Comunistas
recusam discurso catastrofista na Saúde
Limpar
dívidas e racionalizar o SNS
A proposta de Orçamento Rectificativo foi aprovado na passada quinta-feira, na generalidade, com os votos favoráveis do PS e contra do PSD, PP e do Partido Ecologista «Os Verdes». O PCP e os dois deputados do Bloco de Esquerda abstiveram-se. No mesmo dia, a bancada comunista apresentou um projecto de lei para reduzir gastos na saúde e introduzir medicamentos genéricos.
Apesar da
abstenção da bancada comunista, o PCP fez duras críticas à
política de saúde desenvolvida nos últimos quatro anos, a
grande responsável pela necessidade de alterar o orçamento
deste ano.
Como referiu Octávio Teixeira a «degradação financeira»
decorre da «falta de capacidade e vontade» do Governo para
«enfrentar os poderosos grupos de interesses que continuam a
dominar o sector da saúde no nosso País».
O presidente do Grupo Parlamentar do PCP recordou as várias
propostas que a sua bancada apresentou para o sector da saúde,
as quais, com excepção do projecto referente às listas de
espera (que aliás não está a ser cumprido ou o é de forma
muito insuficiente), foram pura e simplesmente recusados pelo
Governo e rejeitados pelo grupo parlamentar do PS.
Por outro lado, face à situação de descontrolo reconhecida
pelo próprio PS, o deputado considerou «politicamente
inaceitável» o discurso catastrofista em relação ao SNS, o
qual só pode servir os interesses dos que pugnam pela sua
privatização.
Quanto ao conteúdo estrito da alteração orçamental, Octávio
Teixeira manifestou a discordância da sua bancada com a
transição de parte da dívida para o próximo ano: «se o
Governo quer um virar de página, a transparência nas contas e o
fim do sub-financiamento crónico e voluntário do SNS», então
«não nos propor nem deixar que transitem para o próximo ano
41,4 milhões de contos de dívidas do passado. Se é para mudar
de vida, então exige-se que não deixem rabos de palha
para trás».
O PCP entende que é necessário «erradicar da prática
orçamental os sub-financiamentos crónicos e exigir que as
alterações que a execução orçamental torne necessárias se
façam no mesmo ano. E essa será, pela parte do PCP, uma
questão central a ter em conta no Orçamento de Estado já para
o próximo ano, bem assim como um acompanhamento parlamentar
rigoroso e regular da execução orçamental do SNS ao longo de
todo o ano».
Genéricos
para
reduzir gastos
No mesmo dia,
quinta-feira, o PCP apresentou na Assembleia um «Programa de
redução dos gastos com medicamentos», onde se incluem diversas
medidas de comprovada eficácia na redução e racionalização
dos gastos com medicamentos, quer do SNS quer dos utentes.
O projecto visa «a prescrição médica em todo o Serviço
Nacional de Saúde por substância activa, nome genérico ou
denominação comum internacional, e a implantação de um
Formulário Nacional de Medicamentos, acompanhada pelo
desenvolvimento do mercado de genéricos e da função de
farmácia no âmbito do SNS».
Prevê ainda acabar com os casos em que o custo da
comparticipação pelo Estado de medicamentos é superior ao que
se gastaria com a compra directa e dispensa gratuita nos
próprios estabelecimentos do SNS. Neste sentido, os comunistas
defendem que a distribuição gratuita destes fármacos, pós
prescrição no SNS, afirmando que a medida permite com ganhos
substanciais tanto para o SNS como para os utentes.
Os ganhos obtidos com a aplicação das diversas medidas deste
programa devem ser directamente aplicados no aumento da
comparticipação de medicamentos essenciais por parte do Estado.
Os comunistas consideram que é possível evitar as sucessivas
derrapagens orçamentais e o aumento da despesa com medicamentos,
as quais não se traduziram em qualquer ganho para a população,
mas tão só em fabulosas margens de lucro para os interesses
privados.