grandes
princípios e das principais teses que têm norteado a
intervenção da CGTP. Carvalho da Silva sublinhou, por exemplo,
que «reafirmámos a centralidade do trabalho na sociedade do
presente e do futuro, tema que só agora começa a ter o devido
relevo na opinião pública» e ao qual a Intersindical Nacional
tem dado especial importância, patente até no lema do
congresso: «Valorizar o trabalho, dignificar os trabalhadores».
Os resultados da acção da central e do movimento sindical
unitário foram especialmente valorizados por Carvalho da Silva
na abertura do congresso, sobretudo por ocorrerem num momento em
que «a globalização económica e financeira e o rápido
desenvolvimento das novas tecnologias têm servido,
essencialmente, para aumentar o domínio do poder económico e
têm sido utilizados, quantas vezes, como pretexto para o
patronato justificar as políticas de desregulamentação, de
privatização e de ataques aos direitos sociais».
Ao apresentar ao congresso o Relatório de Actividades da
direcção eleita em Junho de 1996, Carvalho da Silva teceu
fortes e fundamentadas críticas à política do Governo PS,
designadamente em áreas como a concertação social, a lei das
40 horas e o pacote laboral, a Segurança Social,
apontando a distância entre os gravosos objectivos iniciais do
Governo e do patronato e a actual situação daqueles processos.
«Os resultados alcançados são fruto do trabalho e da
capacidade de todos os que compõem este magnífico colectivo que
é a CGTP-IN; são fruto da justeza das decisões que tomámos a
cada momento, muitas vezes depois de debates acalorados, mas
cujas conclusões foram sempre assumidas colectivamente; são
fruto da diversidade e da riqueza de pensamento e acção de
todas as sensibilidades que coabitam no nosso movimento sindical
e nos permitem ver mais claro e chegar mais longe na nossa
influência, enquanto força social organizada mais
representativa da sociedade portuguesa», disse o dirigente da Inter,
que igualmente valorizou «a nossa capacidade de luta
reivindicativa», considerando-a «sempre determinante para a
obtenção dos nossos objectivos».
Acção futura
«Uma intensa
actividade de esclarecimento e de luta» é o que o movimento
sindical «vai ter de desenvolver» nos próximos meses, apelou
Carvalho da Silva, na intervenção que encerrou o congresso e na
qual apontou as principais orientações adoptadas para o mandato
de 4 anos confiado aos 135 membros do Conselho Nacional da CGTP e
explanadas no Programa de Acção, na Plataforma Reivindicativa e
nas resoluções sobre emprego, reforma fiscal e papel do Estado.
Os próximos meses indicam o período de Janeiro a Junho,
em que Portugal vai exercer a Presidência da União Europeia e
durante o qual o movimento sindical irá exigir «medidas
concretas e necessárias» para dar corpo ao lema do congresso e
à palavra de ordem das acções que a Confederação Europeia de
Sindicatos está a preparar.
Na agenda da CGTP para o primeiro semestre do ano 2000 estão já
inscritas, em lugar de destaque, uma grande iniciativa de massas
«Pelo emprego, pela qualidade de emprego, contra a
precariedade» e a acção europeia, marcada pela CES para o
início de Junho.
Uma particular atenção vai ser dada pela Inter ao
fortalecimento da sua estrutura. «Vamos rejuvenescer o movimento
sindical, vamos reafirmar a nossa característica de movimento de
massas, vamos reforçar a nossa independência, o nosso carácter
unitário, factores importantes para alargar a unidade na
acção». Carvalho da Silva realçou o objectivo definido pelo
congresso, de, nos próximos 4 anos, inscrever nos sindicatos da
CGTP mais 200 mil trabalhadores e eleger mais 4 mil delegados
sindicais.
Nas reivindicações imediatas, o dirigente sindical salientou
que «vamos bater-nos pelo aumento de salários de 6 por cento,
assegurando que nenhum trabalhador tenha um aumento inferior a 5
contos, pela semana das 35 horas, contra as formas de
precariedade do trabalho, pelo aumento mínimo de 3 mil escudos
nas pensões mínimas dos trabalhadores do regime geral com mais
de 15 anos de carreira contributiva, pela actualização das
comparticipações do Estado, pelo direito à reforma completa
com uma carreira contributiva de 40 anos».
Entre as matérias que vão ser colocadas pela CGTP na ordem do
dia, Carvalho da Silva referiu ainda a defesa do sistema de
Segurança Social (classificando como inaceitável a proposta de
Lei de Bases apresentada pelo Governo e que pretende introduzir a
selectividade), a reforma fiscal (que não pode continuar
eternamente adiada), a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
Chamou a atenção para o combate em defesa da negociação
colectiva e contra a desregulamentação, «para melhorar a
situação dos trabalhadores portugueses, porque esse é o nosso
objectivo permanente».
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Preocupação
face a áreas fundamentais
O
Governo terá
«o mesmo combate»
Rever a legislação laboral sobre contratação colectiva, férias e serviços mínimos durante a greve, tal como continuar as privatizações, enfraquecer o direito à Segurança Social, conter os salários, agravar as desigualdades e manter as injustiças fiscais são intenções do actual Governo que merecerão «redobrada atenção» da CGTP e «o mesmo combate» que foi travado durante a anterior legislatura.
