Nova
receita para a especulação crescer
Segurança
Social
promove imobiliário
Nos processos
de recuperação de empresas têxteis do Norte, os representantes
da Segurança Social apresentam propostas de «viabilização»
que conduzem ao aniquilamento de importantes unidades
industriais, ao aumento do desemprego e ao fomento dos negócios
imobiliários.
A situação na Lionesa,
com 200 trabalhadores, e nas empresas do Grupo Luís Correia,
com cerca de 500, tem sido acompanhada pela Fesete/CGTP-IN, que
fala mesmo em «negociatas desenvolvidas nas últimas semanas
entre responsáveis do Instituto de Gestão Financeira da
Segurança Social e grupos com interesses imobiliários». Nestes
negócios «tudo indica estar o próprio BPI envolvido», diz a
Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis,
Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal, num
comunicado que distribuiu após a assembleia de credores da
Lionesa, que teve lugar sexta-feira em Vila Nova de Gaia.
Os deputados comunistas Agostinho Lopes e Honório Novo
apresentaram anteontem três requerimentos na Assembleia da
República sobre estes problemas:
A situação
na Lionesa e no Grupo Luís Correia levou Agostinho Lopes
e Honório Novo, deputados do PCP eleitos pelos distritos
de Braga e do Porto (onde aquelas empresas estão
sediadas), a apresentarem anteontem três requerimentos
na Assembleia da República, solicitando informações e
esclarecimentos por parte dos ministérios da Economia e
do Trabalho, bem como do IAPMEI. |
Amarga
prenda
A proposta da
Segurança Social para a Lionesa fica a aguardar, durante dez
dias, a votação por escrito do banco BPI, que representa quase
34 por cento dos créditos. De qualquer forma, a
«viabilização» que ficou desenhada no tribunal representa
para os trabalhadores uma «prenda de Natal amarga», uma vez que
a opção é entre a falência, por não serem aceites os
projectos de recuperação da empresa, e «uma viabilidade
precária», caso o BPI decida apoiar a proposta da Segurança
Social (que detém cerca de 44 por cento dos créditos da
Lionesa).
Os dois maiores credores rejeitaram as outras propostas de
viabilização apresentadas na assembleia de dia 17, uma em nome
dos trabalhadores, outra da firma Jotabe.
Os responsáveis do Instituto de Gestão Financeira da Segurança
Social propõem que a Lionesa dê lugar a duas empresas: uma
sociedade imobiliária, que ficará com o património imóvel,
avaliado em cerca de um milhão e duzentos mil contos, e que
deverá ser vendido para pagar aos credores; e uma sociedade
industrial, sem património imobiliário, que deverá, num prazo
máximo de dois anos, abandonar as instalações actuais.
«Antes do início da assembleia de credores, à porta fechada,
BPI e Segurança Social discutiam apenas o montante e a ordem de
prioridade do recebimento dos seus créditos, quando for vendido
o imóvel da Lionesa», denunciou a federação, recordando que
os 200 trabalhadores «durante 5 anos não sentiram o sabor de um
subsídio de férias e de Natal, sendo agora
"premiados" com o desemprego, os salários em atraso ou
a perda do posto de trabalho» num prazo não muito distante.
No princípio de Dezembro, a Fesete tinha alertado para os graves
perigos desta «viabilização inédita, mas algo
maquiavélica», que «parece ser uma nova receita da Segurança
Social par as empresas com processos de recuperação, a qual
pode ser muito útil aos especuladores imobiliários, em
detrimento da aplicação dos valiosos patrimónios no
relançamento da actividade produtiva, numa viabilização
sustentada».
A previsão confirmou-se no Tribunal de Felgueiras, no dia 13,
quando teve lugar a assembleia de credores da Têxtil Luís
Correia (à qual se seguiram as assembleias de credores da Luzcor
e da Luzmonte, empresas do mesmo grupo, no Tribunal de
Guimarães). Também para o Grupo Luís Correia a Segurança
Social propõe a divisão em sociedades industriais e
imobiliárias, afirmando os representantes do IGFSS que tal
proposta seria levada «até às últimas consequências, mesmo
que acarretasse a falência».
Esta posição torna-se ainda mais chocante, como disse ao
«Avante!» o dirigente da Fesete que acompanha estes casos, por
haver uma empresa têxtil interessada em viabilizar a Luís
Correia e que, em cerca de um ano de participação na gestão,
está a obter resultados animadores. José Fernando adiantou-nos
que, até esta altura, a federação não responsabilizava o
Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, mas
apontava apenas os seus representantes locais. Só que a
distinção deixou de fazer sentido, depois de ficar expressa a
cobertura que os máximos responsáveis do IGFSS dão a este
comportamento.
A proposta da Segurança Social para a Têxtil Luís Correia,
acusa a Fesete, «cria um vazio perigoso para a continuidade
laboral e premeia os interesses imobiliários».
Entretanto, a Peruma Têxteis apresentou um plano que «garante o
nível de emprego e a viabilidade do grupo, dando inclusive mais
garantias à própria Segurança Social», salienta a
federação.
No entanto, apenas um recurso jurídico de emergência impediu
que no dia 13 começasse o fim de um importante grupo têxtil,
que trabalha sobretudo para exportação. A Peruma provocou a
suspensão do processo, apresentando recurso para o IAPMEI, o que
representa um novo prazo de 4 meses para obter um acordo
extra-judicial para a viabilização da Luís Correia.
Foi notada pelos presentes no Tribunal, disse José Fernando, a
indignada reacção do representante de uma imobiliária, que
preferia ter sido logo aprovada a proposta da Segurança Social e
mostrou muito interesse em concretizar rapidamente a compra de
terrenos e edifícios.