Libertem
ELIAN !


O recente sequestro de uma criança cubana pelo governo dos EUA, após o dramático naufrágio que sofreu e em que perdeu a sua própria mãe - trágica consequência dum caso de emigração ilegal, estimulada aliás pelos próprios EUA ao arrepio dos acordos migratórios assinados entre os dois países - testemunha bem o ódio do imperialismo à revolução cubana e a essência profundamente desumana do capitalismo.

A "inaceitável utilização do drama de uma criança, como arma de arremesso político" (como considera o texto do Voto de Protesto apresentado pelo grupo parlamentar do PCP na AR e que deverá ser hoje votado) evidencia, mais uma vez, que o tão propalado apego da administração norte-americana aos direitos humanos não passa de pura propaganda. É, antes, pretexto para a ingerência nas questões internas de outros Estados. Outorgando-se o direito de julgar (e condenar) as opções e percursos de povos e países, os EUA mantêm há longos anos o bloqueio a Cuba, invocando, como justificação, a falta de democracia. Procuram convencer todo o mundo que assim é e arrastam nesta apreciação os seus aliados. Foi com este objectivo que Madeleine Albright, aproveitando a realização em Havana da IX Cimeira Ibero-Americana "aconselhou" descaradamente os governantes que nela participaram que aí contactassem os opositores ao regime. Porque para os EUA todas as ocasiões servem para a ingerência norte-americana em Cuba. Apesar do reduzido eco de tal "pedido", ele foi seguido pelos representantes de Portugal. Passados poucos dias, Guterres , após encontrar-se com Clinton em Istambul e Florença, considera que o embargo "dá pretexto a Fidel para não fazer reformas" (DN 21.11.99) . Ficámos assim a saber que Guterres não condena o bloqueio por ele ser ilegal, injusto e desumano, mas porque dificultaria a concretização das tão desejadas "reformas".

O imperialismo não atingiu, de facto, com o reforço do bloqueio, após o desmembramento da URSS, isolar e subjugar Cuba - o seu objectivo. Cuba resistiu. Reforçou-se como nação soberana e independente e prestigiou-se no plano internacional. Restruturou o seu aparelho produtivo, reorientou relações comerciais, reintroduziu métodos de produção agrícola, abriu-se ao turismo, alargou as suas relações no plano político. A criatividade e a prontidão na busca de soluções foram possíveis pelo elevado nível cultural da população que a revolução possibilitou e garantiu. Mas, fundamentalmente, pela efectiva participação das massas na análise da situação e na tomada de decisões. A democracia participativa e a solidariedade reforçaram-se no "período especial". Foram o motor da resistência dos trabalhadores e do povo às privações e aos desastres naturais que, infelizmente, também tiveram lugar. O PCC cresceu e fortaleceu-se como força de vanguarda, intimamente ligada à vida das populações, defendendo a unidade do povo em defesa dos interesses da nação. A democracia representativa alargou-se com a reforma constitucional e consolidou-se com o amplo e participado processo de apresentação dos candidatos. As organizações de massas contribuem com os seus objectivos sectoriais na defesa das conquistas da revolução. Se a recuperação económica em Cuba é hoje possível é porque a democracia existe e funciona, ao contrário do que apregoam os seus delatores.

Democracia e direitos humanos são duas importantes vertentes da luta ideológica na actualidade. Mistificação e desinformação permitem que os EUA escamoteiem as deformações e limitações da sua democracia formal, a exploração que se intensifica e as injustiças e desigualdades que crescem no mundo do capitalismo. Só uma enorme desfaçatez e muita hipocrisia permitem aos EUA invocar a democracia e os direitos humanos para encobrir os seus propósitos de rapina e agressão. — Manuela Bernardino


«Avante!» Nº 1359 - 16.Dezembro.1999