O aviso consta da
Plataforma Reivindicativa, aprovada por unanimidade e aclamação
na tarde de sábado, e que declara o ano 2000 como «o ano da
luta pela melhoria dos salários e pelo combate à precariedade
de emprego». No documento é fixada a meta de sindicalizar, nos
próximos 4 anos, mais 200 mil trabalhadores e eleger mais 4 mil
delegados sindicais, uma vez que «o reforço da organização
sindical é decisivo para alcançar os objectivos da plataforma
reivindicativa».
Ao longo de nove pontos, são enumeradas na Plataforma
Reivindicatia as «medidas mais urgentes» reclamadas pelo
congresso e referidas no encerramento por Carvalho da Silva
(notícia na página anterior).
Na Plataforma Reivindicativa consta ainda um vasto programa de acções
de luta, com especial incidência nos primeiros meses do
próximo ano, em que a Inter comemora 30 anos. Durante o
primeiro trimestre, altura em que se realizará em Lisboa a
Cimeira Europeia extraordinária sobre Emprego, a CGTP deverá
promover «uma grande iniciativa de massas "Pelo emprego,
pela qualidade de emprego, contra a precariedade"».
Simultaneamente, empenhar-se-á na concretização da acção
europeia convocada para o início de Junho pela Confederação
Europeia de Sindicatos.
Na agenda da central constam ainda uma conferência «Por um
sistema de saúde centrado nos cidadãos», uma acção nacional
em defesa de serviços públicos com qualidade, a Marcha Mundial
das mulheres contra a pobreza e «as acções de luta
necessárias» contra a selectividade e os tectos contributivos
na Segurança Social.
Expressando «a grande confiança dos trabalhadores portugueses
no futuro, na certeza de que vamos conseguir valorizar o trabalho
e dignificar o trabalhador no novo milénio», o congresso apela
ao «desenvolvimento de uma grande dinâmica reivindicativa a
partir dos locais de trabalho e em torno dos problemas concretos,
com o máximo envolvimento e participação dos trabalhadores,
condição indispensável para a concretização dos objectivos
traçados».
Jerónimo de Sousa O 9.º
Congresso da CGTP «constituiu um grande acontecimento
nacional no plano político-sindical», salientou
Jerónimo de Sousa, da Comissão Política do PCP. Em
depoimento ao «Avante!», o dirigente comunista, que
chefiou a delegação do Partido no congresso, afirmou
que, «pela forma como decorreram os trabalhos
preparatórios, pelo grau de envolvimento dos dirigentes
e activistas sindicais, antes e durante o congresso,
pelos conteúdos programáticos e resolutivos,
confirmou-se estarmos perante uma central sindical
unitária, democrática, independente, de massas e de
classe». |
Solidariedade
internacional
contra ofensiva global
A globalização dos mercados financeiros e
a liberdade de circulação de capitais foi, inevitavelmente, um
dos temas abordados pelo congresso. Florival Lança, membro da
Comissão Executiva da CGTP-IN, defendeu que, para alcançar uma
resposta articulada à altura da ofensiva global, há que
destacar os interesses comuns dos sindicalistas.
«A humanidade dispõe hoje de recursos e potencialidades que
permitiriam liquidar a fome e a miséria e proporcionar o bem
estar à escala mundial, assegurar o pleno emprego e satisfazer
todas as necessidades básicas e os direitos sociais e culturais.
Contudo, assiste-se a uma ofensiva do capital para restaurar as
relações laborais do século passado, ao aumento do desemprego,
à exclusão social, à marginalidade, à crescente injustiça da
distribuição da riqueza e dos rendimentos», afirmou Florival
Lança.
Para o dirigente da CGTP, «é urgente que a partir das várias
componentes do movimento sindical internacional se ultrapassem
divergências desactualizadas e se caminhe para uma unidade na
acção que permita uma resposta articulada».
Florival Lança aponta um caminho: a cooperação, a
convergência e a unidade do movimento sindical internacional, no
respeito pelo pluralismo ideológico, político e cultural de
cada uma das suas componentes.
A intervenção de Coen Damen, representante do director-geral da
Organização Internacional do Trabalho, sublinhou esta proposta,
considerando que os direitos dos trabalhadores, a criação de
emprego, a protecção social e o diálogo social constituem os
ingredientes básicos de uma «arquitectura de segurança
humana» e que são «absolutamente necessários para um sentido
mínimo de estabilidade para as sociedades do futuro».
Ainda na área internacional, os participantes no congresso
aprovaram por maioria, com cinco abstenções, uma moção
exigindo o fim do bloqueio económico dos EUA a Cuba e o imediato
repatriamento de Elian Gonzalez, a única sobrevivente do
naufrágio de uma balsa que rumou para Miami no final de Novembro
e que permanece em poder das autoridades norte-americanas apesar
do pai e da restante família pedirem o seu regresso.
«Deve ser o povo cubano a decidir o seu destino e não as
pressões externas e os bloqueios», lê-se no documento.
Estas e outras questões foram também discutidas na conferência
internacional sobre «Políticas de Emprego num Mundo Global»,
promovido pela central sindical na quinta-feira e que contou com
a presença de 73 organizações sindicais de todo o mundo e de
especialistas nacionais e estrangeiros.